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A chuva caia forte. Meus pés pisam em poças nas ruas e espalham lama em minhas roupas recém-lavadas. Meus cabelos caem em meu rosto como algas marinhas. Em frente a uma grande construção de alumínio com uma cruz de madeira compensada em cima, ajoelho-me em uma poça e jogo água no rosto. Lavo a boca com a água que corre na sarjeta suja e cuspo até não sentir mais o gosto de nada. Levanto-me e volto a correr.

Evitando as luzes das ruas, volto para a casa de Rosé. Encolho-me de encontro á parede, encontrando abrigo da chuva embaixo da varanda, e espero enquanto a chuva bate no teto de metal da casa. Depois de um tempo que parece horas, ouço as vozes das garotas a distância, mas desta vez a melodia não incita nenhuma alegria em mim.

Elas correm até a porta da frente. Jisoo está com a jaqueta sobre a cabeça e Rosé está com o capuz de seu moletom vermelho levantado cobrindo quase todo seu rosto. Jisoo chega primeiro à porta e corre para dentro. Rosé para. Não sei se ela me viu, mas algo a faz olhar o lado da casa. Ela me vê encolhida no escuro, como um cãozinho assustado. Ela anda devagar em minha direção, com as mãos nos bolsos do moletom. Então se agacha e olha para mim pela pequena fresta deixada pelo seu capuz.

- Você está bem?

Faço que sim com a cabeça, mentindo.

Ela se senta ao meu lado no pequeno espaço seco e se encosta na parede. Ela tira o capuz e o gorro da cabeça para tirar o cabelo molhado do rosto, depois o abaixa de novo.

- Você desapareceu. Fiquei preocupada.

Olho para ela, mas não digo nada.

- Quer me contar o que aconteceu? — Ela pergunta.

Faço que não com a cabeça.

Depois de um minuto, ela põe a mão no meu joelho e sorri.

- A gente se divertiu hoje, né?

Não posso sorrir, mas concordo com a cabeça.

- Estou meio tonta, e você?

Faço que não com a cabeça.

- Que pena. Isso é divertido. — Seu sorriso vai ficando contido e seus olhos voam longe. - Sabe que bebi pela primeira vez aos oito anos? — Há um pequeno tom de desprezo em sua voz. - Meu pai era um entendido de vinhos e ele e minha mãe faziam umas festas de degustação sempre que meu pai não estava em uma guerra. Eles convidavam os amigos, abriam vinhos de uma boa safra e todos ficavam bem chapados. Eu sentava no meio do sofá e dava golinhos dos copos que eles deixavam. Simplesmente me sentava e ria dos adultos bestas. Rosso ficava muito vermelho! Um copo e ele parecia o Papai Noel. Ele e o papai brincaram de braço de ferro uma vez e quebraram um abajur. Era tão... legal.

Ela começa a mexer na terra com um dos dedos. O sorriso de Rosé agora é tímido, tentador e direcionado a ninguém em especial.

- As coisas não eram sempre tão austeras, entende, Lisa? O papai tinha seus momentos, e mesmo quando o mundo começou a se despedaçar, a gente ainda se divertia. Fazíamos uns passeios pra pegar coisas por aí e achávamos os vinhos mais fodões que você pode imaginar. Alguns Romanée-Conti 1997 de mil dólares a garrafas espalhadas pelo chão, abandonadas em porões. — Ela ri de si mesma. - Meu pai enlouqueceria completamente por um vinho desses alguns anos antes.

Assisto ela falar. Observo sua mandíbula se mover e coleto suas palavras, uma por uma, quando vão saindo de seus lábios.

- Então minha mãe fugiu. — Ela tira o dedo da terra e examina o serviço. Ela desenhou uma casa. Uma pequena casinha exótica com uma nuvem de fumaça saindo da chaminé e um sol benevolente sorrindo acima do telhado.

Minha namorada é uma zumbi | Chaelisa Onde histórias criam vida. Descubra agora