Rainhas

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O importante rosto feminino da realeza


     Esta descrição é baseada na narrativa #2890 do Arquivo Português de Lendas (APL 2890).


     Atualmente, são o presidente da república e a primeira-dama os representantes máximos de Portugal. Mas outrora a representação máxima do nosso país, a partir do momento em que foi conquistado aos mouros e aos espanhóis, estava no trono.

     As Rainhas eram obviamente as contrapartes femininas dos Reis. Mas não apenas no sentido de se terem tornado esposas dos Reis; frequentemente, elas eram o rosto de feminilidade característica de uma realeza cuja face geralmente dominante denotava masculinidade igualmente típica. Se os Reis representavam a bravura, as Rainhas eram a representação da doçura. Se os Reis eram furacões de impetuosidade e de intransigência, as Rainhas eram brisas de paciência e de compreensão. Se a atividade dos Reis era mais exercida para lá das portas dos seus paços (palácios de residência deles e dos seus familiares), as Rainhas exerciam-na mais à sua porta e por detrás dela. Onde os Reis empunhavam espadas, as Rainhas transmitiam serenidade. E por fim, para o povo, se os Reis eram como se Deus estivesse no trono de um reino terreno, as Rainhas personificavam Nossa Senhora. Isto porque eram a elas que o povo recorria muitas vezes nas suas aflições.

     Todas estas características da parte feminina da realeza estavam reunidas na figura da Isabel de Aragão, mais conhecida como Rainha Santa Isabel, por ventura a Rainha mais célebre e celebrada de Portugal (para além de Nossa Senhora, Rainha de direito divinamente próprio). Esposa de D. Dinis I, ficou para a história devido à sua devoção religiosa e à sua caridade, frequentemente em primeira pessoa. Não foram raras as vezes que as atitudes dela chocavam com as do seu marido, que muitas vezes queria que as coisas fossem como ele ordenava.

     Rosas em Janeiro. Foi o que disse D. Dinis, com um sorriso após a resposta da Rainha Santa Isabel à pergunta dele sobre o que ela levava escondido no regaço. Tinha interpelado a sua esposa, acompanhada pelas damas e pelos cavaleiros do séquito dela; Rainha e séquito dirigiam-se para um mosteiro que se construía então em Coimbra, dedicado a Santa Clara, ao mesmo tempo que eram dadas esmolas a quem as pedia. Só que essa benfeitoria não era querida aos olhos do Rei – a misericórdia excessiva da Rainha tinha de acabar, pensava ele! Ainda para mais após um fidalgo ter-lhe dito que a Rainha estava a gastar o tesouro real com esmolas, obras das igrejas, dádivas, etc. Decidiu então o Rei fazer uma fiscalização-surpresa a essa benfeitoria. Mas a Rainha Santa também sorriu, de cabeça erguida. E então mostrou o que levava ao terraço, após dizer que se tratava de algo para enfeitar os altares do mosteiro em construção. Deu-se o Milagre das Rosas. Toda a gente, incluindo o Rei, sabia bem que tinha acontecido algo de sobrenatural para que aparecessem rosas no mês de Janeiro! Foi um perfeito exemplo dos poderes que as Rainhas podiam ter. Poderes contra os quais a maldade e o pecado nada podiam fazer no fundo!

     O que aconteceu ao fidalgo que instigou D. Dinis contra a sua esposa, perguntam vocês? Dele não reza mais a história. Talvez tenha ainda contado com a misericórdia da Rainha Santa Isabel para não cair numa pena mais gravosa do que em descrédito junto do Rei!



Fonte da imagem: LittleDropsofWater.pt (site)

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