Capítulo 17

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Anastasia pensava que conhecia e compreendia Christian Grey bastante bem depois do tempo que tinha vivido sob seu teto. Não obstante, logo descobriu a imensa diferença que havia entre residir com ele e ser sua esposa. Durante o primeiro mês de vida em comum, tinham adquirido um grau de intimidade surpreendente. Anastasia descobriu muitas coisas sobre Christian: que embora pudesse ser insensível ou duro com quem o defraudava, nunca era desumano. Que não era um homem religioso, nem particularmente espiritual, e, entretanto tinha um código de honra que o impulsionava a ser honesto por cima de tudo.
Que o incomodavam os elogios e tirava importância aos favores que ele concedia.

Embora Christian tentasse ocultá-lo a toda costa, era compassivo e amável com quem ele considerava vulneráveis ou débeis. Nos negócios era um osso duro de roer, mas dava generosas gorjetas aos varredores e às caixas de fósforos, e subvencionava anonimamente multidão de causas reformistas.

Quando tirava o chapéu alguma de suas boas obras, negava que tivesse bons motivos e fingia que tudo o que fazia era por razões puramente mercantis.Perplexa por sua conduta, Anastasia o abordou na biblioteca um dia que ele tinha ficado trabalhando em casa.

—As pensões para seus trabalhadores, o nível de segurança que obtiveste em suas fábricas e o colégio para trabalhadores que está financiando —lhe perguntou Anastasia—, fez tudo isso unicamente porque acaba te proporcionando mais benefícios?

—Exatamente. Aumentar o nível de inteligência dos empregados e melhorar sua saúde redundará em uma maior produtividade.

—E o projeto de lei que está respaldando anonimamente no Parlamento para proibir que os órfãos trabalhem em moinhos e fábricas - prosseguiu Anastasia. —Também é por razões puramente comerciais?

—Como te inteiraste? —perguntou ele franzindo levemente o sobrecenho.

—Ouvi-te falar disso com o senhor Cranfill outro dia - disse Anastasia, nomeando a um de seus amigos políticos. Sentando-se em seu joelho, Anastasia lhe afrouxou o pescoço engomado da camisa e brincou com o cabelo de sua nuca. —Por que te incomoda que outros conheçam suas boas obras? —perguntou com suavidade.

Ele se encolheu de ombros, incômodo.

—Não serve de nada. Já sabe o que dizem.

Anastasia assentiu pensativa, recordando o artigo publicado no dia anterior no Teme, onde se criticava o respaldo de Christian ao colégio para trabalhadores:

O senhor Grey se pôs como mcta conseguir que as classes médias e inclusive as baixas acessem à direção do país. Pessoas que ignoram o que é a responsabilidade ou a moral vão ter poder sobre o resto de nós. Ele quer que as ovelhas guiem aos pastores e em sua luta se está esforçando ativamente para que brutos incultos como ele sejam elevados por cima de homens de intelecto e cultura.

—Tudo o que faço cria polêmica —disse Christian com naturalidade. —De fato, há vezes nas que minha intervenção é contraproducente para as causas que apoio. Só me falta que me acusem de tentar dirigir uma grande conspiração das classes baixas para derrocar a monarquia.

—Não é justo —murmurou Anastasia, sentindo-se repentinamente culpada ao dar-se conta de que nos círculos que ela tinha freqüentado havia homens respeitáveis que se opunham ativamente a leis cujo objetivo era educar e proteger a pessoas muito menos afortunadas que eles. Que estranho que ela e George jamais tivessem falado daqueles problemas, que logo que tivessem sido conscientes deles. Nunca lhes tinha ocorrido preocupar-se com os meninos que tinham que trabalhar em minas aos três e quatro anos.., pelas centenas de viúvas que tentavam manter a suas famílias vendendo fósforos ou palha para trançar.., por toda uma classe de pessoas que não tinham possibilidades de melhorar sua situação a menos que alguém lutasse por elas——Que egoísta e cega fui durante a maior parte de minha vida —murmurou.

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