♡ Capítulo 1 ♡ Calafrio (s.m.)

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O corpo de uma pessoa é como um violino que deve ser dedilhado com sutileza enquanto o arco desliza por suas cordas tão frágeis e macias, e os gritos que ecoam pelo quarto são as notas alcançadas pelo violinista. Música para meus ouvidos, uma bela melodia que eu poderia ouvir a noite toda! O cheiro que emana de dois corpos que dançam juntos, misturando-se ao sabor do licor que desce queimando a garganta... ou seria efeito do doce sabor do seu corpo que me inebria?

Choi San se perde nas palavras dentro do seu escritório, o escuro e solitário cômodo preenchido por móveis de madeira maciça, tecidos de veludo vermelho e detalhes ornamentais nas paredes pretas. San, ao ouvir a música alta ao som de jazz, as vozes diferentes embolando até formar ecos e o tilintar das taças vindo do outro lado, se questiona sobre o que ele está fazendo de errado. Afinal, esse era o seu sonho, então por que tudo parece tão vazio?

Ele é o dono do maior clube para acompanhantes de Seul, todos os homens da Coreia do Sul desejam pisar ao menos uma vez no luxuoso bordel. Em meio a todos os protestos, manifestações e as preocupações que estão sendo enfrentadas neste período de crescimento econômico na Coreia do Sul na década de 70, Choi San é o responsável por criar um espaço onde o corpo e a mente podem relaxar. Ele investiu tudo o que tinha, dinheiro, tempo e sua própria vida no sonho de criar um lugar onde os corpos pudessem ser exaltados e vistos da forma mais bela, assim como ele os via. Também queria um lugar onde satisfazer os desejos da carne não fosse alvo do conservadorismo do país. E assim foi criado o Arfar, o lugar onde todos os problemas são deixados para trás assim que passa pela porta. Luxo, bebidas, homens e mulheres irresistíveis, alguns até vindos do exterior, boa música, cheiro inebriante e suítes de alto padrão, é isso que o espaço oferece, e apesar de muito popular, é frequentado apenas pela alta classe, afinal, a maioria da população não conseguiria pagar nem por uma bebida ali.

Contudo, passar anos de sua vida levando esse negócio o fez entrar em rotina, e ainda que o bordel de luxo seja seu maior orgulho, San vem buscando incansavelmente encontrar outra obsessão no auge de seus 34 anos, algo pelo qual deva lutar para ter, mas para ele está sendo frustrante não conseguir pensar em algo, afinal, Sr. Choi já tem tudo o que um homem poderia querer, uma mansão na capital, carros de luxo, roupas de corte fino, uma bela aparência, o seu próprio negócio de sucesso e dinheiro o suficiente para comprar o que e quem desejar.

E sendo tudo tão fácil, o que não estaria ao meu alcance? Se pergunta ele.

Frustrado com seus próprios pensamentos, San larga a caneta sobre a mesa e se levanta suspirando em seguida. Ele sabe que só resta sair de sua sala e aproveitar a agitada noite de sexta-feira, e assim o faz. Vestindo seu blazer cinza, o homem abre a porta do escritório e se arrasta pelo corredor até chegar no salão principal, ouvindo o som do jazz ecoar cada vez mais perto. Assim que se depara com o espaço, San desliza o olhar pelos detalhes, por um momento parecia ter esquecido da beleza do lugar que ele mesmo criou. Analisando cuidadosamente a iluminação baixa e alaranjada que permite a visibilidade dos luxuosos sofás e poltronas com estofado de veludo e madeira com entalhes ornamentais, onde os clientes fazem questão de esparramar seus corpos sedentos, ele se permite esboçar um sorriso, satisfeito com seu refinado gosto para decoração. As mesas, que ficam em um canto mais isolado, reúnem grupos de homens que conversam, bebem e jogam cartas enquanto têm acompanhantes sentados em suas pernas. No bar, as bebidas são passadas freneticamente pelo balcão para o público mais jovem, que sempre aparece querendo encher a cara e conseguir uma transa rápida usando o dinheiro de suas heranças.

San suspira mais uma vez, ajeitando a postura e adentrando o espaço enquanto acende um cigarro, e a expressão que antes era de cansaço, agora mostra um homem confiante e poderoso desfilando pelo salão. Ele sabe do poder que tem, e gosta de exibir isso enquanto os funcionários e os clientes voltam sua atenção a ele, afinal, não é todo dia que o dono do bordel aparece no salão principal.

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