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O loiro decidiu desenhar depois de muito tempo, não só fazer desenhos para enfeitar páginas, mas um desenho completo. Não sabia o que estava colocando no papel, apenas deixou o lápis deslizar tranquilamente na página. Aos poucos foi ganhando forma, uma pessoa se formou no centro da folha com um espelho atrás dela, não sabia muito bem quem era ou o porque estava desenhando aquilo mas parecia certo.
Não achava o desenho bonito, mas se esforçou para continuar e não desistir no meio do caminho, foi quase torturante para o mesmo porém o finalizou. Quando parou para o contemplar, bufou de nervoso. Ele não sentia prazer nem mais em desenhar e quando percebeu isso sua mente trabalhou em mais e mais questionamentos, fazendo-o abandonar o desenho e começar a escrever seus pensamentos na página seguinte de seu caderno que utilizava como diário.
"Querido diário,
Eu não quero mais viver esta vida vazia sem prazeres. Escrever isto é muito estranho, talvez porque eu tenha crescido em uma sociedade que associa a palavra prazer com o prazer sexual e não realmente ao prazer em sua mais pura forma. O prazer não é só sobre o corpo, pode até ser mas isso vai bem além disso. Por exemplo, para Epicuro o prazer mental era o objetivo mais alto da vida, para ele a busca por prazeres físicos imediatos poderia levar dores maiores no futuro e era importante buscar prazeres moderados, por exemplo: não se encher de comida somente ficar satisfeito (Inclusive Epicuro só se alimentava de pão e água, quando se dava um luxo, um pedaço de queijo e vinho). Já para Aristipo de Cirene o propósito de vida era a busca pelo prazer para a diminuição da dor (que ele acredita serem opostos). Para Sêneca e Epicteto o prazer verdadeiro vem da sabedoria e da virtude e não dos prazeres sensoriais.
De todas estas vertentes, eu não tenho o prazer de nenhuma. Nem sensoriais, nem psicológicos. A vida perdeu o prazer a muito tempo, que eu nem mesmo me lembro quando. Isso é doloroso de escrever, mas eu não posso mentir para mim mesmo. Eu queria ter prazer de muitas coisas de novo, mas de especifico em uma: a vida. O prazer da vida não me acolhe a um grande tempo, eu queria poder acordar com vontade de viver o dia e ter prazer nas pequenas coisas, mas nem nas grandes eu tenho, imagina nas pequenas. Eu já tentei buscar o conhecimento de várias maneiras, mas eles nunca preencheram o vazio e nunca me davam prazer de verdade, só uma ilusão de que eu sabia de algo a mais que eu nunca usaria na vida. Eu não sinto prazer na vida porque a dor já tomou uma proporção muito grande.
Tantas coisas ainda doem, coisas que meus pais falaram para mim quando eu ainda era jovem, não ter amigos, ser solitário, não conseguir me expressar, estar cansado de tudo, não fazer o que eu verdadeiramente amo, não conseguir sair, querer não acordar, esperar a vida ter cor, tudo isso dói. Acho que tudo que acontece em minha vida dói, menos quando a flor aparece, essa é a parte em que a dor vai embora e com isso o prazer e a felicidade entra em minha vida, eu já sou grato a essa pessoa, antes mesmo de conhece-la. Eu queria a conhecer, conhecer a pessoa que dá um pouco de cor na minha vida. Eu não entendo o porque, mas sou extremamente grato pelo pouco de satisfação que este indivíduo traz a minha existência, queria falar tudo que está verdadeiramente em meu coração, por mais brega que pareça eu quero demonstrar o quão agradecido eu sou pelas flores, por mais que eu as jogue fora, eu as amo.
"Aquilo que foi doloroso suportar torna-se agradável depois de suportado; é natural sentir prazer no final do próprio sofrimento." Está frase que eu também me agarro para continuar seguindo em frente mesmo sem forças, aliás o que Sêneca quer dizer aqui é que quando superamos as dificuldades, as dores podemos olhar para trás e apreciar a forma como que lidamos com o desafio, que o processo de superar as dores pode ensinar lições valiosas e fortalecer a pessoa, o que provavelmente se tornará uma fonte de gratificação e autoaceitação. Também quer dizer que quando o sofrimento chega ao fim, sentiremos um prazer, alívio, sensação de liberdade e muitas das vezes um apreço pelas coisas positivas que nos rodeiam. Eu espero o dia que a dor vai passar em todos os míseros dias da minha vida terrena pois parece que nunca vai chegar, parece que os dias são os mesmos e eu passo pelas mesmas dores e nunca há prazeres novos e nem velhos, parece que eu nunca vou superar meus problemas e que nunca encontrarei a paz comigo mesmo e com o mundo a fora."
