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Levo Roseanne até a praça de alimentação e ela me lança um olhar curioso quando vou direto em direção a um restaurante Tailandês. Quando nos aproximamos, ela se encolhe e cobre o nariz.

- Meu Deus. - ela lamenta.

Os forninhos da frente estão espumando com coisas secas e podres, larvas mortas e bolor. Já estou praticamente insensível a odores, mas a julgar pela expressão no rosto de Roseanne, aquilo é fétido. Procuramos um pouco nos fundos, mas a energia intermitente do aeroporto quer dizer que o freezer só funciona meio expediente, então tudo lá dentro está rançoso. Vou em direção à lanchonete e Roseanne me olha de forma estranha de novo, e então me segue. Entramos no grande freezer e encontramos alguns hambúrgueres ainda frios, mas dá pra ver que foram descongelados e recongelados várias vezes. Moscas mortas mancham o chão do freezer.

Roseanne suspira.

- E agora?

Olho ao longe, pensando. O aeroporto tem um Sushi Bar, mas... me lembro um pouco a respeito de sushi. Se algumas horas podem estragar um filé de hamachi, não quero nem ver o que anos podem fazer.

- Jesus. - diz Roseanne enquanto estou parada pensando. - Você sabe mesmo como planejar um bom jantar de primeiro encontro. - Ela abre algumas caixas de pão mofado e cheira. - Você nunca fez isto antes, né? Quero dizer, levar um humano vivo pra casa?

Faço que não com a cabeça quase que me desculpando, mas fico abalada pelo uso da palavra "humano". Nunca gostei daquela diferenciação. Ela é viva e eu sou morta, mas gosto de pensar que ambas somos humanas. Pode me chamar de idealista se quiser.

Levanto um dedo para conseguir a atenção dela.

- Mais um... lugar.

Andamos até o outro lado da praça de alimentação que não tem identificação. Depois de passar por várias portas, estamos na área central de estoque do aeroporto. Abro a porta de um freezer e uma nuvem de ar gelado sopra para fora. Escondo o meu alívio. Isso estava começando a ficar constrangedor. Entramos e paramos no meio de prateleiras cheias de bandejas com refeições de avião.

- Olha só o que temos aqui... - Roseanne diz, e então começa a procurar nas prateleiras mais baixas, inspecionando os bifes e as batatas processadas. Graças aos incríveis conservantes que colocam nelas, aqueles alimentos parecem estar bem comestíveis.

Roseanne tenta olhar as etiquetas das coisas que estão nas prateleiras mais altas que ela não alcança, e de repente sorri, mostrando fileiras de dentes brancos e perfeitos.

- Olha, tem Phad Thai! Adoro... - Ela se segura e para com aquilo, olhando para mim com desconforto. Então aponta para a prateleira. - Vou querer aquele.

Estico-me por cima da cabeça dela e pego várias bandejas de Phad Thai. Não quero que nenhum dos mortos veja Roseanne comendo o lixo sem vida, essas calorias vazias, por isso eu a levo para uma mesa escondida atrás de um quiosque de cartões-postais que caiu. Tento levá-la mais longe possível da escola, mas ainda podemos ouvir os gritos miseráveis ecoando pelo saguão e os corredores. Roseanne mantém uma expressão de completa calma, mesmo diante dos gritos mais estridentes, fazendo tudo de forma normal para mostrar que não estava notando a carnificina. Será que fazia aquilo por mim ou por ela mesma?

Sentamo-nos em uma mesa e coloquei uma das bandejas em frente a ela.

- Apro... veite. - falo.

Ela ataca o macarrão congelado e duro como pedra com um garfo plástico, e então olha para mim.

- Você não se lembra de muita coisa, né? Quanto tempo faz que não come comida de verdade?

Dou de ombros.

Minha namorada é uma zumbi | Chaelisa Onde histórias criam vida. Descubra agora