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Aziraphale havia terminado o trabalho do dia com um grande sorriso no rosto, a maioria de suas metas tinham sido alcançadas naquele dia. Ele conseguiu limpar a sala, fazer comida, terminar os trabalhos pendentes em seu computador e tomar um banho bem tomado. Isso são coisas bobas para quem vê de fora, mas para o loiro aquilo era uma grande vitória, aliás ele sempre ficava parado em seu sofá fazendo as traduções mas hoje não, hoje ele havia colocado as coisas em ordem e ele estava radiante.
Ele não estava só radiante por causa disso, ele estava radiante porque seu coração batia desesperadamente clamando pela flor que chegaria a qualquer momento. Sua mente também suplicava pela magnólia, o bombardeando de pensamentos sobre a mesma. Ele queria recebe-la logo para ter continuar com energia nos outros dias, porque ele sabia que enquanto ele recebesse a flor, alguém lembrava dele.
Seu corpo estava descansando suavemente no parapeito da janela, observava as pessoas passando dessa vez, não com uma carranca, mas com um sorriso no rosto. O vaso improvisado que continha a flor estava ao seu lado o trazendo, de certa forma, confiança. O ar adentrava seus pulmões de forma limpa, sem faltas de ar ou algo do gênero, ele se sentia livre pela primeira vez.
Depois de alguns minutos admirando a vista de sua janela, onde havia muitas pessoas passando, entrando em lojas e cafés que existiam ali por perto, Aziraphale adentrou sua casa e, como sempre, se sentou no sofá confortável. Pegou o seu caderno e sua caneta, passando pelas páginas e se lembrando de cada lamento que já fizera.
"Querido diário,
Esse foi o dia mais feliz que eu já obtive em anos, eu finalmente consegui me libertar de algumas amarras que me acompanham a muitos tempo. Por exemplo eu não arrumava a minha casa a pelo menos uns dez meses, não por falta de vontade, mas por falta de energia. Parece que minha energia foi revitalizada de certa forma, parece doideira porém eu acho que a flor realmente me ajudou, ajudou a ver a vida, e também a pensar, de uma forma diferente.
A um tempo atrás eu vi uma frase e eu nunca realmente havia entendido-a, mas agora eu a entendo melhor do que tudo. "Quanto mais amor temos, tanto mais fácil fazemos a nossa passagem pelo mundo."- Kant. Eu não amava nada, ninguém, nem se quer a própria arte que eu admiro tanto, mas a partir do momento que eu compreendi que a magnólia era para mim, eu passei a amar, amar a flor e até mesmo um pouco de mim, o que parecia impossível.
Eu li sobre o Idealismo. Tudo bem, parece algo bobo mas qualquer fonte da filosofia que possa me dar, nem que seja um pouco, de esperança é válida, qualquer coisa que faça eu amar a vida é válido.
O idealismo acredita que a realidade é essencialmente mental ou espiritual, que as ideias são importantes e constroem a realidade. É verdade, a visão de mundo é muito diferente de pessoa para pessoa. Para uns a vida é incrível e uma dádiva, para outros a vida não passa de um pesadelo eterno no qual é obrigado a sonhar.
Para mim a vida não é nada mais nada menos do que uma oscilação entre ser um sonho e um pesadelo, tudo depende do momento e das escolhas. Hoje, eu estou bem mas eu passei pelo menos três anos da minha dolorosa vida trancado dentro dessa casa sem respirar um ar puro por causa do medo, eu não posso dizer que a vida é mil maravilhas agora, por mais que eu esteja melhor, eu não poderei dizer que a vida é essencialmente boa.
Na realidade, a vida ser boa ou ruim depende de como a sociedade enxerga um indivíduo e de como este indivíduo lida com as críticas ou elogios vindo de outras pessoas. Eu nunca lidei bem... Quando me elogiavam eu utilizava isso de combustível e quando me criticavam eu só queria ficar sozinho e não encarar a desaprovação. No final das contas, eu só sou inseguro.
A insegurança fez eu me abster de muitas coisas na minha vida e uma delas foram as escolhas. Eu sei que não se deve fazer escolhas baseadas na felicidade e sim em ideais pois desta forma não me arrependerei futuramente desta tal opção que tive que preferir, mas é inevitável. Humanos almejam a felicidade e isso influenciaria na escolha de qualquer forma, até mesmo os ideais são baseados no que fará o individuo feliz no final das contas, e não há coisa mais humana do que se submeter ao julgamento, de deixar algo momentâneo cegar o sujeito, de ser ambicioso, de querer parecer forte mesmo que lá no fundo o coração esteja desgastado, não há nada mais humano do que ser fraco.
