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- Precisa virar mais rápido. Você quase sai da pista quando vira á direita.

Aperto a pequena direção de couro e piso fundo no acelerador. O Mercedes dá um salto para a frente, jogando nossas cabeças para trás.

- Meu Deus, você é um pé de chumbo. Não pode pisar mais leve nesse acelerador?

Paro bruscamente, me esqueço de pisar na embreagem e o motor morre. Roseanne gira os olhos em desaprovação e se esforça para transparecer paciência em sua voz.

- Certo, observe. — Ela liga novamente o carro, vem para o meu lado e coloca as pernas entrelaçadas com as minhas, com os pés ficando sob os meus. Com a pressão dela, solto a embreagem aos poucos, ao mesmo tempo em que pressiono o acelerador, fazendo com que o carro deslize suavemente para a frente. - Desse jeito — ela fala e volta ao assento do passageiro. Solto um chiado de satisfação.

Estamos rodando pelas pistas, de lá pra cá e daqui pra lá, sob o sol do meio da tarde. Nossos cabelos se agitam ao vento. Aqui, neste momento, dentro dessa caranga 64 vermelha brilhante com uma bela garota ao meu lado, não consigo deixar de me transportar para uma vida diferente uma vida mais cinema clássico. Minha mente voa e perco o pouco foco que em geral consigo manter. Saio da pista e acerto o para-choque de um caminhão-escada, o impacto joga nossas cabeças para trás.

Roseanne examina a frente do carro e sacode a cabeça em desaprovação.

- Que droga, Lisa. Era um belo carro.

Quando fazemos a volta e seguimos em direção ao nosso terminal, Percebo a congregação emergindo do portão de um terminal de carga. Como uma procissão de funeral invertida, os Mortos marchavam solenemente em fila, com passos lentos e pesados, em direção à igreja. Um grupo de Ossudos liderava a romaria, se movendo para a frente com muito mais propósito do que qualquer um dos que ainda tinham carne. Eles eram os poucos dentre nós que pareciam sempre saber exatamente e estavam indo e o que iriam fazer. Eles não hesitam, não fazem pausas ou mudam de direção, e seus corpos não evoluem nem apodrecem mais. Eles são totalmente estáticos. Um deles olha diretamente pra mim, desvio os olhos do olhar vazio do esqueleto. Enquanto passamos devagar ao lado da fila deles, alguns dos Carnudos nos lançam olhares desinteressados.

Roseanne fica me olhando por um longo momento e então vira para a frente e observa o cenário que se forma. A nossa direita temos as escuras e vazias entradas dos túneis de embarque, que um dia já estiveram vivos e cheios de viajantes se preparando para ver o mundo, expandir seus horizontes e encontrar amor, fama e fortuna. A esquerda temos os escombros escuros de um Boeing Dreamliner.

- Meu namorado me traiu uma vez. — Roseanne fala olhando para a frente. - O pai dele deu abrigo para uma garota enquanto as adoções ainda eram organizadas. Uma noite, eles ficaram bêbados de cair e acabou rolando. Foi um acidente e ele fez a confissão mais sincera e tocante de todos os tempos, jurou por Deus que me amava mais do que tudo e que faria qualquer coisa para provar, mas não adiantou nada. Continuei pensando naquilo, repassando tudo na minha cabeça e me consumindo com aquilo. Chorei todas as noites durante semanas e gastei de ouvir todas as músicas tristes do meu mp3. — Enquanto fala, ela sacode a cabeça lentamente, seus olhos estão bem longe. - As coisas são... eu sinto demais as coisas às vezes.

Eu a observo. Ela passa a mão no cabelo e o enrola um pouco com um dedo. Noto que ela tem cicatrizes já quase imperceptíveis nos pulsos e antebraço, linhas finas e simétricas demais para ser o resultado de um acidente. Ela pisca e olha para mim repentinamente, como se eu a tivesse acordado de um sonho.

- Não sei porquê estou contando isso pra você — ela fala um pouco irritada. - Bom, por hoje chega de aula. Estou cansada.

Sem falar mais nada, dirijo para casa. Freio meio tarde e paro o carro com meu para-choque dois centímetros sobre a grade de um Miata. Roseanne suspira.

Minha namorada é uma zumbi | Chaelisa Onde histórias criam vida. Descubra agora