Paz Resolvida

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Diego POV

- E é exatamente esse o problema...

Eu nem piscava, acho que até prendi a respiração e olhei nos olhos dele, eu certamente não sabia o que fazer a partir dali, o que era prudente ou minimamente recomendável, mas também não conseguia me mexer. Ele não avançava também,  só me olhava; me sentia um idiota porque apesar de estar a dois palmos dele, olhando-o nos olhos não conseguia entender exatamente a intenção... Era desejo na expressão dele? Era cautela? Era curiosidade? e não me parecia uma curiosidade sexual sabe, era mais intelectual, talvez... por isso era confuso, parecia que ele estava tentando me ler.

Nessa hora a porta abriu de golpe e entraram o Charles e a Tati, ela soltou alguma piadinha, que eu não conseguiria lembrar nem em um milhão de anos porque eu tava ocupado pulando fora do espaço Amaury e resmungando alguma coisa que nem me lembro, pra disfarçar e o Charles deu uma volta pelo camarim com uma cara interrogativa, até parar na frente do Amaury, que tava parado no mesmo lugar...

Olhou ele nos olhos, sorriu e disse:
-Bom dia né gente!

O Amaury o olhou ainda pensativo e respondeu com outro bom dia que eu acompanhei..

-A gente pode conversar sobre se vocês quiserem - o Charles falou e eu achei que tinha ouvido errado.

Eu e Amaury respondemos quase no mesmo segundo:

-Como assim?
-Claro!

Ué gente? Era pra gente falar algo que nem falou entre a gente com o Charles? Tá certo isso?

-Calma Diego, você parece assustado... falar sobre quimica- Charles falou parecendo um professor universitário- Tenho a impressão que vocês tem demais, já aconteceu comigo, vocês precisam usar isso a favor e não contra vocês...

Nessa hora eu puxei o Amaury e o Charles e nós sentamos em dois sofás, nós dois em um e o Charles a frente, fiz sinal pra Tati sentar num banco que tinha junto a penteadeira.

-Tá, fale mais...

-Meu amigão aí, é diretor de teatro e tem mais de trinta anos de estrada. Não é invalidando sua experiência Diego, mas você começou no teatro infantil, e ele já tem bons anos no teatro adulto mesmo.

-Teatro adulto não soa bem- essa foi a primeira vez que Amaury falou no meio de todo esse caos.

-Pelo amor de Deus-  Charles riu exasperado. - Bora cara, você já passou por isso, não já?

-Claro- ele respondeu e suspirando virou pra mim e continuou- As vezes Diego, a gente encontra gente que faz um click com a gente, na vida e na arte. Quando é na vida isso se torna amizade, amor ou sexo.

-Eu sei, não tenho 6 anos, nem sou idiota!

-Quando é na arte, a gente expreme como se fosse fazer um suco, até a última gota de química, tensão e o que quer que exista, ou chegue a existir, pra dar paixão e realismo a arte... por exemplo um escultor que quer muito, desesperadamente estar com uma mulher, mas ao invés disso ele cria uma peça carregada daquele "fazer amor"... aquela arte é inestimável.

-Tá Amaury- falei mesmo porque tava puto- Cê tá dizendo que quer desesperadamente me comer? Aí vai comer o Kelvin?

A Tati deu uma gargalhada. Ele tentou me apaziguar e o Charles riu também, um pouco menos escandaloso que ela.

-Não pera, deixa eu entender... eu chego aqui pra trabalhar, com uma ressaca do cão,  física e moral,  você me faz enfrentar o que quer que eu tenha dito ontem, depois esse aqui chega e vocês decidem expor tudo... e você ainda filosofa pra cima de mim.

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