Maraisa:
Pela noite, após colocar minha bebê para dormir, fui trancar a casa. Minha esposa estava ajeitando nossa cama. Escuto um chorinho de bebê. Sorrio e, como todas as noites, me sento em frente de casa conversando com a Lua.
Percebi que aquele chorinho não parava, mas não tinha ninguém na rua a essa hora com criança. Vou seguindo o som, até que encontro... havia uma bebê jogada no gramado. Estava com pouquíssimas roupas, suja, com fome, com frio. Minha única reação foi pegá-la nos braços e entrar com ela, enrolando meu hobby em seu corpinho e subindo com ela, tentando acalmá-la.
- Amor, você demorou... - Luísa olha a bebê em meus braços. - De quem é essa menina? - Se aproximou.
- Eu... não sei. Não sei. Estava jogada no gramado. Ela está tremendo de frio. Amor... quem será a mãe dessa menina?
- Primeiro, vamos tentar aquecê-la. Vou ajeitar a banheira e fazer uma mamadeira. Parece que está há dias sem comer.
Concordo. Ela pega a banheira do quartinho da nossa filha e um par de roupinha e frauda. Enquanto eu estava sentada na cama olhando aqueles olhos...
- Amor... - Chamo Luísa.
- Oi, querida? - Vem até mim.
Com lágrimas nos olhos e um aperto no peito, digo, comrua a voz trêmula:
- Os olhos...
Imediatamente, tudo que estava em sua mão, caiu no chão. Seu corpo caiu na cama, sentado. Olhou atenta aos olhos daquela bebê que sequer sabíamos de onde veio. Por muito tempo, olhamos ela nos lembrando do passado.
- Não. Coincidência, amor. Esquece isso. Ela dorme aqui essa noite e amanhã procuramos pelos pais.
Concordo. Deve ser besteira da nossa cabeça. Tiro sua roupinha e vejo o quanto ela está magra. Por seu tamanho, julgo que não tenha mais que dois meses. Após seu banho, minha esposa deu sua mamadeira, enquanto eu fui olhar nossa filha.
- Oi, amor... - Digo, a pegando nos braços.
Ela procurou por meu peito, estava com fome. Desci e fiz sua mamadeira. Volto pro quarto e me sento ao lado da minha mulher. Poliana olhou para a menina e soltou a mamadeira.
- Lu... - Puxou meus cabelos.
- Filha! - Tiro sua mãozinha dos meus cabelos. - Termina seu mama, amor.
Me levantei e fiquei de costas pra Luísa. Não queria que Poliana colocasse mais coisas na minha cabeça. Ouço Luísa suspirar pesado. Estava segurando o choro.
- Amanhã vou procurar saber de onde ela veio. Vou pedir uma reunião de condomínio, puxar nas câmeras. Se nada der certo, levaremos ela para o orfanato. Nessa casa, já basta eu, você e a Poli. Não dou conta de ver essa casa com quatro pessoas outra vez. - Digo, fria.
- Mas... e se não acharmos os pais dela? Vamos deixar ela sozinha? Jogada num orfanato? - Sua voz saiu trêmula.
- Luísa, não quero! Eu não quero! Não tenho estruturas pra isso outra vez.
- Amor...
- Luísa Sonza, não me faça discutir com você duas horas da manhã. Essa menina não vai ficar dentro da minha casa e ponto final.