Meu maior sonho quando era criança era ser médico para ajudar as pessoas, nunca realizei. Meu maior sonho quando adolescente era me encaixar em algum lugar, nunca realizei. Agora, meu sonho é somente ter paz e sinto que nunca realizarei. Sinto que meus sonhos vão morrendo de pouco em pouco e não há nada que eu possa fazer, eu não posso nadar contra a corrente de meus medos, eu não posso correr em direção a luz, minha única opção é ficar parado e esperar algo vir me resgatar desse mar profundo de receios. Eu pedi a Deus todos os míseros dias da minha vida desde quando eu havia vinte anos para me resgatar deste estado e parece que Ele ouviu minhas preces, mandando está bela pessoa para me mandar flores todos os dias. Eu não sei a aparência desse ser, mas tenho certeza que há beleza."
Com isso, ele ouve duas batidas na porta e um suspiro sai de sua boca, não um suspiro de ansiedade muito menos de medo, era um suspiro de alívio, de felicidade, de contentamento e de paixão. Foi um suspiro de esperança.
Com calma ele se direcionou a porta, sua mão tremeu por um momento antes de abri-la e se deparar com a flor que estava esperando. A pegou, como sempre faz e seu coração bateu mais forte por alguns segundos, seu rosto se iluminou com um sorriso e ele foi até a janela, a colocando com a outra magnólia e parando para admirar por um momento. Não só a beleza da flor, mas a beleza que havia dentro de si também, a beleza de sua essência que esta sendo resgatada.
Aziraphale sentou-se no sofá, agarrando o seu diário e voltando a escrever o resto de pensamento que havia em sua mente conturbada.
"A flor me faz me enxergar de uma maneira mais empática comigo mesmo, consigo finalmente enxergar minha essência, a essência que achei que havia perdido para o desespero. A essência não é nada mais do que a representação do que se encontra no âmago de alguém ou algo. Eu sinto que a minha essência original era o amor, o amor pelo próximo, o amor fraternal e o amor romântico. Eu havia perdido este amor, até mesmo o amor de Deus eu não sentia mais, talvez porque eu não estivesse realmente aberto a este amor mas agora eu estou, talvez depois disso eu me aproxime mais de mim mesmo, da minha essência, da minha personalidade e da minha identidade ou até mesmo volte a igreja e me sinta acolhido pela graça do Senhor novamente, quem sabe? Não há como saber, a única coisa que espero agora é a incerteza do futuro que não parece mais tão assustadora.
Agradeço, meu querido diário, por estar guardando meus pensamentos de todos os dias até a felicidade ou infelicidade do próximo dia"
O caderno foi deixado de lado e ele se direcionou até a janela, onde observou as pessoas de sempre passando por debaixo do parapeito. O casal de jovens parecia mais radiante do que nunca conversando enquanto a mulher estava com o braço agarrado no jovem nerd. Logo após passou a senhora arrumada, que agora estava caminhando com um senhor aparentemente de mesma idade que a fazia dar belas gargalhadas. O homem de cabelos ruivos estava caminhando no sentido contrário dos outros, indo até a cafeteria que havia ali perto, com um rosto blasé mas de certa forma parecia feliz. Aziraphale agora estava vendo a vida com mais cores e não mais em preto e branco.
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Hey anjos, mais um capítulo para vocês! Desculpem a demora e o sumiço, realmente foi necessário tirar este tempinho para mim. Se houver algum erro mil desculpas, e eu não tenho a mínima ideia quando irá sair o próximo, mas vou me esforçar para sair o quanto antes!
Ps: O feedback de vocês é importante, comentem, votem e façam críticas também! Isso é importante para o meu crescimento como autor para fazer fanfics cada vez melhores para vocês (:
Com amor, Júpiter ✨
© Júpiter, 2023.
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𝐅𝐥𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐝𝐨 𝐒𝐢𝐥ê𝐧𝐜𝐢𝐨 || 𝐀𝐳𝐢𝐫𝐚𝐜𝐫𝐨𝐰
RandomAziraphale é um amante da filosofia e da literatura que detesta barulhos e prefere evitar qualquer tipo de contato humano, optando por se isolar do mundo ao seu redor. Até que um dia uma flor aparece em sua porta. © Júpiter, 2023.