Jogo do Contente

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- Irmã? Metade, o que houve? - Disse minha irmã, desesperada.

Me atirei em seus braços, chorando como criança. Marília tentava consolar minha esposa, mas ela apenas saiu dali, indo pra algum lugar da casa que eu faço a mínima. Então Marília foi atrás dela.

- Irmã, me conta o que aconteceu? Por que vocês estão assim?

- A Lua... a Lua voltou pra mim, me pediu pra ficar, pra ler seu diário. Abusavam da minha menina, irmã. Eu fui uma mãe de merda que não pude ajudar minha filha e, no fim, a perdi! - Digo com raiva, angústia.

- Não diga isso, irmã. Você não foi uma mãe...

- Fui! Eu não vi os sinais que estavam na minha cara. Ao invés de sentar e conversar sobre as marcas, eu joguei em cima dela todo o peso que estava nas minhas costas. Eu não liguei pra sua dor, e sim pra minha. QUE DROGA DE MÃE EU SOU?

- Carla Maraisa! Deixe de besteiras agora mesmo! - Me repreendeu, pegando em minha mão. - São erros. Nós, humanos, sempre cometemos erros. Uns, irreparáveis.

- Não quero saber! É a minha filha! - Entro em prantos novamente. - A minha filha...

De tanto chorar no colo da minha irmã, acabei dormindo. Agradeci, já não aguentava mais tanta dor. Acabei esquecendo de tudo. Da minha esposa, das bebês, dos problemas, da minha Lua... queria que aquilo, aquele esquecimento, durasse o resto da minha vida.

Luísa:

Andei atrás de um beco escuro, que eu sabia bem onde era. Marília vinha atrás, mas eu não me importei. Consegui despista-la e entrei no beco.

- Da mais forte. - Digo jogando um bolão de dinheiro ali.

- Calma ae riquinha. - Disse o cara, rindo.

- Agora! - Ordeno.

O homem pegou algumas bolinhas e me deu. Guardei no bolso do moletom, coloquei o capuz e sai dali.

- Luísa! - Marília pega em meu braço, ofegante. - Vamos pra casa, agora!

- Não vou. Eu sei me cuidar, Lila. Vai pra casa, cuida das meninas.

Ela me abraçou, mas eu continuei quieta, com as mãos no bolso.

- A Isa precisa de você. Poliana e a bebê precisam de você.

- Mas... - Um nó de forma em minha garganta, grande e doloroso. - E eu? - Digo com os olhos marejados.

- Lu... não.. calma! Eu sei que você também precisa viver essa dor, mas a Isa...

Me soltei dela, passando as mãos pelos cabelos. Nem eu mesma me reconhecia.

- Por que todo mundo fala como se eu não pudesse também precisar de ajuda? É Isa pra cá, Poliana pra lá... e a Luísa? E eu? Onde eu fico? Por que eu sempre tenho que ser o suporte de todo mundo? EU NÃO TENHO UM CORAÇÃO DE FERRO. É A MINHA FILHA TAMBÉM QUE ESTÁ DENTRO DAQUELE CAIXÃO. É O MEU SONHO QUE EU TIVE QUE ENTERRAR! - Me descontrolo.

- Não... eu não disse dessa maneira. Lu, eu sei que também precisa, por isso, me deixa te ajudar.

- Não! Eu não preciso da sua ajuda. Sabe porquê? - Fico cara a cara com ela. - Como todas as vezes, como o dia que eu a vi banhada em sangue naquela banheira, quando ouvi que minha filha já não estava mais aqui, quando senti sua mão gelada na minha antes que eu liberasse para enterra-la... eu sempre me curei sozinha. SEMPRE! E sempre será assim.

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