Santas da Aramenha

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A novena que saiu do mesmo ventre de uma só vez


     Esta descrição é baseada na narrativa #3251 do Arquivo Português de Lendas (APL 3251).


     É bastante raro uma mulher dar à luz nove filhos de uma só vez. E segundo a ciência oficial, ainda nenhum conjunto de nove filhos saídos do mesmo ventre de uma só vez sobreviveu todo à primeira infância (primeiros cinco anos de vida). No entanto, o imaginário popular português afirma o contrário: já houve nove meninas nascidas da mesma mulher num só parto a chegarem todas vivas a uma idade em que começaram a ser instruídas! Foram as filhas da Cálgia, a esposa do Catélio, o rei – ou governador? – de uma cidade romana. Essa cidade foi provavelmente Ammaia, cujas ruínas se situam em São Salvador da Aramenha, no concelho de Marvão.

     Mas a vida destas meninas esteve para ser extremamente curta: a Cálgia mandou uma criada dela atirá-las a um rio. Porém, em vez de obedecer à sua patroa, essa criada levou-as para serem criadas no bairro cristão da cidade. As meninas foram então batizadas e instruídas na fé católica. Genebra, Liberata, Vitória, Eumélia, Germana, Márcia, Basília, Quitéria e Gema eram os seus nomes.

     O nove é um número que representa muitas coisas que se refletiram na vida das meninas, nomeadamente aquilo que as tornou Santas. Representa a integridade e a sabedoria – se lhes faltassem a honra e o conhecimento do que Deus quer dos homens, não seriam santificadas. Reforça o triplo poder da tríade sagrada da religião que elas seguiram em vida: Pai, Filho e Espírito Santo. Representa a jornada completa, pois se fecha então o ciclo de números de um único dígito – e completa foi a jornada delas para serem Santas. Reflete o valor de infinito, pois as jornadas podem sempre repetir-se (com outras pessoas no caso de vivências com santidade, seguindo os exemplos de vida de Santos já existentes), sendo que o infinito representa Cristo – refere-se assim o sagrado. Por ser o último número que tem apenas um dígito, representa a plenitude: foi pleno de amor o sacrifício do Filho de Deus (ver descrições de São Martinho e de Jesus Cristo). É o número de bem-aventuranças (aplicações da mensagem deixada por Jesus no dia-a-dia), referidas no Evangelho de Mateus. É também é o número de dons espirituais (habilidades sagradas dadas por Deus aos homens): palavra de sabedoria, palavra de conhecimento, fé, dom de cura, operação de maravilhas, profecia, discernimento de espíritos, variedade de línguas e interpretação de línguas. É certo que estas Santas seguiram os ensinamentos de Jesus Cristo e usaram dons espirituais (desconheço quem usou quais). E levaram as suas vidas de santidade até ao fim, ao ponto de terem sido martirizadas, em locais diferentes.

     No entanto, não são referidos alguns nomes destas nove irmãs no Martirológio Romano (um livro usado em liturgias que contém a lista oficial dos Santos e dos Beatos católicos romanos), e há outros nomes delas que pertencem a Santas que tiveram existências terrenas após o Império Romano. Pergunto se pelo menos alguns dos nomes oficiais das nove irmãs – assumindo que tenham existido – não são outros. Mas é possível que a lenda das Santas da Aramenha seja uma mistura de narrativas populares, com personagens que podem não ter coexistido (ver descrição do Gigante Assassino de Arruda dos Vinhos).



Fonte da imagem: Tixico (site)

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