Capítulo 38 - O Arlecchino

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"Hi hi hi hi"

Era noite de lua cheia, sua missão era de cunho simples – Invadir um orfanato de trouxas e trazer o maior número de crianças possível – O comensal mais agoniado tinha ido na frente, os mais velhos aguardavam o sinal entre as árvores – Ali, veja – Um braço do que tinham entrado o chamavam da porta.

O prédio estava sem luz, nenhum barulho além do estalar da madeira e o rangido das velhas janelas, adentrando o local o cheiro pungente de ferro misturado a mofo os fizeram cobrir seus narizes, não era necessário usar máscaras naquela ocasião, assim achavam – Há algo de errado, onde estão as crianças? As madres? – O comensal mais velho olhava os cômodos do andar de baixo, as luzes não ligavam por nada, não era noite de tempestade então não fazia sentido.

O barulho de alguém descendo a escada pulando os degraus quebrava o silêncio entre eles, o terror passava por suas espinhas aos seus olhares se fixar naquela cena: erguido por finas linhas, desmembrado, se movimentava como uma marionete – Boa noite queridos amigos! Hoje teremos uma apresentação maravilhosa do nosso querido anfitrião! Palmas, palmas! – Batendo suas mãos desengonçadamente, sua voz fina vinha do alto dos fios, de cabeça para baixo, o homem sorria gentilmente enquanto seus olhos brilhavam em dourado vivo – Para o primeiro ato teremos uma singela brincadeira de pega-pega, ao final da contagem irei atrás de vocês – Os olhos do que estava preso nos fios revirava como se ainda pudesse estar vivo, mas não poderia, sua cabeça tinha sido arrancada do corpo.

Erguiam suas varinhas ao homem preso ao teto em vão – UM! – Corria de um lado para outro, pulava entre as poltronas desviando dos feitiços lançados, sempre com um sorriso e sua risada – DOIS! MELHOR IREM CORRENDO! – Puxando os linhas envoltos em seus dedos fazia sua marionete atacar os comensais próximos – TRÊS!!! Quer saber? Lá vou eu... hihihihi.

Sendo presos em pequenas correntes, três dos comensais que degladiavam com o corpo suspenso gritavam ao serem comprimidos cada vez mais uns contra os outros – Ainda não está bom... vocês iriam fazer coisas horríveis a essas crianças... Já sei – Batendo palmas alegremente – Um calorzinho para esquentar nessa noite fria – A fumaça e cheiro de carne queimada subia no local.

- Crucius! – Lançou sob o homem, mas o mesmo tinha sumido de sua frente.

- Me procurando? Hihihihi – Com a mão cobrindo a boca, apertou seu ombro – Observem meu show de mágica! – Seu cachecol preto envolvia apenas os membros do homem, pedaços afiados de madeira atravessavam seu corpo sem piedade – Sou magnifico, MAGNIFICO! – Rindo do desespero dos que ainda sobraram, apontou para a porta – Podem ir.

Os comensais corriam desesperados em meio a floresta, era uma missão suicida, àquela altura todos já tinham noção, mas ao ficarem cara a cara com Arlecchino, seus sentimentos mais primitivos afloraram. A noite de lua cheia era sua favorita, era seu pai lhe vendo trabalhar dos céus, pulava alegremente fazendo sua silhueta criar uma sombra entre as árvores. Trajado de vestes pretas com detalhes em prata, tinha em seu rosto duas marcas de lágrimas, com uma cartola cravado em rosas, cantarolava qualquer coisa que vinha em sua mente - É uma bela noite, é sim, é o show do Arlequim... Venham, venham todos apreciar, pois desta noite nada sobrará... hihihi – Com um impulso adentrou a floresta.

Os quatros que restavam não queriam se separar, possuíam mais chances – Aparata!

- Não consigo, não dá, ele fez algo, estamos presos!

- Somos quatro comensais! Não é como se ele fosse mais forte que nós juntos!

- Ele é mais forte caralho! É Merlin!

Enquanto discutiam entre sussurros, o homem os observava do alto da copa da árvore, não estava feliz, seu corpo era consumido em ódio ao ser levado a imagens que presenciara a algumas semanas atrás. Os corpos empilhados, seus rostos com o fantasma da dor e tristeza, sem seus olhos, seu coração doía pelas pobres almas que ainda o atormentavam em uma suplica por paz – Observem crianças, um show magnifico para vocês – Acariciava o rosto do menino em seu ombro, o mesmo possuía uma faixa ao redor dos olhos, seu angelical rosto manchado pela profanação da magia, ajustou sua cartola e a música de circo começava, pequenas faíscas de brilho surgiam.

Eclipse - Neville Longbottom e Alyssa MerlinOnde histórias criam vida. Descubra agora