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Aziraphale se olhou no espelho após um longo sono que se estendeu pela tarde, observou o quanto seus cachos estavam desgrenhados e tentou os arrumar de forma quase obsessiva. Suspirou fundo e abriu o registro da pia, apanhando um pouco de água em sua mão e o levando até o rosto na intenção de tentar desesperadamente melhorar sua aparência.
Ele queria ser melhor do que era, ele poderia ser mais bonito, mais inteligente e principalmente mais receptivo em questões sociais, mas não conseguia. Ele era um fracasso total.
Se retirou do cômodo em que estava fechando delicadamente a porta, andou em passos curtos até a sua sala onde pegou delicadamente seu caderno e sua caneta, querendo começar a fazer anotações de como foi seu dia, do que sentia e como poderia melhorar.
Mas antes mesmo de tocar o papel com a caneta, ouviu uma batida sutil em sua porta, sentiu suas mãos suarem, seus dedos tremerem e então engoliu seco. Milhões de pensamentos correram por sua cabeça, o causando uma dor forte na mesma e assim que se sentiu suficientemente seguro foi a caminho da porta. Era apenas o carteiro com as contas. Aziraphale assentiu com um sorriso no rosto pedindo um "obrigado" quase inaudível, pegou o papel das mãos do homem, sentindo-os escorregarem por causa das gotas nervosas que insistiam de brotar em sua palma e assim que iria fechar a porta, avistou uma única flor bem no tapete de sua casa e outras milhares de paranoias cruzaram sua mente como um flecha.
A pegou com calma, sentindo a textura do caule em seus dedos e finalmente fechou a entrada para o mundo exterior estando sozinho com seus pensamentos novamente.
Seus pensamentos o pregava peças toda hora, não conseguia nem se quer dar um passo para fora da rua, pois se sentia perseguido, como se alguém o estivesse julgando toda hora. Tudo isso por causa de seu maldito cérebro que não conseguia funcionar normalmente e o transformava em um completo neurótico, um medroso que não conseguia nem mesmo conversar com alguém sem ter um ataque de pânico e sair chorando pelos cantos. O máximo de contato que tinha com alguém era quando estava no parapeito de sua janela, observando as pessoas e desejando ser como elas.
Seu trabalho? Bem, era tudo online. Trabalhava com traduções de documentos e as vezes utilizava seu diploma de artes plásticas para fazer uma comissão aqui e ali quando o dinheiro ficava um pouco mais escasso no mês.
Sentou-se no sofá com a flor na mão, deixando seus pensamentos viajarem e o traírem como sempre faziam. Era uma bela magnólia, a observou atentamente, admirando a beleza de suas pétalas, apreciando o quão verde era sua folha e em um suspiro a jogou em cima da mesa e se afundou no sofá, pensando que era somente uma flor que havia caído de um buquê, aliás quem iria se interessar por ele? Ele não conversava com ninguém, não tinha amigos, tinha somente sua companhia e mais ninguém.
Em uma arfada lamentosa, pegou seu caderno e sua caneta novamente deixando tudo em sua mente se fazer físico no papel, desta forma ele conseguiria filtrar os seus devaneios bons dos ruins. Ele não se importava do seu caderno ser uma completa bagunça.
O caderno era cheio de desenhos avulsos nas páginas, alguns que simplesmente fazia quando estava entediado, alguns com significados mais profundos que apenas sua alma entenderia, outros eram olhos que desenhava sem ao menos perceber talvez consequência de sua mania de perseguição, mas a caligrafia que havia era simplesmente impecável, o loiro passou as páginas devagar, até chegar em uma em branco, para finalmente escrever.
"Querido diário,
Eu sou uma completa bagunça, as vezes eu só queria ser normal... Enfim, vamos começar pelo começo, hoje eu (infelizmente) acordei cedo, fiz o básico do dia a dia e trabalhei um pouco mas bem pouco, acho que eu estou cansado de tudo. Eu dormi de novo, acho que dormir é uma das minhas coisas favoritas, pois quando eu durmo eu não sou um peso para o mundo, era como se eu não existisse, na verdade já é como se eu não existisse, aliás eu nunca falo com ninguém.
Eu sinto falta de conversar, de ter alguma importância, de não ser mais um fantasma nessa sociedade.
