Nunca Mais

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POV Léia

Quinze dias, não dormi, me alimentei apenas o suficiente pra conseguir continuar amamentando. Fiquei em casa, mas meu pensamento não estava ali, estava na UTI, especificamente na mulher de cabelos loiros que estava lá.

Os dias se arrastavam e eu pedia com todas as forças do meu ser para que ela acordasse voltasse pra casa, pra mim, pra nossas filhas, pra nossa família. A sensação de ter pedido ela no dia que era pra ser um dos mais importantes das nossas vidas, que por causa de uma queda se tornou um pesadelo, era completamente devastadora. A cena de ver ela caída no chão desacordada se repetia na minha cabeça todos os dias, a culpa de não estar conseguindo cuidar das minhas filhas como elas mereciam poderia me matar a qualquer segundo.

Isabella e Julia dormiam tranquilas e na cozinha alguma das meninas estava na cozinha fazendo algo para comer, a essa altura eu já não fazia ideia de quem estava lá, mas sabia que sempre tinha alguém comigo. Esse era o momento que eu deveria aproveitar para dormir ou tomar banho, mas não consigo dormir e me recuso a entrar no banheiro e ser obrigada a encarar meu próprio reflexo no espelho, as olheiras já deviam ter tomado conta do meu rosto. Encostei a cabeça no sofá e me permiti chorar pelo que devia ser a centésima vez naquele dia, apertei os olhos com toda força que ainda tinha no meu corpo e pedi a Deus para que ela acordasse e voltasse pra mim.

Escutei o barulho da porta abrindo e vozes abafadas vindas da sala, eram muitas, mas continuei imovél, sem forças para levantar e ir descobrir o que era. Poucos minutos depois a porta do meu quarto foi aberta.

- Acho que você precisa levantar e tomar um banho. - A voz inconfundível da Caroline preencheu o ambiente. - Agora!

- Vou daqui a 15 minutos. - Continuei com os olhos fechados, mas ainda podia sentir a mulher se mover pelo quarto.

- Vai fazer sua noiva esperar por mais quinze minutos pra te ver? - Meus olhos se arregalaram à medida que meu cérebro processava o que eu tinha acabado de ouvir. - Vai rápido, não acho que você queira que ela te veja assim.

Não consegui encontrar palavras, simplesmente levantei e corri para o banheiro, torcendo para que aquilo não fosse só uma alucinação. Quando sai do banho mais rápido que já tomei na vida encontrei minha roupa pronta em cima da cama.

- Termina de se arrumar, vou te esperar na sala. - Carol se virou em direção a porta.

- Quando? - Pensei em mil coisas pra perguntar, mas essa foi a única coisa que saiu.

- Há umas duas horas, tentaram contato com você, mas seu telefone deve estar descarregado em algum canto dessa bagunça. - O olhar dela era de desaprovação, mas neste momento não importava.

Me vesti o mais rápido que consegui, passei algumas instruções para Thaisa e Sheilla que ficariam com as gêmeas. Quando entrei no carro senti meu coração acelerar como nunca antes, minhas mãos suavam e o frio na minha barriga era o maior sinal do quanto estava nervosa.

- Carol e se ela não se lembrar de mim? - Um nó se formou em minha garganta só de pensar nessa possibilidade.

- Não existe essa possibilidade. - Caroline se mantinha atenta na estrada enquanto tentava me acalmar. - Ela tá de volta, Leinha, ela voltou pra você.

Ela voltou pra mim, minha mulher voltou.

Carol estacionou o carro em frente ao hospital e eu senti que tinha perdido as forças e minhas pernas já não me obedeciam. Senti a mão da Caroline segurar a minha, quando virei meu rosto notei que ela tinha um olhar doce.

- Eu sei que você pediu por isso todos os dias, o momento chegou. - Ela apontou pra recepção do hospital. - Agora você vai poder entrar lá e passar o resto da vida do lado da mulher que você ama.

- Obrigada! - Respirei fundo e finalmente consegui sair do carro.

Me identifiquei na recepção e fui avisada que poderia entrar já que estava em horário de visita, no caminho até o leito fui orientada do estado que iria encontrá-la, o médico dizia que devido a quantidade de dias em coma seu movimentos eram quase nulos e que por conta da intubação sua voz praticamente havia sumido. Nada disso importava pra mim, eu só queria vê-la de olhos abertos de novo.

Parei de frente ao seu leito e quando a porta foi aberta pude ver que não era um sonho, ela estava ali, acordada, e com um esboço de sorriso quando reconheceu minha imagem a sua frente. Graças a alguma força que eu nem sabia que ainda tinha, me aproximei do leito e a abracei com o maior cuidado que podia. Meu coração explodia no peito só de sentir a respiração dela batendo no meu pescoço.

- Eu senti tanto a sua falta. - As lágrimas inundaram meu rosto. - Obrigada por voltar pra mim meu amor.

Me afastei um pouco para poder olhar seu rosto, meus dedos contornavam seus traços, a saudade que eu sentia era muito maior do que tinha imaginado.

- Você é real? - Sua voz era apenas um sussurro e eu só fui capaz de entender por estar olhando atentamente para sua boca.

- Eu sou real, meu amor. - Resolvi responder mesmo sem entender o motivo daquela pergunta.

Ela sorriu e meu peito explodiu de felicidade por estar com ela de novo. Encostei nossas testas e passei algum tempo ali só sentindo a respiração dela.

- Nunca mais eu vou deixar você ficar longe de mim, eu quase morri sem você. - Isso era uma promessa que eu fiz pra mim e pra ela.

MINE • LeroitOnde histórias criam vida. Descubra agora