𝐅𝐥𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐝𝐨 𝐒𝐢𝐥ê𝐧𝐜𝐢𝐨 || 𝐀𝐳𝐢𝐫𝐚𝐜𝐫𝐨𝐰

Me, myself and i

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Aziraphale abriu a geladeira cuidadosamente, quando olhou para dentro do eletrodoméstico o viu vazio, não havia nada por lá e sua barriga já estava reclamando de fome. Então com toda a coragem que tivera, pegou seu celular e ligou para o mercado mais próximo, com sua voz trêmula pediu tudo que necessitava, esperando que não tivesse que fazer uma ligação desta tão cedo.

Sentia sua ansiedade o consumindo, pensando que até mesmo um telefonema não conseguia fazer direito, sentindo lágrimas se instalando no canto de seus olhos, mas lutando para não deixa-las ganhar. Sua cabeça girava e sua garganta estava seca, ele tinha pânico de tudo que envolvia falar com outro alguém e por mais simples que a ação de telefonar pareça, para o loiro era até mesmo pior que a morte, que ele mesmo ansiava por todos os dias da sua vida.   

Se dirigiu até a sala, se sentando no confortável sofá que passava a maioria das horas e se dispôs a esperar pela entrega olhando se alguém havia solicitado algum trabalho para o mesmo. 

Assim que começara a ler as propostas, três batidas na porta foram ouvidas, como um reflexo Aziraphale se agarrou no sofá mas logo depois foi em direção a porta e a abriu. Tentou oferecer um sorriso amigável ao homem que estava cheio de sacolas e as pegou uma por uma, pedindo um "Obrigado" muito baixo e deixando o dinheiro na mão do homem hesitantemente. Puxou as sacolas pesadas até sua cozinha, as organizando do jeito que julgara certo e assim que terminou decidiu pegar um pouco de ar fresco, indo até sua sala e se apoiando na janela, observando a simplicidade e a beleza das pessoas, da natureza e dos animais. 

Observou um pássaro voando pelos céus, desejando ser como ele, livre. Ele queria ser livre como já fora uma vez e não prisioneiro dos seus próprios medos.

O lugar acolhedor o chamou, o vento estava fazendo-o ter frio e o sofá parecia mais confortável do que quaisquer outro dia. 

"Querido diário,

Eu queria ser livre. Eu sei que a liberdade é um conceito tão complicado quanto o amor, a felicidade ou até mesmo quanto o sentido da vida. Aliás, o que é a liberdade?  Bem, na minha concepção é a capacidade de escolher e agir de acordo com a minha própria vontade. (Por mais que muitas das vezes eu não consiga agir de acordo com minha vontade). 

Kant argumenta que a liberdade é importante para que as pessoas possam ser responsáveis por suas próprias escolhas e ações, já Sartre acredita que a consciência que nos torna humanos e consequentemente livres. Bem, Sartre é autor de uma frase bem famosa sobre a liberdade  "O homem está condenado a ser livre, condenado porque ele não criou a si, e ainda assim é livre. Pois tão logo é atirado ao mundo, torna-se responsável por tudo que faz." Parece algo horrível, ser condenado a algo não era para ser bom, mas está é a verdade ser livre em si nem sempre é mil maravilhas, por mais assustado ou desconfortável que você esteja, você ainda é livre. Ninguém escolheu nascer ou até mesmo existir mas ainda há a liberdade de fazer escolhas que vão definir o percurso da vida. Acho que eu não queria ser livre, pois livre eu já sou, eu queria fazer escolhas melhores. 

Bem isto de escolha também vai de ponto de vista, pois escolhas certas e boas não existem. A cada escolha que eu faço eu defino a minha essência, só que isto se torna difícil se eu não sei qual é a minha essência, meus valores, eu não sei o que eu sou. Eu queria escolher algo que me fizesse realmente feliz, eu não escolho algo que me faça feliz a anos. Talvez o resultado das escolhas ruins da minha vida sejam a consequência da minha falta de conhecimento sobre mim mesmo. 

A falta de conhecimento sobre mim me afunda a cada hora que passa, eu não sei do que eu gosto, eu não sei o que eu quero, eu não tenho metas e os meus valores eu desconheço. No final eu sou só uma casca vazia, que está condenada a ser livre e a fazer escolhas que não vão me levar para frente. Há tanta coisa que eu gostaria de fazer, de escolher mas eu não consigo pelos meus simples medos. Os medos não me deixam ir com a correnteza, e sim nadar contra ela. Eu tenho medo de tanta coisa... 

