Mouras-Serpentes

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Os encantos femininos sob a forma de animais


     Esta descrição é baseada na narrativa #3623 do Arquivo Português de Lendas (APL 3623).


     Afoitas e sedutoras, as Mouras Encantadas estão no rol das figuras mais célebres do imaginário popular português, sendo o destaque de muitas lendas de Norte a Sul de Portugal Continental; aliás, é mais em terras nortenhas que podem encontrá-las.

     As Mouras Encantadas eram princesas mouras, frequentemente muito belas, que ficaram presas a um estado de encantamento – ou seja, deixaram de estar vivas, mas também não morreram, e passaram a estar magicamente ligadas a lugares terrenos –, devido a certas palavras proferidas por outros mouros, geralmente de sexo masculino, por determinados motivos. Foi o que aconteceu à filha de um príncipe mouro que vivia em Trás-os-Montes. Ela estava em idade de casar, mas não queria fazê-lo com um outro príncipe, muito rico e do agrado do seu pai, que a pediu em casamento. Para se entreter então, a princesa ia cantar ao Monte da Muradelha, nos arredores do Vale de Salgueiro, no concelho de Mirandela. Mas o seu noivo, ao saber que não ela queria casar com ele, e pensando que ia ao monte em busca de alguém que a agradasse, encantou-a. E assim se tornou numa Moura Encantada metade mulher e metade cobra – uma Moura-Serpente.

     As Mouras-Serpentes são uma variante de Mouras Encantadas. Têm a forma parcial ou total de um animal: umas estão totalmente transformadas em cobras enormes, cães, cabras ou cavalos; e outras são cobras com cabelo humano ou mulheres com corpo serpentino da cintura para baixo. E algumas destas criaturas metade cobra e metade mulher também possuem asas!

     Muitas Mouras Encantadas trazem consigo ouro sob variadas formas: figos, pedras, instrumentos de trabalho, etc. Esse ouro pode ser roubado, achado ou oferecido como recompensa. No caso da Moura-Serpente que aparecia no Monte da Muradelha, ela oferecia a corrente de ouro que trazia à cintura a quem a desencantasse.

     Quando se deparam com pessoas, as Mouras Encantadas pedem frequentemente para que lhes desfaçam o encanto mediante a realização de variadas tarefas – por exemplo, a Moura-Serpente que aparecia no Monte da Muradelha queria simplesmente que a beijassem.

     Foi o que fez um pastor que se sentiu atraído pela voz, provavelmente cantada, da Moura-Serpente e deparou-se com ela quando guardava o rebanho dele a uma distância do Monte da Muradelha. E assim o encanto da Moura se desfez, voltando a ser a bela jovem que fora. Ela apaixonou-se então pelo pastor. Porém, sabia que essa paixão jamais seria aceite pelo pai dela, e que ele a aguardava para que casasse com quem não queria desde o início. Por isso, a princesa fugiu e lançou-se ao Rabaçal, o rio que passa perto do Monte. O pastor foi atrás dela por uma mina com cerca de 3 km a partir do chamado Buraco da Muradelha; chegou dessa forma ao Rabaçal. Mas nunca mais viu a princesa. Bem, talvez ao menos tenha ficado com o ouro da Moura!

     Desde então, nas noites de Lua Cheia, a princesa sai do rio Rabaçal e vai ao cimo do Monte da Muradelha cantar para o pastor. Ela morreu no rio e tornou-se um Fantasma? Foi encontrada pelo seu noivo e encantada de novo por ele? A resposta a esta questão fica à vossa imaginação...



Fonte da imagem: Miosotis (blogue)

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