Capítulo 44 - Punhal de dois gumes

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Os astros olhavam em silêncio o desespero de Pietro com sua filha no colo, em toda a história Merlins eram mortos ou "faleciam naturalmente", nunca um tinha retirado de bom grado sua própria vida, aquela pequena criança que tinha sido levada ao extremo tivera seu coração e corpo destruído em questão de minutos, e agora nos braços de seu pai, sua alma perdia a vontade de existir. A morte que não era bem vinda naquele reino sorria enquanto esperava calmamente ao longe.

- Façam algo! Deem a ela a vida novamente! Façam algo por minha filha – Pietro a balançava de um lado para outro, já não sabia o que fazer a não ser segura-la como um bebê.

- Pietro, filho da Lua, sua menina quis dar de bom grado sua vida a aquele ser que nunca deveria pisar aqui – Disse o Sol escondendo sua face – Nada podemos fazer.

- De bom grado? Como ousa a dizer isso? É uma criança! Tudo que ela vem passando e guardando a maior parte dentro de si! Não posso acalentar quando chora, não posso ficar ao seu lado quando se sente sozinha! Eu não posso ser seu pai! Não posso nem ao menos lhe dizer que não era Neville para diminuir a dor de seu peito.

- Não pode ser pois está morto – A morte se esgueirou como uma cobra até o homem, mas recuou ao ter a espada da Lua em sua garganta – Largue-a de uma vez e me entregue, não adianta, ela já me pertence.

A Lua em sua tristeza, mostrou sua face, pedindo a menina, suas lágrimas caíam no corpinho mole em seus braços, cada cicatriz em seu corpo reluzia fracamente, de seus laços era possível ouvir as lamentações de seus corações, trazendo para perto de seu rosto, a ajeitou em seu colo e se pôs a dançar uma valsa suave com a mesma - Há minha doce filha, tu que nasceras do primeiro olhar entre mim e o Sol, fostes condenada a sofrer sem ao menos dar conta de sua existência, sentiu na pele o que os humanos sentem, deixou que sua alma se quebrasse, tudo por conta de um amor que não existia, tudo por conta do amor que fora proclamado a séculos. Porque decidiu entregar-se? Me conte, diga-me meu pequeno raio de amanhecer, o que o fez amar tanto ao ponto de concede-lhes a graça de sua vida e arrebentar seu coração? Responda a seu pai, por favor, lute, deseje voltar, eu não posso lhe prometer nada além de minha permissão em ir atrás de sua felicidade.

O Sol que ao se virar e mostrar sua face, suas lágrimas logo se tornavam vapor, a Lua então a pôs em seus braços, ambos os astros a seguravam com cuidado, de tão pertos suas luzes iluminavam a mesma lhe dando um tom único, pondo em seu colo, segurava seu corpo como se segura um bebê sentado, alisava suas costas – Há minha filha, tu que cresceras com um de meus raios em teu peito, o que de tão ruim lhe aconteceu para que fosse extinguido? Perdoe-me por te acorrentar em um destino cruel e solitário, teus dias nada mais eram que voar por tua casa com tua pequena estrela a quem tinha tanta estima, um amor de séculos que nunca fora completado e sua dívida até hoje é cobrada, ao brilho que sempre ofuscou os meus olhos fui soberba e negligente, poderá um dia me perdoar? Há minha doce filha, perdoe sua mãe tola, lute, se agarre a qualquer fio de esperança que ainda exista dentro de si, a ti eu dou permissão de ir atrás de sua felicidade, não se entregue aquele que nunca deveria existir, mas aos pecados da humanidade e seus desejos profanos, largados a própria sorte por aquele que dera o suspiro da vida e os abandonou ao ver que os mesmo não passavam de ingratos, caiu sob nossos ombros zelar por seus destinos e esta mãe quis dar o melhor de si para eles que esqueceu de sua própria filha, perdoe-me meu pequeno raio de entardecer – O Sol que nunca mostrava tristeza, abraçava aquele corpinho que restava apenas um último suspiro – Perdoe sua mãe.

A Lua e o Sol a abraçavam, suas lágrimas caíam em sua única filha, como foram negligentes, o olhar de dor que um dera ao outro, proclamaram a todos os sete reinos – Muito além de qualquer ser vivo que exista no universo, você foi a primeira a amar e a primeira a sofrer pelo amor, foi o primeiro eclipse que assim chamam os humanos, pedimos, suplicamos, ao coração de dois pais que não tem onde se agarrar, volte, não aceite que tudo acabou, és tão rainha quanto nós, não se curve diante de plebes que se arrastam entre a escuridão pois não passam de vermes, volte nossa filha, nos conceda seu perdão.

Eclipse - Neville Longbottom e Alyssa MerlinOnde histórias criam vida. Descubra agora