Ouviu duas batidas na porta e então exprimiu um sorriso gentil, deixou seu caderno de lado juntamente com sua caneta se dirigindo até a porta que não parecia tão assustadora como das últimas vezes. Tocou a porta não tão delicadamente e abriu sabendo o que já o esperava.
Seu coração se encheu de um calor reconfortante quando pegou no caule da flor de cor rosa, uma sensação de calmaria sempre o atingia fortemente quando a pegava em suas mãos.
Se recolheu para o conforto de seu sofá novamente, deixando a flor em cima da mesa que estava em sua frente. Observou uma última vez a flor que o fazia sentir o verdadeiro prazer da vida e voltou a se concentrar em sua escrita.
"A magnólia me faz sentir prazer, faz eu ter uma nova perspectiva de vida e eu estou ansioso para conhecer a pessoa da flor, quero olha-la e agradecer, quero a abraçar, quero finalmente falar com alguém que realmente se importe, quero falar que me salvou e que me fez ter uma nova perspectiva de vida, pois agora eu espero o pequeno prazer da tal flor que eu sei que chegará. Quero dizer que minha autossabotagem não está mais dando certo graças ao mínimo prazer que há em receber algo tão belo e tão real, algo que eu realmente sei que vai acontecer, uma esperança que eu achei que havia morrido dentro de mim a muito tempo e finalmente a chama foi reacendida.
A chama que aquece meu peito ao mesmo tempo dói, por mais que me esquente me queima também, mas é uma dor boa, uma dor que se não existisse eu tenho certeza que não acharia que sou real e que tudo é somente um experimento onde o sofrer é o ponto principal, onde a tortura de alguns seres são necessárias para outros seres acenderem e acharem a felicidade e o prazer enquanto outros só conhecem a dor e a tristeza, onde o mundo é somente um borrão cinza e não há vida, onde as pessoas querem se jogar de prédios e a sociedade finge que se importa, mas na realidade se aquela pessoa se jogar vai ser somente mais um número na contagem de suicídios que a tal sociedade (que é hipócrita) só da atenção em setembro para estas vidas perdidas, a realidade é que todos somos importantes mas ninguém enxerga isso porque por um lado todos querem subir de vida e só se importam consigo mesmas, quem está muito acima só se importa em fazer mais dinheiro e quem está lá embaixo tem que lutar para ter pelo menos um prato de comida no final do dia. A desigualdade é a culpada pela maioria da dor da população, dor física (de fome e crimes ódio) ou dor psicológica onde as pessoas desprezam as outras.
A verdade é que todos nós erramos, mas ninguém quer assumir a própria culpa, todos colocam a culpa no sistema, a culpa nos pais, a culpa nos amigos, a culpa no governo, a culpa no sistema escolar mas nunca veem a si mesmas, nunca olham para os seus erros. A realidade é que o sistema é muito difícil de mudar, os pais são pessoas que na maioria das vezes não estão preparados para lidar com uma responsabilidade tão forte e acabam criando mal a criança, mas não por falta de amor, por falta de autoconfiança, por falta de autoestima... os pais são como quaisquer outros mas com uma responsabilidade de criar um indivíduo. Ninguém olha para si mesmo ou se cobra de mais, acha que tudo é sua culpa, eu sou o segundo tipo de pessoa mas a tal magnólia me fez me sentir mais leve, como se a metade dos meus problemas não existisse mais.
Bem, acho que é isso por hoje, estou cansado.
Obrigado, amanhã voltarei com mais concepções doidas de minha mente."
Aziraphale olhou para a flor uma última vez e a jogou fora, pois em sua mente se a guardasse, não surgiria outra no dia seguinte.
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Hey anjos, mais um capítulo para vocês! Desculpem a demora pelo capítulo mas eu estava em semana de avaliações e inclusive vou entrar em outra, então os capítulos vão demorar um pouco para sair, desculpem por isso. Se houver algum erro desculpem, eu não revisei muito bem por causa da escassez de tempo :(
Ps: O feedback de vocês é importante, comentem, votem e façam críticas também! Isso é importante para o meu crescimento como autor para fazer fanfics cada vez melhores para vocês (:
Com amor, Júpiter ✨
© Júpiter, 2023.

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𝐅𝐥𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐝𝐨 𝐒𝐢𝐥ê𝐧𝐜𝐢𝐨 || 𝐀𝐳𝐢𝐫𝐚𝐜𝐫𝐨𝐰
RandomAziraphale é um amante da filosofia e da literatura que detesta barulhos e prefere evitar qualquer tipo de contato humano, optando por se isolar do mundo ao seu redor. Até que um dia uma flor aparece em sua porta. © Júpiter, 2023.