Capítulo 3:

550 61 15
                                    

Passei a noite praticamente em claro, para não dar mais espaço aos meus pensamentos decidi voltar para a ala médica e tentar achar a solução para fazer o medicamento.

Apesar de agora saber das coisas daquele século não era de grande ajuda, mesmo para alguém que veio do século XXI, e que tinha um vasto conhecimento sobre muitas coisas. Eu de fato estava bem a frente de todas as pessoas ali, mais meus conhecimentos se limitavam as limitações do século que eu estava.

E mais um dia já havia se passado e eu ainda sequer tinha achado ao menos um caminho. Se eu não começar o tratamento logo, Balduíno irá morrer, e eu ficarei presa aqui para sempre, destinada ao sofrimento que todos aqui estão predestinados por causa de Saladino.

Guy o marido de Sibylla subirá ao trono e só trará mais sofrimento ao povo, Balduíno é o único capaz de trazer a paz para Jerusalém, e o destino de todos principalmente o dele estava em minhas mãos.

Eu estava tão cansada, tanto fisicamente quanto mentalmente, meu corpo estava exausto de tudo e pedindo quase que desesperadamente por descanso.

Sibylla adentrou o lugar decidida a me levar junto dela e Balduíno para comer com deles, eu acabei cedendo depois de muita insistência, apesar de até mesmo comer ser um luxo que eu não estava podendo ter, aceitei ir porque tinha certeza de que ela não iria embora enquanto eu não fosse.

Eu também estava com um certo receio porque desde que falei com ele nós não tínhamos nos visto ainda, sinceramente eu estava muito nervosa, eu praticamente passei por cima da palavra do rei e deixei por isso mesmo, minha principal preocupação tem sido sobre fazer o medicamento que nem parei direito pra pensar no que eu tinha feito, eu caminhei torcendo com todas as forças para que ele tenha levado como gesto de uma amiga preocupada..apesar de tudo era o que éramos.

Eu entendia agora a conexão que senti quando eu vi Sibylla pela primeira vez, nós éramos amigas desde muito antes, sempre fomos muitos próximas e estávamos sempre ali uma para outra se precisasse. Ela se casou com Guy por meio de um casamento arranjado feito pela mãe dela, ela definitivamente não o ama, e ele só estava com ela pela conveniência já que ao lado dela era só questão de tempo para ele se tornar rei, esses anos todos devem ter sidos insuportáveis para ela, estar ao lado de um homem tão ruim e mesquinho além de alguém cruel o bastante para apoiar atos de crueldades, com certeza era um castigo que ela não merecia. Apesar disso, Balduíno de certa forma apoiou esse casamento, Guy era influente e Sibylla era a única a dar continuidade a linhagem com herdeiros ao trono, já que ele não poderia.

Até mesmo o destino da minha querida amiga estava em minhas mãos, com o rei curado ele poderia casar-se para dar continuidade a linhagem real e ela poderia se divorciar daquele homem e poder estar com quem ela ama verdadeiramente.

Ao chegarmos no salão Balduíno já estava a nossa espera, ele se levantou em gesto cavalheiresco e pude notar seus olhos me encarando fixamente desde que adentrei o local, ele parecia um tanto inquieto e diria até que um pouco nervoso.

O cumprimentei de maneira cortez e não me atrevi a encara-lo, me sentei alcançando a colher e a enchendo da sopa que estava servida.
Eu repreendi mentalmente sibylla por nos deixar sozinhos com o visível pretexto de algo a fazer na cidade, seu sorriso de canto a entregou e quando vi eu estava no silêncio árduo com ele.

- Sice._ Ele finalmente quebrou o silêncio entre nós.

- Sim?_ Engoli em seco.

- Sobre aquele dia._ Ele fez uma breve pausa.
Suas palavras me fizeram refletir bastante. Me perdoe pela preocupação que lhe causei, eu gostaria que as coisas fossem diferentes.. pensar nas coisas, até as mais simples que eu sequer posso fazer e que muitas nunca terei._ Ele se virou para mim.
Me deixa em completo desespero e em uma profunda tristeza. Mas você me trouxe esperanças, na verdade você sempre foi a minha esperança.
E minha esperança nunca falhou, mesmo nos piores momentos. Obrigada, minha Sice. Por tudo.

