Secret of the Century | jenlisa

Os biscoitos

Os olhos da cor castanho de Jennie Martel despertaram em meio a noite fria, ela se levantou e se sentou no meio da cama de dossel, o quarto estava completamente escuro, exceto pela luz da lua que passava pelas janelas.

Uma delas estava aberta e deixava o vento frio entrar no quarto e consequentemente indo até Jennie, que se encolheu e se abraçou na tentativa de manter o calor.

Ela soltou um pequeno ar pela boca e se levantou da cama indo até a janela aberta, fechando ela com baque e trancando a mesma.

Ainda estava pensativa sobre tudo o que havia descoberto em um dia de festa. Jennie sabia que sua vida era complicada, mas outras pessoas passavam pela mesmo situação e isso era surpreendente para ela.

Tantas pessoas que estavam em seu alcance passando por algo que ela lutava com tanto afinco.

Sua barriga soltou um ronco inesperado, suspirando, Jennie pegou um casaco e colocou sobre si mesma, abriu a porta do quarto e ficou de cara com o corredor iluminado por algumas luzes nos cantos.

Ela seguiu o caminho e desceu as escadas bem devagar, tentando não causar nenhum barulho. Rapidamente ela chegou na cozinha, abriu a geladeira e pegou uma garrafa de leite. Andou até os armários e pegou alguns biscoitos caseiros que a cozinheira fazia.

Colocou o biscoito na boca e mastigou, esses biscoitos deixavam Jennie mais feliz, desde pequena ela entrava na cozinha escondida para comê-los. A cozinheira tentava de tudo para esconder, mas Jennie sempre deu um jeito de descobrir onde elas estavam.

Agora ela não tinha que se preocupar mais com isso, a cozinheira não tinha mais que esconder os biscoitos, e Jennie nunca mais teve que furtar eles. Ela já estava grande o suficiente para pedir ou no meio da noite pegar alguns deles.

Só que agora daqui para frente, não teriam mais biscoitos para roubar, um irmão para irritar ou uma irmã pequena para ensinar e mimar. O coração de Jennie acelerava e o corpo esquentava só de pensar no casamento arranjado que o pai arrumou para ela. Tentar não pensar nisso era impossível, ela dormia com esses pensamentos e sentia que estava cada vez mais perto de acontecer.

- Jennie? - uma voz baixa e masculina soou atrás dela.

Jennie deu um pulo da bancada da cozinha e colocou a mão sobre a boca com o susto. Ela quase gritou com a surpresa.

- Lúcio? O que faz acordado?

- Não consigo dormir, e estou com um pouco de fome.

Ela balançou a cabeça em concordância e pegou o pote de vidro com os biscoitos, os empurrou levemente pela bancada até o irmão.

- Esses biscoitos ainda existem? - ele disse surpreso.

- A senhora Mariana nunca deixou de fazê-los. Ela só os esconde...

- Mas eu lembro bem do nosso pai pedir que ela não os fizesse por que você comia tudo e praticamente não fazia as refeições direito.

Com uma risada simples, Jennie deu um gole no copo de leite.

- A senhora Mariana sabia o quanto eu gostava dos biscoitos, sem eles eu ficava deprimida.

Com uma risada Lúcio se aproximou e pegou dois biscoitos, se sentou ao lado de Jennie na bancada e os dois permaneceram em silêncio enquanto comiam.

Jennie olhou para o lado e observou o silêncio do irmão, ela estava curiosa a respeito dos segredos dele, mas tinha certo receio de perguntar algo que pudesse deixá-lo chateado.

- Vamos, pergunte... - ele disse mordendo o biscoito.

- Mas... como você...

- Relaxe Jennie, eu sei que você está curiosa sobre o Josh, vamos pergunte logo.

A garota suspirou e engoliu o biscoito que mastigava na boca.

- A quanto tempo? Quando isso começou? Como se descobriu?

- Foram três perguntas... - Lúcio resmungou.

- Você não pode esperar que eu só tenha uma única pergunta sobre isso.

Suspirando o menino balançou a cabeça e desceu da bancada da cozinha. Pegou o pote de vidro com biscoitos e o fechou cuidadosamente.

- Nós ficamos amigos por quê meu pai havia começado a trabalhar com o pai do Josh. Talvez você não lembre, você era bem pequena na época, ele estava sempre por aqui, nós dois brincávamos juntos.

Ele fez uma breve pausa para guardar os biscoitos em uma das prateleiras.

- O tempo foi passando e eu me toquei de que talvez meus sentimentos estivessem confusos. Eu sempre soube que tinha algo de errado comigo e foi com ele que eu descobri isso.

- Eu guardei meus sentimentos por um ano, um dia ele dormiu aqui em casa e no meio da noite ele entrou pela porta da meu quarto e disse que tínhamos que conversar.

- Naquele momento eu fiquei com medo, mas ele me beijou e eu deixei. Depois começamos a ficar juntos escondidos, até o dia em que ele disse que iria embora.

Lúcio suspirou e encarou Jennie pela primeira vez nos olhos.

- Eu não entendi o porquê ele foi embora, ele disse que era o que os pais deles queriam. Tive que entender e lidar com isso, mas ele nunca, nunca me mandou uma carta ele só sumiu.

Jennie olhou ao redor da cozinha completamente escura, ela conseguia entender a dor do irmão, era normal se sentir assim.

- Sinto muito Lúcio, mas vocês precisam conversar, de uma chance para ele explicar.

- Mas e se...

Um barulho alto fez os dois irmão se assustassem sobre o balcão da cozinha. Olharam em direção a porta e uma figura masculina e de cabelos loiros passou por ela.

Josh estava vestido com uma blusa larga e calças no mesmo estilo. Seus cabelos estavam um pouco molhados. Ele olhou pela cozinha e quando nos viu engoliu seco.

- Me desculpem, eu não sabia que vocês estavam aqui.

- Josh! Acordado essa hora? - Jennie disse em tom de brincadeira.

- Fiquei com fome e desci até aqui.

- Entendi. - Jennie disse olhando para o irmão encarando a janela sem parar. - Eu estou começando a ficar com sono, melhor subir.

Jennie se levantou da bancada e tocou levemente a mão do irmão, o menino a olhou novamente e suspirou. Ela passou por Josh que encarava Lúcio com uma intensidade.

- Boa sorte, e não se preocupe, converse e deixe tudo claro. - ela sussurrou passando por Josh.

O loiro sorriu para ela e balançou a cabeça.

Jennie saiu da cozinha com pressa e subiu as escadas lentamente. Sua mente vagava por lugares inesperados, a festa na casa da tia de Blue teve muitas revelações.

Andando até a porta do próprio quarto, e a abrindo com cuidado, Jennie suspirou e se deitou na cama.

- O que vai acontecer? - ela sussurrou para o quarto escuro.