Capítulo 3

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Quatorze longos anos em solo americano.

De início foi bem - muito - difícil. Tanto no processo de adaptação quanto com a xenofobia que sofria através dos norte americanos. Por não saber falar inglês perfeitamente,e por ser de outro país,acabei virando alvo fácil para os americanos praticarem bullying comigo. Não havia um só dia se quer que eu não chorasse implorando para voltar para Coréia. Para vida de antes. Mas era totalmente em vão.
Nada me estressava mais do que ouvir da minha mãe:
" É passageiro,logo isso vai acabar... Seja forte! Nenhuma batalha é tão grande que não possamos suportar. "

Não lembro de ter pedido batalha nenhuma para testar minha força. Não mesmo. Se for para estar passando por isso,eu prefiro mil vezes ser fraca para sempre. A vida inteira! Nessa e nas outras zilhões que possam vir.

2 anos depois,aos 12 anos,fiz meus primeiros,poucos,amigos. Para quem saiu do seu país natal aos 10,até que não demorou muito para criar algum ciclo.
Eles foram os únicos que me estenderam a mão e me acolheram,em meu momento mais difícil da pré-adolescência; Onde o bullying que eu sofria passou de ser apenas verbal e se tornando tanto verbal como físico. Os conheci no estúdio de dança que tinha perto da escola. Precisava de algum hobby antes que cogitasse em fazer besteira; Posso dizer que a dança,juntamente do meu fio de esperança,me salvaram. Faltei muitas aulas só para ir lá e dançar. Até minha mãe descobri e me deixar de castigo por quase três meses.

Tempo das trevas.

Aos 16 tive o meu primeiro - e único -  namorado.
Ele também fazia parte dessa mesma panelinha que eu frequentava na academia de dança. Era tudo lindo... Até ele me deixar e assumir outra menina do dia para a noite.
Eu podia não gostar tanto assim dele,entendo,mas vê-lo me trocar por outra feriu muito o meu ego. Feriu minha autoestima; E feriu os poucos,e reais,sentimentos que o tinha.
A menina...Ela era linda! Parecia uma modelo. Digna de capa de revista!
Minha autoestima,que já não era muita,despencou lá para o fundo do poço.

Mas adivinhem só? Ele me pediu para voltar... E eu voltei! Não uma,mas três vezes! Vivendo esse eterno looping que,obviamente não deu certo,e um dia me fez acordar para vida,me abusar da cara dele e o deixa-lo de vez.
( Na verdade,ele quem me deixou,mas fui forte em não voltar mais quando ele veio nas inúmeras vezes atrás de mim,pedindo perdão).

Hoje,faço faculdade de ciências contábeis e sou ex professora de dança que ultimamente por conta da carga horária da faculdade,a dança em si vem sendo um hobby. Não estava conseguindo administrar bem o trabalho,os estudos,o estágios e a dança.

- Yuna,você já encaixotou os livros que eu pedi?
Percebo minha mãe me olhando de canto enquanto eu tentava escapar de fininho.

Ai,merda!

Desde que meu pai foi promovido a advogado chefe de uma empresa renomada onde seus clientes são a grande maioria celebridades. A,lá na Coréia, o chamou de volta para a matriz oferecendo mais benefícios,e claro,aumento salarial.
Nossa casa segue uma zona! São caixas e mais caixas por todo o lado! Mal tinha espaço para transitar.

Meu coração fica feliz e grato por estarmos voltando,mas ao mesmo tempo dar uma apertadinha ao lembrar que terei que deixar por aqui bons amigos...

- Mamãe,é meu aniversário. - uso como desculpa. - Eu preciso encaixotar as coisas justo no dia do meu aniversário?

Faço drama.
Afinal,sou filha do maior dramático já existente nessa terra.
Hwang Taesan.

- Porra Yuyu,colabora também! - respondeu frustada. - Fazem dois dias que eu te peço,custa você fazer?

- Mãezinha...

- Esse drama de aniversário não cola comigo,Yuna. Seu aniversário é hoje seguindo o fuso horário da Coréia,não daqui.

Rock with you. - Hoshi  Onde histórias criam vida. Descubra agora