Marília:
Eu estava extremamente cansada. Não durmo há quase uma semana. Aurora está doente, Lian também, e só querem a mim. Minha esposa estava tão atarefada com as audiências que ela só chega e dorme. Não comento nada, e também não peço ajuda pois seria muito ruim da minha parte.
Enquanto eu fazia o jantar, Lian estava no meu colo e Aurora brincava no carpete da sala, aos meus olhos. Tentei por meu filho no carrinho para descansar meus braços, mas não adiantou.
Ouço a porta abrir, mas por estar com a comida quase queimando, não vou ver quem é. Logo, escuto a voz da minha Cor de Mel, e acabo soltando um sorriso. Confesso que estou morrendo de saudade dela. Ela pegou nossa filha no colo e veio até mim, com a menina deitada em seu ombro.
- Oi, Amor. - Disse com voz meiga.
Apenas sorrio. Sinto ela beijando meu pescoço, e todo meu corpo se arrepia. Continuo na correria, sem dar muita atenção pra ela. Lian começou a chorar de fome, então eu abri o sutiã e coloquei o peito em sua boca.
- Amor... que aparência é essa? - Me olha por inteiro.
- Nada, Amor. Eu só estou cansada. Não sabia que você iria chegar cedo. Vou terminar aqui e já subo pra me arrumar. - Digo suspirando.
- Credo! Desde quando mulher minha fica desse jeito? - Diz olhando minhas roupas.
Eu ainda estava de pijama. Não tive tempo nem para tomar banho.
- Desculpa, Maiara! Desculpa, ok? Eu só estou sem tempo. Não consigo nem ir ao banheiro sem que duas crianças estejam penduradas no meu braço. - Digo estressada.
- Calma ae, nervosinha. - Riu.
- Se for pra fazer piadinha, que volte de onde veio. - Digo quase gritando.
- Ei, você vai assustar o Lian.
- Que droga! Eu tô há dias me fodendo sozinha com os dois doentes e você vem com esse papinho?
- Oh, meu amor... - Ela vem até mim. - Não foi isso que eu quis dizer.
Me esquivo e continuo fazendo a janta.
- O que as crianças têm? Por que você não me falou nada? - Diz pegando Lian dos meus braços.
- Talvez porque você sequer se interessou. - Digo grosseira.
- Vai tomar banho e descansar. Quando estiver pronto, eu te chamo. - Seu tom de voz já havia mudado. - Depois a gente vai sentar e ter uma conversa.
Não retruco. Subo e começo a tirar as roupas, me olho no espelho e suspiro. Agora me sinto culpada. Descontei algo que ela não tem nada haver. E sim, ela se interessa. Sempre, antes de dormir, ela beija as crianças e me pergunta como foi o dia, eu não digo porque não quero. Porque me sinto incapaz se disser que as crianças estão doentes e eu não aguento a barra sozinha. Afinal, são meus filhos, se eu não conseguir cuidá-los só, que tipo de mãe eu sou?
"Depois a gente vai sentar e conversar", não sei se isso é bom ou ruim, mas, de qualquer forma, aquilo me deu medo. Lavo meus cabelos e meu corpo. Ao menos quero estar apresentável pra ela. Visto um hobby mesmo, arrumo os cabelos e faço uma maquiagem pra esconder o cansaço. Jogo um perfume e ouço ela me chamar. Desço, vendo ela por nossa comida com Lian nos braços e Aurora sentada na mesa quietinha.
- Mamãe... Aurora quer mamãe. - Diz vindo pro meu colo.
Pego ela e me sento. Assim que sento, acariciando seus cabelinhos ruivos, Lian chora querendo a mim também. Suspiro e peço para que me dê ele também. Ela nega, e eu insisto. Por fim, ela me dá ele.