༻ 𝑇𝑜 𝑚𝑒 ༺

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18 de fevereiro de 1975.

Eu estava com 3 meses de gravidez e, por incrível que pareça, isso não me impedia de fazer as coisas - claro que algumas sim, mas em geral estava tudo bem.

Recentemente Sheffield havia nos mandado para a Rockfield Farm, fazenda que havia um estúdio para gravarmos, porém o único problema é que quase todos os dias recebíamos ligações de Sheffield, nos importunando por estarmos duas semanas atrasados para finalizar o álbum.

Acordo e percebo que John não estava no quarto, então supus que todos já deveriam estar tomando café da manhã. Me levanto e vou até o guarda-roupas, procurando por alguma roupa larga e que não apertasse minha barriga.

Por estar com 3 meses de gravidez, minha barriga já estava consideravelmente grande, em comparação com os meses. Uma das coisas que potencializavam a minha vontade de terminar esse álbum logo era o fato de que, quando voltássemos para Londres, a primeira coisa que John e eu iríamos fazer seria ir na minha obstetra, para finalmente poder saber o sexo do bebê.

Quando visto mão macacão peludo que é coberto por um roupão, saio da casa e, com dificuldade por conta do barro, vou até o lugar onde havia uma cozinha embutida com o estúdio. Chegando lá, Deaky e Brian estavam sentados nas banquetas da cozinha, enquanto Roger fazia Bacon frito e gritava com Brian. Freddie apenas observava enquanto tomava café - e por parecer tranquilo onde o mais velho estava, é exatamente o lugar que fico, ao seu lado.

— sua música é muito esquisita Roger — Brian diz com seu tom debochado para Taylor  —fala sério, é uma música de amor para um carro! — o cacheado diz e fico com pena de Roger. Eu sei que às vezes ele podia viajar um pouco na maionese, mas eu ainda sim acho que as ideias dele tinham que ser valorizadas.

— ah é? E o que me diz da sua música, hm? — o loiro diz pegando a caderneta de Brian —"você me chama de doce, como um tipo de queijo" — Roger lê em um tom confuso e debochado.

— é uma metáfora! — Brian diz enquanto John come sua torrada com queijo e apenas observa a situação — você só está dizendo isso pois sabe que sua música não é forte o suficiente — o cacheado diz enquanto bebe de seu chá.

— forte o suficiente? — Roger diz e caminha até o fogão, pegando o Bacon que ele estava fritando e jogando o mesmo em Brian, que é vegetariano. Ugh, golpe baixo, penso — não é forte o suficiente!? — diz e pega cafeteira.

— a máquina de café não! — Brian e John dizem antes que a máquina atingesse ambos os rapazes. Eu reviro os olhos e roubo uma torrada de Deaky, que murmura algo enquanto eu saio do local.

Freddie vem atrás de mim e juntos vamos até a casa de repouso, que havia um piano.

— como vai a melodia daquela música que estava escrevendo para Mary? — pergunto para Freddie enquanto me sento no largo banco que havia na frente do piano de parede.

— ainda estou fazendo algumas modificações — o mais velho diz e se senta em uma poltrona da sala.

No momento em que abro a boca para falar algo, Paul Prenter - novo funcionário da banda - entra no cômodo, porém logo para ao me ver sentada tocando notas aleatórias no piano.

— sim? — digo imediatamente parando de tocar.

— eu estava procurando por Freddie — o homem diz olhando para Freddie.

— bem, ele está aqui — digo apontando para o mais velho, como se fosse algo óbvio.

As vezes tenho nojo de Prenter.

— esquece, é um assunto particular — ele diz e se retira, então escuto Freddie suspirar alto.

— quando vai contar para Mary? — pergunto voltando a tocar piano. Por estar de costas, não pude ver a reação de Freddie com precisão, mas imagino que ele tenha ficado confuso de como eu sabia, tendo em vista os barulhos diversos com a boca antes de falar algo, como se procurasse palavras que melhor se encaixassem para a situação.

— c-contar o que? — ele diz se fazendo de idiota enquanto se ajeita na poltrona. Eu paro de tocar o piano novamente e me viro totalmente para ele, mas sem sair do banco que estava.

— não se faça de sonso, sei que você e Prenter estão tendo um caso — digo e os olhos de Freddie se arregalam.

— por que acha uma coisa dessas!? — o mais velho diz assustado, se certificando de que ninguém estava na casa.

— meu radar gay nunca me engana — dou de ombros.

Freddie suspira alto e pesado, se levantando e se sentando ao meu lado no banco largo. Ele sabia que eu era a pessoa perfeita para se conversar esse tipo de coisas, levando em consideração que eu não era uma das pessoas mais heteros que ele conhecia.

— por favor, não diga a ninguém — ele diz enquanto sua perna balançava freneticamente.

— não se preocupe, não quero que você se machuque — digo passando a mão por suas costas, o acalmando — mas também não quero que Mary se machuque. Se realmente está tendo um caso com ele, com um dos dois tem que terminar — digo indicando para que ele obviamente terminasse com Paul. Freddie e Mary eram noivos, era óbvio que ele largaria Prenter... não é?

Freddie fecha os olhos por um tempo enquanto respira pesado. Depois de alguns minutos, a fim de quebrar o clima, Freddie tatea o bolso de seu casaco e acha uma pequena caderneta.

— eu estou escrevendo uma música — ele começa enquanto folheia o pequeno bloco de papel —, porém estou com um bloqueio criativo enorme — diz e finalmente acha a folha com a letra — como você me ajudou a escrever boa parte das músicas de Sheer Heart Attack e principalmente Killer Queen, nosso maior sucesso atual, eu queria saber se você topa fazer uma espécie de parceria musical para escrever músicas, como Lennon-McCartney — ele diz me entregando a caderneta - acho que poderíamos escrever grandes sucessos...

Leio um pouco a letra e paro no primeiro "to me", então viro para o piano novamente.

to me... — digo levemente e começo a tocar o piano na forma que melhor se encaixasse. Depois de algumas tentativas, a melodia perfeita aparece em minha mente — Mama, just killed a man, Put a gun against his head, pulled my trigger, now he's dead. Mama, life had just begun,
But now I've gone and thrown it all away...
Mama, ooh, didn't mean to make you cry
If I'm not back again this time tomorrow
Carry on, carry on as if nothing really matters... — canto baixo lendo a letra com Freddie me acompanhando juntamente do piano. Assim que acabo com um sorriso vitorioso por pelo menos uma parte da música estar pronta, me viro para Freddie, que também me olhava com um sorriso no rosto — eu aceito fazer essa parceria com você, Freddie.

Um sorriso de orelha se estampa no rosto do mais velho.

— então vamos nos chamar Mercury-Demetriou — ele diz, arrancando uma risada minha.

𝐿𝐼𝐹𝐸 𝐻𝐴𝑉𝐸 𝐽𝑈𝑆𝑇 𝐵𝐸𝐺𝑈𝑁 || ʲᵒʰⁿ ᵈᵉᵃᶜᵒⁿOnde histórias criam vida. Descubra agora