Após um grave acidente de trânsito, Gavi acorda sem o movimento de suas pernas e sem suas memórias. Envolto por uma sensação estranha de angústia, ele passa a obedecer tudo o que seu marido diz, enquanto tenta entender porque ele parece tão insensív...
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Nada é mais aterrorizante do que a liberdade ↺
Nenhum jovem adulto anseia por ver sua liberdade limitada por uma cadeira de rodas, especialmente quando está no auge dos seus vinte e três anos. Observar as pessoas transitando livremente ao seu redor apenas acentuava a sensação de que ele era um objeto inerte, manipulado por mãos alheias, como se fosse um brinquedo.
- Já estamos chegando no carro. - Pedro falou enquanto empurrava a cadeira, fazendo com que virasse os olhos para cima para que pudesse ir de encontro ao som que saía de seus lábios bonitos.
Pedro não olhava diretamente em seu rosto enquanto falava, ele apenas empurrava a cadeira com o queixo erguido. Seus olhos castanhos pareciam mais ocupados em observar o caminho do que prestar atenção em si propriamente.
- T-tudo bem... - Gavi respondeu em um sussurro, sentindo-se um pouco tolo por gaguejar, embora quase certamente o marido não o tivesse ouvido.
Ao chegarem ao estacionamento, Pedro movimentou a cadeira de rodas até o carro e levantou Gavi com facilidade, colocando-o no banco do passageiro. Ele não se apressou em colocar-lhe o cinto de segurança, fazendo questão que estivesse bem acomodado, no entanto, seu rosto permanecia sério, completamente livre de qualquer feição que denotasse seu humor, além do fato de que, ele ainda não lhe olhava nos olhos.
- Como se sente ao dar adeus para esse lugar e poder voltar para a casa?
Gavi ouviu atentamente sua pergunta. Enquanto ele guardava a cadeira de rodas no porta-malas, ficou pensando sobre o que isso significava para si.
- Para ser sincero... - começou a falar, esperando que ele retornasse e se sentasse ao seu lado para poder continuar. - eu não me sinto muito diferente, já que ainda vou continuar parado. Eu apenas estou saindo de um lugar para o outro e...
Finalmente Pedro havia olhado em seu rosto. Porém, a expressão severa com a qual ele o fitou o havia pegado de surpresa. Era como se ele desaprovasse completamente sua resposta. Gavi mal conseguiu finalizar seu argumento.
- Bem... - desviou o olhar, não sendo capaz de manter o contato visual pesado que o mais velho impunha sobre si. - E-eu... eu me sinto contente por sair do hospital, mesmo ainda não conseguindo andar... - sorriu pequeno, de maneira sem graça, ajeitando algumas mechas de sua franja curta enquanto olhava pela janela de vidro.
O carro ainda estava parado no estacionamento e Pedro continuava olhando para si. Essa sensação o fazia se sentir tão estranho...
- Eu entendo, meu amor. - a resposta veio após um longo silêncio. Pedro desviou o olhar para a trave acima das janelas, e Gavi imaginou que, com suas pernas imóveis, até mesmo para abrir aquela simples porta precisaria da ajuda dele. - Logo você vai poder voltar a caminhar. - completou, acariciando, de maneira possessiva, sua nuca e seu pescoço com uma mão, enquanto a outra ia de encontro ao volante.