Eu tenho medo da sociedade, eu tenho medo do tempo, eu tenho medo (por incrível que pareça) do amor, eu tenho medo de ter medo, eu tenho medo da decepção, eu tenho medo de ficar parado, eu tenho medo de correr e também eu tenho medo de andar. Eu tenho medo do mar, eu tenho medo do céu, eu tenho medo da vastidão do universo, eu tenho medo de que eu esteja sozinho, e também que eu não esteja. Temo a vida, mas também temo a morte. Eu tenho temor de que exista algum ser superior, mas que também não exista. Eu tenho medo da natureza, eu tenho medo dos animais, eu tenho medo dos homens, eu tenho medo do barulho e do silêncio. Eu tenho medo. Medo do que? Medo de tudo, até de mim mesmo eu tenho medo. 

O medo é o que me move atualmente, antigamente era a fé, mas hoje em dia nem isto eu tenho mais porque o medo de algo (que eu nem mesmo sei o que é) me paralisou. Colocando tudo isto no papel, me lembrei da frase de Voltaire "A esperança é um alimento da nossa alma, ao qual se mistura sempre o veneno do medo." Bem, eu já estou intoxicado com este veneno há muito tempo, já faz parte de mim, se eu fosse me descrever com somente uma palavra seria medo, se tirar isto de mim, eu realmente não vou me conhecer. 

Eu tenho medo de viver, parece algo tão impossível, mas é verdade. A vida é algo tão complexa, envolve tantas outras coisas que me faz ter medo e quem sabe este pensamento é o que me faz me isolar de tudo e de todos. Em algum momento eu já fui sociável, mas quando o veneno chamado medo adentrou minha vida eu me afastei. Não por mal, mas como uma forma de defesa, uma defesa que me fez cair em uma ruína, mas mesmo assim é uma defesa. Em certas medidas, o medo é algo bom, faz o ser humano não andar a caminho da extinção, é o que faz você não morrer nesta selva (que por agora, é a sociedade). 

Se eu fosse um animal eu com certeza séria um lobo solitário, não tenho bando, não tenho proteção e nem a quem proteger (além de mim mesmo), não tenho a quem amar, a quem compartilhar as pequenas (e as grandes) vitórias e nem ao um ombro onde chorar quando as adversidades se apresentam. Ser sozinho é bom, o que não é bom é ser solitário."

Duas batidas foram ouvidas em sua porta, o loiro achou estranho, tudo que havia pedido já chegara então com uma coragem que não sabia que havia, abriu a porta e não encontrou ninguém. Supôs que fosse a flor e ele estava certo, lá estava ela e pela primeira vez um sorriso verdadeiro surgiu nos lábios de Aziraphale.

A magnólia foi pega e o cacheado cheirou-a, sentindo seus pulmões se expandirem e o aroma adentrar pelas suas narinas e ir até sua garganta, os pensamentos confusos se dissiparam de sua mente e finalmente conseguiu alcançar um estado de paz, mesmo que por alguns segundos. O loiro pegou a flor e a deixou em cima da mesa por um segundo e continuou escrevendo.

"A flor veio novamente por hoje e eu escolhi a cheirar. Por mais bobo que pareça, acho que esta foi minha melhor escolha que eu fiz em muito tempo, eu sei que não é muito mas me fez calmo e feliz, bem talvez a minha liberdade e felicidade esteja nestas magnólias. Pela primeira vez, eu sinto que o meu fracasso pode ser vencido. 

Obrigado por ouvir meus devaneios que aprisionam minha mente, amanhã vai ser um dia melhor." 

Assim que fechou seu caderno, pegou a flor e desta vez hesitou em joga-la fora, mas mesmo assim o fez com a esperança de outra magnólia aparecer em sua porta no dia seguinte.  

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Hey anjos, mais um capítulo para vocês! Não foi revisado, então desculpa pelos erros. Espero que vocês tenham gostado 💞 

Se você tem pensamentos parecidos com o Azi e quiser desabafar, sinta-se livre para me chamar no privado. As vezes a única coisa que se precisa é de alguém para ouvir os problemas que estão perturbado a vida.

Ps: O feedback de vocês é importante, comentem, votem e façam críticas também! Isso é importante para o meu crescimento como autor para fazer fanfics cada vez melhores para vocês (:

Com amor, Júpiter ✨

© Júpiter, 2023.