🐚Cap5

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Sigo o som, ele me leva a uma porta que fica atrás da escada, não tinha reparado nela antes, desço as escadas, parecia um porão bem grande, iluminado e cheio de ferramentas. Reconheço alguns instrumentos de cirurgia.

Os gritos abafados se tornaram altos e agonizantes. Vejo Ahiete torturando um rapaz sem piedade.

Sabia que ela era capaz dessas coisas, mas mesmo assim me impressionou. Ainda mais quando eu me lembro quem é o rapaz que está na cadeira, o mesmo do shopping.

-Ahiete o que é isso?

-Oi amor tô trabalhando agora, pode me esperar lá em cima por favor?

-Por que está fazendo isso com ele?

-Porque ele merece, simples. Não quero que veja querida, melhor subir.

-Ahiete -Digo num tom alto e agressivo.

Ela vem até mim e diz que o rapaz merecia um castigo por ter agido daquela forma comigo, expliquei que não era nada de mais e que não era de tanta importância.

-Não se engane meu bem, pesquisei sobre ele e descobri que ele tem ficha na polícia por agressão. Esse filho da puta espancou a esposa dele até a morte, claro que surbordinou os policiais e saiu depois de dois meses.

-Certo, então pode voltar.

Convivi bastante tempo com agressores pra saber que eles nunca param, como um loop continuam sempre, talvez com a advertência de Ahiete ele acabe de vez com isso .

-Com prazer, quer me ajudar?

-Não, eu me contento só por ouvir.

-Depois que acabar  te dou boa noite meu bem.

Fui pra cama, os gritos continuavam sem parar, ecoavam pelas paredes e a madrugada parecia infinita.

Todo aquele caos me dava um enorme gatilho, me lembrei de todas as torturas que eu fiz. Passava e repassava sucessivamente um atrás do outro, tentei me conformar pensando que talvez algumas pessoas também não eram 100% inocentes mas isso não ajudou em nada.

Estava paralisada na cama, as lágrimas escorriam pelo meu rosto, uma mistura de sentimentos invadia. Como se o demônio estivesse na minha frente e eu não tivesse controle sobre meu corpo, me manti imóvel, a angústia, o desespero que eu senti durou até que os gritos parassem.

Ahiete entrou no quarto dizendo boa noite como havia falado, assustada por me ver chorando ela me faz perguntas, mas tudo que consigo fazer é chorar.

Ela me abraça e acaricia meus cabelos sem dizer uma única palavra. Adormeço em seus braços. Quentinha e confortável.

Acordo no dia seguinte com um belo café da manhã na mesinha ao lado da cama.
Ahiete sai da banheiro vestindo um de meus vestidos, dos quais ela mesma comprou pra mim.

-Está melhor?

-Sim, obrigada por ontem.

-Não precisa agradecer, faço qualquer coisa pela minha futura esposa, até mesmo torturar um homem no meu porão. -Fala dando uma piscadela enquanto come um pedaço de bolo da mesinha.

-Não falo dessa parte.

-Tudo bem meu amor vou cuidar de você pode ficar tranquila.

Desde que a conheci ela me trata com apelidos carinhosos, é como se eles fazessem parte de sua personalidade, não me incomodo mais com isso. Sinceramente gosto.

-Ahiete quero sair hoje.

-Não precisa da minha permissão você sabe disso.

-Sei, estou te convidando. Aceita?

-Oh meu Deus tá me convidando pra um encontro?! Podemos pular essa parte e ir direto ao casamento oque acha?

-Não é um encontro pode tirar esse sorrisinho daí. Vi um lago aqui perto e estava pensando em ir nadar.

-Perfeito, vou pedir pra fazerem nosso almoço e logo depois do café podemos ir.

A empregada fez o almoço colocando tudo em marmitas, posso dizer que preparou uma cesta enorme de comidas variadas.
Terminando o café fomos direto pra trilha que levava ao lago.

-É muito longe Prieta? Meus pés já estão doendo.

-Prieta, não amor? Devia não ter vindo de salto, assim não estariam doendo.

-Ah como pude chamar minha amada pelo nome e não pelo apelido, me desculpe minha rainha. -Diz brincando. -Me sinto bonita de salto o que posso fazer.

-Senta aqui nessa pedra.

Ela se senta, retiro seus sapatos vendo os machucados, eu logo pego um antibactericida e um chinelo na bolsa que carrego.

Cuido dos pequenos ferimentos e a calço com os chinelos.
Depois disso sigo a trilha novamente.

-Ah mas que cavalheira, pensou em mim e trouxe um chinelo. Já que você é tão gentil assim podia logo me carregar, estou cansada de andar já.

-Nem morta.

Depois da longa caminhada finalmente chegamos ao lago. Era frio e úmido, a mata soltava seu aroma por toda parte, o barulho da água misturada com os dos animais me deixavam em êxtase, meu corpo se arrepiava só pelo vento que vinha.

Depois do nosso almoço ao ar livre e de conversamos por um tempo, resolvi entrar na água, fazia tempo desde que entrei num lago.

-Vou nadar também. -Diz Ahiete tirando todas as suas roupas já entrando na água.

-Não precisava entrar nua, ah e não deixa sua roupa jogada assim, pode sujar, vou por nesse tronco.

-Entra logo. Mas tira tudo.

-Não vai poder me tocar entendeu?

-Sim, prometo.

Entrei na água e estava um gelo, meu corpo todo se encolheu.

-Mergulha Prieta, olha aqui o que eu achei.

Quando mergulho ela me beija. Assusto e volto rápido pra superfície.

-Disse que não ia encostar em mim.

-Eu não encostei, só meus lábios, mas eles são uma exceção pois tem vida própria.

-Entendi...

-Tá fria né, vamos brincar um pouco pra esquentar.

-Brincar? Parece criança -Gargalho.

-Não era nesse sentido mas pode ser também.

Ficamos na água por um longo tempo, o suficiente pros seus dedos ficarem totalmente enrugados.
Me senti livre, havia tempos que não me divertia inocente daquele jeito. A leveza que senti é inimaginável.

Voltamos já ao anoitecer, completamos o dia com um filme e um fuê.

-Me lembrarei desse dia, apesar de simples significou muito pra mim.

-Gostei também, vamos sair mais vezes meu bem.

Passai a madrugada olhando os papéis do hospício, depois de tanto procurar achei nas entrelinhas o nome do meu irmão. Dizia que O The Mountain Frees era dele, foi criado um mês antes do meu avô falecer, na mesma época que descobrimos sua doença grave.

Mal pude dormir, fiquei tentando elaborar um plano pra acabar com ele uma vez por todas. Mesmo sendo meu irmão eu não podia deixar quieto, afinal ele nunca mostrou um pingo de afeto por mim.

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Lascívias (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora