Castanheiros

6 2 0
                                    

Os oferecedores de riquezas do mundo do sobrenatural


     Esta descrição é baseada na narrativa # 767 do Arquivo Português de Lendas (APL 767).


     Trezentos anos a crescer, trezentos anos a ser, trezentos anos a morrer – é o que demoram os Castanheiros segundo o povo. Mais ano, menos ano, este tipo de árvores tem uma longevidade notável que faz com que seja símbolo da perseverança, da permanência, do vigor e da durabilidade. E é também essa longevidade que faz este tipo de plantas testemunhar muitas ações que decorrem em seu redor. Algumas dessas ações, ocorridas há gerações, tornaram-se lendas nas quais os Castanheiros são figuras centrais. É principalmente no Norte e na Beira que estão presentes na memória popular devido à sua maior presença física nessas regiões do país.

     Os Castanheiros simbolizam ainda a abastança e a providência. Isto porque dão em abundância frutos que servem de alimento para o Inverno e já mataram a fome a populações inteiras. E não é só em castanhas que os Castanheiros são ricos: a riqueza se traduz literalmente em tesouros em alguns casos. É o caso do Castanheiro que foi propositadamente plantado para servir de marca a dois cântaros de chumbo com ouro enterrados nos Castelinhos ou Castelos Naturais de Cabriz, três promontórios graníticos sobranceiros à margem direita do rio Távora, a Sudeste de Granjinha, no concelho de Tabuaço.

     Esses dois cântaros com ouro são tesouros cuja localização exata está no Livro de São Cipriano, um famoso (ou infame) livro de feitiços; desconheço se o livro informa de mais tesouros escondidos nos Castelinhos de Cabriz. Além disso, perto dos Castelinhos está a Cova da Moira, um penedo no meio do Távora. É assim chamado porque foi lá que apareceu o corpo de uma princesa moura estrangulada pelo seu pai, que atirou o cadáver dela para o rio. É nesse penedo que algumas Mouras Encantadas põem a roupa a secar no Dia de São Pedro, dia em que saem do seu esconderijo. É curioso estas Mouras aparecerem perto de ouro enterrado devido à associação das Mouras Encantadas com esse metal precioso (ver descrição das Mouras-Serpentes). Mas não sei se as Mouras da Cova da Moira têm alguma coisa a ver com a princesa assassinada.

     Pelos vistos, os Castanheiros estão associados ao sobrenatural, tanto a objetos como a seres. São as Mouras Encantadas o tipo de seres fantásticos cujas ações este tipo de árvores mais testemunha, provavelmente. Mas há uma figura da mitologia cristã que se associa muito com este tipo de plantas: Nossa Senhora. Talvez isto seja porque os Castanheiros simbolizam igualmente a justiça inflexível e a verdade, dois dos atributos da Virgem Maria. De facto, a Mãe de Jesus castigou um par de grupos de pessoas antagónicos entre si ao fazer com que os Castanheiros cujas castanhas pelas quais bulhavam deixassem de dar frutos para sempre em duas lendas – não podia haver melhor exemplo de chamada de atenção firme, sob a forma de um duro castigo, de Nossa Senhora aos homens tal como uma mãe às vezes tem de chamar a atenção a um filho (ver descrição de Nossa Senhora)!

     Quanto aos cântaros de chumbo com ouro e aos outros eventuais tesouros escondidos nos Castelinhos de Cabriz, é provável que ainda estejam lá, pois não é de ânimo leve que se usa o Livro de São Cipriano nem é qualquer um que o faz!



Fonte da imagem: Rota da Terra Fria (site)

Guia LendariumOnde histórias criam vida. Descubra agora