Eu tenho medo da sociedade, eu temo todos por simplesmente julgarem o tempo inteiro, o que achariam se eu saísse na rua com esses cabelos? Com certeza alguém riria de mim, porque é assim que a atual sociedade funciona, ela faz você ansiar por um pouco de atenção, por um pouco de padrão e quando você não está nesse padrão, puff, seu mundo caí. Meu mundo caiu a muito tempo, mas eu sinto falta do meu antigo eu, do antigo eu que falava com todos com um sorriso amigável no rosto, agora eu só sou uma junção de sistemas ambulante que gasta o oxigênio do planeta sendo um simples nada.
Em falar nisso, uma flor apareceu em minha porta, isso é apenas uma coincidência, certo? Como eu já disse antes, eu não sou interessante, não tenho nada de extraordinário e nem amigos eu tenho, eu não tenho ninguém. Será que isso é justo? Há tantas pessoas com trilhões de amizades e eu só tenho o reflexo no meu espelho.
Hoje eu pesquisei a simbologia do espelho, que é um símbolo da pureza, da verdade e da sinceridade, traduz o verdadeiro conteúdo dos nossos corações e pensamentos além de ser utilizado em vários rituais religiosos ao redor do mundo. Então porque quando eu me olho, eu não consigo me ver verdadeiramente? A única coisa que observo é a agonia que sinto dentro de mim. Bom talvez esse seja o meu verdadeiro eu.
Não consigo nem mesmo dar um "oi" para o carteiro direito, e é difícil fazer isso, pelo menos para mim. Eu sei que todos tem limites, mas porque os meus são tão complicados? Nem mesmo ir no mercado eu consigo! Eu sinto ódio de mim mesmo, talvez eu devesse parar de me importar com que os outros pensam, mas é tão complexo.
Eu já tentei recorrer a diversas religiões mas é tão cansativo segui-las, aliás é onde as pessoas mais julgam e julgamentos eu preciso sair de perto, não vai fazer bem para mim. Mas isso não quer dizer que eu não tenho uma fé.
Fé, a única coisa que me mantem vivo atualmente, pois sem ela eu séria apenas uma casca de dor e lamentações (talvez eu seja isso, mas isso não é tão importante por agora). A fé que me ergue nos momentos mais complicados, talvez ela não esteja me ajudando agora...
A janela que eu utilizo para ter um pouco de ar puro, é a mesma janela que me faz sentir como se um veneno estivesse escorrendo por minha garganta, pois eu nunca vou ser como eles. Nem como a mulher de óculos que passeia com o namorado meio nerd, nem como a senhora que passeia toda maquiada e bela e nem como o garoto de cabelos vermelhos e óculos escuros que sempre faz questão de me perguntar se eu estou bem, eu nunca vou ser como eles e isso dói mais do que socos diretamente no meu estômago, pois se eu fosse um pouco mais comunicativo, eu poderia ser como eles.
E com isso eu deixo minha suplica, Deus, se você estiver me ouvindo, por favor, me dê um pouco de esperança e não me faça ser sozinho.
Obrigado por captar mais um dia de minhas lamúrias e talvez quando eu leia isto mais tarde, não me lembre desse sentimento tão torturante que há em meu ser."
Sozinho, a palavra ecoou em sua mente.
Ele era sozinho.
E a lágrima que caia de seu olho direto para o papel era tão solitária quanto ele...
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Hey anjos, fanfic nova em um modelo diferente e eu realmente espero que vocês gostem! Não estou acostumada a escrever dessa forma, mas para tudo tem uma primeira vez, né?
Ps: O feedback de vocês é importante, comentem, votem e façam críticas também! Isso é importante para o meu crescimento como autor para fazer fanfics cada vez melhores para vocês (:
Com amor, Júpiter ✨
© Júpiter, 2023.
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𝐅𝐥𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐝𝐨 𝐒𝐢𝐥ê𝐧𝐜𝐢𝐨 || 𝐀𝐳𝐢𝐫𝐚𝐜𝐫𝐨𝐰
RandomAziraphale é um amante da filosofia e da literatura que detesta barulhos e prefere evitar qualquer tipo de contato humano, optando por se isolar do mundo ao seu redor. Até que um dia uma flor aparece em sua porta. © Júpiter, 2023.