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No fim da tarde, chegamos à rua que antes era chamada de Rua da Joia. Os prédios escolares nos esperavam à frente. Rosé hesita em uma esquina, olhando, pensativa em direção às janelas brilhantes da escola.

- Aquelas são as instalações de treino. Mas você não vai querer ver as coisas lá dentro. Vamos em frente.

Sigo-a contente, indo embora daquele lugar sombrio, mas encaro fortemente a placa verde quando passamos por ela. Tenho quase certeza de que a primeira letra é R.

- Qual o nome dessa rua? — Pergunto, apontando para a placa.

Rosé sorri.

- Ah, é a Rua Roseanne.

- Antes era o desenho de um diamante ou algo assim — Jisoo explica - mas o pai dela rebatizou com o nome dela quando as escolas foram construídas. Não é fofo?

- Foi fofo. — Rosé admite. - É o tipo de gesto que meu pai consegue fazer de tempos em tempos.

Ela nos leva próximo ao perímetro das paredes para um túnel grande e escuro que vem diretamente da entrada principal. Percebo que este túnel devia ser onde as equipes faziam suas entradas triunfais no campo, na época em que milhares de pessoas ainda podiam torcer por coisas tão triviais. E como a outra ponta do túnel leva ao mundo dos vivos parece certo que este outro lado leve ao cemitério.

Rosé mostra sua identidade para os guardas e eles nos deixam entrar. Saímos em um campo montanhoso cercado por uma cerca de centena de metros. Espinheiros negros se curvam em direção ao céu cinza e dourado, guardando tumbas de verdade. Cruzes e imagens de santos completam a paisagem. Suspeito que essas coisas foram pegas em algum cemitério antigo, pois os nomes e datas foram cobertos com letras cursivas com tinta branca. Os epitáfios parecem muros pichados.

- Aqui é onde enterramos... o que sobra de nós. — Rosé diz.

Ela anda um pouco à frente de Jisoo e eu fico parada na entrada.

- Tem certeza de que quer entrar aqui exatamente hoje? — Jisoo pergunta a Rosé com cuidado.

Rosé olha para o morro de grama marrom irregular.

- Venho todos os dias. Hoje é um dia, é terça-feira.

- Sim, mas... hã, quer que esperemos aqui?

Ela dá uma olhada para mim e pensa naquilo por um momento.

- Não. Vamos. — Ela começa a andar.

Eu a sigo e Jisoo vem atrás de mim constrangida, mantendo uma certa distância.

Não há aleias neste cemitério, por isso Rosé anda em linha reta, passando por lápides e túmulos, alguns recém colocados. Os olhos dela estão focados em uma torre alta com um anjo de mármore em cima. Paramos na frente dela, eu e Rosé lado a lado e Jisoo ainda atrás de nós. Esforço-me para ler o nome na sepultura, mas ele não se revela para mim. Mesmo as primeiras letras ficam ilegíveis.

- Esta é... minha mãe — diz Rosé. O vento frio do fim de tarde joga o cabelo dela nos olhos, mas ela apenas cruza os braços. - Ela foi embora quando eu tinha doze anos.

Jisoo se contorce atrás de nós e então vai dar uma volta, fingindo examinar os epitáfios.

- Ela perdeu a cabeça, eu acho — Rosé me conta. - Saiu correndo sozinha para a cidade uma noite e foi isso. Acharam alguns pedaços dela, mas... não tem nada nesta sepultura. Acho que tudo isso foi demais pra ela. — Ela aponta vagamente para o cemitério e depois o Estádio atrás de nós. - Ela era uma daquelas pessoas muito livres, sabe? Uma deusa boêmia e selvagem vestida com fogo. Ela conheceu meu pai quando tinha dezenove anos, e ele a levou às nuvens. É difícil de acreditar, mas ele era músico, tocava teclado em uma banda de rock e era muito bom. Eles se casaram jovens e então... não sei bem como... o mundo virou uma merda e meu pai mudou. Tudo mudou.

Minha namorada é uma zumbi | Chaelisa Onde histórias criam vida. Descubra agora