⛓︎ Capítulo 2 ⛓︎ Angústia (s.f.)

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AVISO: este capítulo aborda assuntos sensíveis como depressão e suicídio, não sendo aconselhavel que leia caso possa te causar gatilho.

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A vida é muito imprevisível, uma hora você está vivendo o que sempre sonhou, e quando menos espera, as coisas simplesmente lhe são arrancadas, tudo dá errado, os planos se afundam, os sonhos são despedaçados e cada coisa conquistada até o momento parece ter sido em vão. Esse é o fundo do poço de que as pessoas tanto falam, está entre uma profunda depressão, e o último feixe de luz que dá uma partícula de esperança.

É assim que Wooyoung se sente logo após ler a carta, essa enviada pelo proprietário do seu imóvel com a notificação de despejo. Ele havia chegado em Seul a pouco mais de um ano, vindo de uma cidade pequena do interior. A principal razão foi a bolsa de estudos para Gastronomia que conseguiu em uma das mais renomadas universidades da região. Utilizando todas as suas economias, o rapaz não pensou duas vezes antes de realizar sua mudança.

Ainda que pudesse se manter por alguns meses devido a todo dinheiro que guardou desde a sua infância, um pouco vindo de presentes de seus avós e outros sendo resultado do seu trabalho duro desde a adolescência, esse dinheiro estava acabando. A taxa de vagas de empregos havia aumentado drasticamente nos últimos dois anos devido à evolução econômica pela qual o país estava passando, contudo, essas oportunidades deixavam de ser válidas assim que descobriram que Wooyoung é mestiço, pai coreano e mãe norte-americana.

Desesperado em pensar que poderia precisar voltar para o fim do mundo de onde veio e com medo de não poder concluir a faculdade que tanto sonhou e vinha se esforçando para fazer, Wooyoung via o chão desabar sob os seus pés. Um forte aperto no seu peito fazia parecer que a qualquer momento o seu coração iria parar de bater. Ele poderia aguentar uma vida sem família, amigos, momentos de distração ou qualquer outra coisa que o levasse para fora da bolha, mas não conseguia aceitar a ideia de perder tudo o que construiu e ainda precisar bater na porta da casa dos seus pais, mesmo depois deles terem o atacado com milhões de xingamentos por ser egoísta demais e abandonado dois velhos em uma mercearia falida no interior.

Wooyoung sempre fora uma pessoa solitária e que obedecia aos pais a todo custo, sendo um baque para eles quando perceberam a quantia em dinheiro que o rapaz havia guardado e iria desembolsar tudo em uma moradia na capital.

EGOÍSTA!

LIXO!

VOCÊ É INCAPAZ!

ACHA QUE IRÁ TER FUTURO NISSO?

ACEITE SEU DESTINO QUE É CUIDAR DESSA MERCEARIA...

VOCÊ É O DESGOSTO DA FAMÍLIA... JAMAIS PISE AQUI NOVAMENTE.

Dói, não é mesmo? De fato doeu muito para Wooyoung ouvir essas palavras e logo em seguida sair em busca do seu sonho. A princípio ele se culpou e diversas vezes pensou que não merecia viver, que seus pais não deveriam precisar ter tanto desgosto. Mas com o tempo, as palavras pareciam ficar cada vez mais claras em sua mente, e por vezes ele se perguntou quem, na verdade, era o maior egoísta dessa história.

Quando chegou em Seul, Wooyoung alugou o apartamento mais barato da região, com uma iluminação baixa e a tinta das paredes descascadas, mas era o suficiente para dormir, atender as necessidades de higiene e guardar suas tralhas. Mas agora, nem isso ele terá. Com meses de atraso no pagamento, será inevitável que o apartamento seja tomado!

Ele encosta as costas na porta e desliza lentamente até o chão, abraçando os joelhos e aproveitando o momento para se debulhar em lágrimas. Lágrimas quentes e descontroladas que descem sequencialmente por suas bochechas. Essa é a gota d'água para ele desabar e finalmente se permitir sentir tudo o que vem guardado para si.

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