Segundo o som dos gritos, acho Roseanne no portão de embarque de partida. Ela está em um canto, cercada por seis mortos babando, eles vão se aproximando dela, recuam um pouco quando ela balança seu cortador de grama barulhento e fumacento, mas voltam a andar juntos.
Corro até lá e invado o círculo, derrubando-os como se fossem pinos de boliche. O que está mais perto dela eu empurro até a parede e bato com a cabeça dele no concreto ate que seu cérebro aparece e ele cai. Um deles me pega por trás e morde o meu quadril, arrancando um pedaço de carne. Estico a mão para trás, arranco o seu braço podre e então giro com força como se o braço fosse um taco de beisebol e eu fosse Babe Ruth. A cabeça dele gira 360 graus e então cai, arrancada do corpo. Fico parada em frente a Roseanne com os braços levantados em posição de luta e os mortos param de avançar.
- Roseanne! — eu rosno para eles e aponto para ela.
Eles ficam me olhando e balançam a cabeça para a frente e para trás.
- Roseanne! — falo outra vez, não tendo certeza do que mais poderia dizer. Ando até ela e coloco minha mão em seu coração. Solto o braço que usei como bastão e coloco a mão em meu coração.
O saguão está em silêncio, a não ser pelo chiado baixo do cortador de grama. O ar está pesado com o cheiro de damasco estragado que a gasolina soltava, e noto os vários corpos decapitados que estão perto dos pés dela e que não foram obra minha e penso: Muito bom, Roseanne. Você é uma dama e uma pessoa sábia.
- Que merda... é essa? — ouço uma voz grunhir atrás de mim.
Uma forma alta está se levantando. É um dos zumbis que ataquei e dei um soco na cara. E era Jennie. Nem a reconheci no calor do momento. Ela olha para mim e passa a mão no rosto.
- O que está... fazendo, você... — A voz dela morre pela falta de outras palavras.
- Roseanne — falo outra vez, como se isso fosse um argumento irrefutável. Todos os mortos que sobraram, olham para Roseanne em total silêncio, menos Jennie, ela está perplexa e enraivecida.
- Viva! — ela cospe. - Comer!
Balanço a cabeça.
- Não.
- Comer! — ela repete.
- Não! — Lhe digo novamente
- Comer, caralho... — Jennie parece impaciente.
- Ei!
Jennie e eu nos viramos. Roseanne sai de trás de mim. Ela olha para Jennie e aumenta a rotação do motor do cortador.
- Vai se foder — ela diz, encostando um dos braços no meu ombro, e sinto uma picada de calor se espalhar ao seu toque. Jennie olha para ela, depois para mim, para ela e depois para mim de novo. Seu rosto permanece sério. Parece que estamos num impasse, mas antes que ela possa se desenvolver, o silêncio é quebrado por um rugido reverberante, como um estranho sopro de uma cometa sem ar.
Todos nos viramos para as escadas. Vigorosos esqueletos começam a aparecer, um de cada vez, vindos de outros andares. Um pequeno comitê de Ossudos emerge das escadas e se aproxima de mim e de Roseanne. Eles param na nossa frente e formam uma fila. Roseanne vai um pouco para trás, com sua coragem perdendo força diante do olhar escuro e sem olhos deles. Ela aperta o meu braço.
Um deles anda e para bem na minha frente, há apenas alguns centímetros do meu rosto. Nenhum ar sai de sua boca vazia, mas posso sentir um zumbido fraco emanando de seus ossos.
Eu e o esqueleto estamos congelados e olhando fixamente um para o outro, de dedo para dedo e de olho para orbita vazia. Não pisco, e a coisa não tem como piscar. Parece que horas se passam. E então ele faz algo que diminui um pouco o terror causado por sua presença. Ele levanta a mão e tem várias fotos de Polaroide nela, e começa a me passar, uma por uma. Vejo um senhor orgulhoso exibindo seus netos, mas a cara feia do esqueleto não parece a de um avô e as fotos estão longe de aquecerem o coração de alguém. São fotos de uma batalha. Fileiras organizadas de soldados disparando foguetes em nos, rifles disparando com precisão, cidadãos comuns com facões e serras elétricas nos cortando como se fôssemos árvores de amoras pretas, espalhando pingos de nosso liquido escuro nas lentes. Grandes pilhas de corpos frescos e mortos de novo encharcados de gasolina e acesos.
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Minha namorada é uma zumbi | Chaelisa
Fiksi IlmiahEm um mundo pós-apocalíptico, a zumbi Lalisa Manoban acaba se apaixonando pela humana Roseanne Park. No meio de tantas aventuras será que Rosé estaria nutrindo também um sentimento pela zumbi? ( adaptação )