14

169 23 9
                                    

O Pomar acaba se mostrando diferente do que eu imaginava, já que esse é o único pub deles. Ou pelo menos o mais próximo que eles têm de um pub. Chegar na entrada dele requer uma árdua jornada vertical pelas escadas e corredores do Estádio, tendo uma vista de toda a cidade. Primeiro, subimos quatro lances de escada em uma torre de habitação caindo aos pedaços enquanto os residentes nos observavam da porta de seus apartamentos. Depois, temos um cruzamento vertiginoso para o prédio vizinho.

Já dentro do prédio vizinho, subimos mais três lances de escada antes de finalmente emergir em um pátio arejado bem acima das ruas. Um barulho de multidão surge pela porta do outro lado. Há uma grande tábua de carvalho com uma árvore amarela pintada. Passo desajeitadamente por Rosé para abrir a porta para ela. Elas entram e eu as sigo.

O lugar está lotado, mas o clima é estranhamente calmo e parado. Ninguém grita, se cumprimenta e nem há nenhum pedido insistente de número de telefone. Apesar do sigilo mudo de sua localização obscura, o Pomar não serve bebidas alcoólicas.

- Agora eu pergunto a você — Rosé diz assim que entramos e vamos passando pelas pessoas. - Existe algo mais idiota do que um bando de ex-fuzileiros navais e trabalhadores de construção grisalhos afogando suas mágoas na porra de um bar de sucos?

O Pomar é a primeira construção do Estádio que vejo que tem algum traço de personalidade. Todos os acessórios de um bar como esse estão aqui, jogo de dardos, mesas de sinuca e TVs de plasma com transmissões de futebol americano passando. No começo, fico impressionada por haver jogos, mas são apenas reprise de jogos antigos.

- Três pomelos. — Rosé grita para o barman, que parece um pouco envergonhado ao preparar as bebidas.

Sentamos no balcão e as garotas começam a conversar. A música da voz delas substitui o rock clássico estridente da jukebox, mas mesmo assim acaba virando apenas um zumbido abafado. Fico olhando a TV. Fico olhando as pessoas. Posso ver o desenho dos seus ossos por baixo dos músculos. As pontas juntas pinicando por baixo da pele esticada. Ombros, mandíbulas e clavículas, vejo os esqueletos deles e a ideia que vai se formando na minha cabeça é algo que eu não esperava: uma planta ou um design dos Ossudos. Um vislumbre de suas mentes secas e distorcidas.

- Lisa — Rosé cutuca meu braço. - Onde você está? Sonhando acordada?

Sorrio e dou de ombros.

Mais uma vez meu vocabulário falha comigo. Vou ter que achar um jeito de fazê-la entrar em minha mente, e logo.

O barman volta com nossas bebidas e Rosé ri para mim e Jisoo, enquanto avaliamos os três copos do pálido néctar amarelo.

- Lembra de quando éramos crianças e o suco de pomelo puro era só pra quem era durão? Era tipo o uísque das bebidas de crianças.

- Claro! — Jisoo responde rindo. - Suco de maçã, laranja e o resto era pros fracos.

Rosé levanta seu copo.

- Um brinde a nossa nova amiga Lisa.

Levanto meu copo um centímetro do bar e as garotas baixam os delas e batem no meu. Bebemos. Não sinto exatamente o gosto, mas o suco arde a minha boca ao passar por velhos cortes nas minhas bochechas, mordidas que não me lembro de ter dado. Rosé pede outra rodada e, quando chega, ela põe sua bolsa no ombro e pega os três copos. Depois, chega mais perto de nós e dá uma piscadela.

- Já volto. — Diz se levantando e indo ao banheiro com nossas bebidas.

- O que ela... está fazendo? — Pergunto a Jisoo.

- Sei lá, roubando nossas bebidas? — Ela me responde.

Ficamos ali sentadas, num silêncio um pouco constrangedor. Depois de alguns minutos, Jisoo se inclina para mim e fala em voz baixa:

Minha namorada é uma zumbi | Chaelisa Onde histórias criam vida. Descubra agora