Capitulo 10

457 70 12
                                    




Nas semanas que seguiram ao episódio da enxaqueca, Anastasia observou uma série de mudanças no lar dos Grey. A diferença mais evidente foi a atitude dos serventes.

Embora antes tinham sido descuidados, imprevisíveis e indiferentes com seu trabalho, tinham começado a sentir uma espécie de orgulho coletivo por seu trabalho. Era possível que se devesse à discrição com que Anastasia tinha instruído os Grey sobre o que deviam exigir do serviço que tinham contratado.

—Compreendo que lhe custe, senhora Grey - falou Anastasia uma tarde, quando as criadas haviam trazido uma bandeja de chá que continha uma chaleira de água morna, uma jarra de leite que não servia a nada e bolos rançosos. —Não obstante, deve devolvê-la. Não há nada mau em rechaçar comida inaceitável.

—Já trabalham muito - protestou Grace, fazendo gesto de servir-se. —Não quero lhes dar mais tarefa, e tampouco está tão mal.

—Está fatal - insistiu Anastasia, contendo a risada.

—Devolva-o, - implorou Grace.

—Senhora Grey, deve aprender a dirigir seus serventes.

—Não posso. - Grace surpreendeu Anastasia tomando a mão e apertando-lhe. —Eu era vendedora ambulante - sussurrou. —Era mais humilde que a faxineira mais humilde que temos. E todos sabem. Como vou lhes dar ordens?

Anastasia a olhou pensativa e sentiu uma imensa compaixão por Grace ao compreender finalmente por que era tão tímida com todos salvo com Mia e com Christian. Grace Grey tinha vivido na mais dura pobreza durante tanto tempo que não se sentia digna da situação em que se achava. A formosa casa cheia de tapeçarias e obras de arte, as elegantes roupas que usava, as suculentas comidas e os vinhos caros, só serviam para lhe recordar suas origens humildes. Entretanto, para ela não havia marcha re. A opulência que Christian tinha conseguido para sua família superava qualquer expectativa ou fantasia de Grace. Era
imprescindível que se adaptasse a sua nova situação, ou jamais sentiria gosto com sua nova vida.

—Agora já não é vendedora ambulante - disse Anastasia em tom resolvido.—Você uma mulher rica. É a mãe do senhor Grey, Trouxe dois filhos extraordinários ao mundo e os educou sem a ajuda de ninguém, e qualquer que tenha dois dedos de frente admiraria seu lucro. - Apertou-lhe a mão. —Insista que a tratem com o respeito que merece - disse, olhando-a diretamente aos olhos castanhos, que refletiam sua preocupação. —Sobre tudo seus serventes. Nessa mesma linha, há muitas outras coisas que desejo comentar com você, mas por agora... - Anastasia guardou silêncio e tentou pensar em um palavrão que desse ênfase ao que ia dizer. —Devolva essa maldita bandeja!

Grace abriu os olhos e tampou a boca para tentar conter inutilmente a risada.

—Lady Anastasia, é a primeira vez que lhe ouço dizer uma má palavra.

Anastasia lhe devolveu o sorriso.

—Se eu posso dizer, seguro que você pode tocar a campainha para pedir às faxineiras que nos
tragam um chá como Deus manda.

Grace se ergueu com decisão.

—Muito bem, farei-o! - Tocou a campainha sem mais demora, antes de mudarde opinião.
Com objetivo de melhorar ainda mais a relação entre Grey e o serviço, Anastasia reunia-se
diariamente com o ama de chaves, a senhora Burney. Insistiu em que Grace e Mia estivessem pressentem, embora a nenhuma o fazia muita graça. Grace continuava sendo horrivelmente tímida quando tinha que dar instruções à senhora Burney, e Mia não estava interessada nos assuntos domésticos. Não obstante, tinham que aprender.

—Levar uma casa é algo que toda senhora deve saber fazer - lhes instruiu Anastasia.—Todas as manhã, devem reunir-se com a senhora Burney e revisar os menus do dia, falar sobre as tarefas especiais que devem realizar os serventes, como lavar os tapetes ou tirar brilho à prata. E, ainda mais importante devem revisar as contas domésticas, anotar os gastos e decidir o que terá que comprar.

Onde começa os sonhos Onde histórias criam vida. Descubra agora