_Eu conseguia ver um sorriso gentil e sincero mesmo sob a máscara. Seus olhos buscavam os meus de maneira tão intensa como se quisessem dizer algo que seus lábios não disseram ou que não se atreviam a dizer.
- Vai ficar tudo bem._ Mesmo relutantemente ele permitiu que eu encostasse minha mão sob a dele.
Eu fiz uma promessa, e eu pretendo cumpri-la._ Busquei seus olhos na mesma intensidade tentando transmitir segurança pelo peso das minhas palavras e transmitir o que eu também não me atrevia a dizer, nem a mim mesma.

Ele me convidou para caminhar um pouco enquanto conversávamos sobre diversas coisas. E foi ali que me lembrei o quão confortável era conversar com ele, falar sobre tudo e nada, e mesmo assim ele mantinha sua atenção em mim, sem desviar sua atenção e seu olhar em momento algum. Eu sentia falta de estar ao lado dele, queria poder ficar para sempre ao seu lado.

Nós paramos no salão externo que ficava na parte de trás do castelo, era um espaço grande e vazio, apenas tinha alguns equipamentos nos cantos e uma porta que dava vista para o deserto e algumas casas.

- Tenho saudade de uma paisagem colorida, árvores e principalmente flores._ Pensei alto enquanto tentava imaginar.

- Flores?_ Ele perguntou se virando para mim.

- Rosas vermelhas._ Ditei com um pequeno sorriso de canto.
Eu às acho lindas, sinceramente nem sei quando foi a última vez que vi uma.

- É verdade, nosso deserto nos faz esquecer da vista verde de um campo e do florido das flores.

Alguns dias se passaram, minha rotina se resumia em ficar na ala médica e ir para a tenda médica da cidade, ora para resolver algum assunto ora para auxiliar os aprendizes.
A situação com o medicamento ainda estava no mesmo, apesar das minhas tentativas eu não conseguia fazê-lo de maneira correta, e meu tempo estava acabando. Se Balduíno não começar o tratamento logo que dura alguns meses eu vou fracassar na minha missão e ver aquela cidade cair nas mãos de Saladino. Sobre tudo, ver as pessoas com quem eu me importo sofrerem com aquilo e por minha causa.

Era como ter um copo de água em meio ao deserto, ter a solução para sede mais não conseguir bebê-lo. Eu sabia a cura para a doença sem cura daquela época, mais não conseguia produzi-la, e isso estava acabando comigo.
Sibylla veio me chamar para uma reunião com Balduíno e algumas pessoas da comitiva real, se tratava de alguns problemas com algumas plantações na cidade. Eu precisava espairecer um pouco e tomar um pouco de ar então aceitei ir.


Eu sentia meu corpo estremecer a medida que caminhávamos para o local, eu estava me sentindo sem forças até mesmo para suportar meu próprio peso. Ao chegar lá vi várias pessoas discutindo alto sobre algo que nem era compreensível por conta do alto tom de voz deles. Tiberias e Belian estavam presentes e assentiram para nós assim que chegamos. Balduíno estava sentado apenas observando aquela situação, nossos olhares se encontraram quando me aproximei dele, eu o cumprimentei me curvando levemente voltando minha atenção para aqueles homens discutindo.

Eu sentia minha visão girar, como quando saímos daqueles brinquedos, meu corpo estava febril, o frio que eu sentia me fazia arrepiar e meu peito se esforçava para puxar o ar. Eu escutei alguém chamar meu nome por algumas vezes mais não consegui distinguir quem era e de onde vinha, me lembro de caminhar alguns passos desnorteada antes de uma escuridão tomar conta dos meus olhos e sentir o chão gelado sob minha pele.

𝔓𝑟𝑒𝑑𝑒𝑠𝑡𝑖𝑛𝑎𝑑𝑜𝑠𓂃⊹๋࣭ ⭑Onde histórias criam vida. Descubra agora