Capítulo 5:

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_Balduíno pov version_

"As despedidas nunca apagam as lembranças que se eternizam nos corações", era essa a frase que ecoava em minha mente enquanto eu a via partir da cidade e sumir em meio a multidão, mas mesmo com todas as doces lembranças que eu tenho dela, esse vazio em mim não desaparece.

Nenhum desespero em batalha quando se é posto sua vida em risco pelo bem maior se compara ao desespero que senti ao vê-la partir, e quando tomei enfim consciência de que ela talvez nunca mais voltaria para mim o meu coração mergulhou em águas tão profundas que eu não conseguiria retornar a superfície por um longo tempo, ou talvez jamais retornaria.

Ela partiu, e levou consigo meu coração, mesmo que amar é deixar partir e suportar tudo pelo bem da pessoa que carrega seu coração, como eu poderia continuar sem a pessoa que eu mais amo ao meu lado? Compreender os motivos de sua partida não diminuí essa dor, ela é minha esperança, meu motivo de felicidade e minha calmaria, eu agora me encontro em meio ao completo desespero e agonia de saber que ela não está por perto, não está mais ao meu lado como sempre esteve e talvez não voltará a estar nunca mais.

Desde o dia que eu a vi pela primeira vez eu a amei, esse amor durou por anos e eu a amarei até o meu último suspiro. Acredito que eu esteja fadado a viver em solidão, como se tudo conspirasse contra mim, não desde o meu nascimento, mais logo depois de conhecê-la, como se algo nos impedisse de ficarmos um com o outro, nosso tempo juntos foi muito curto antes de nos afastarmos fisicamente, eu amava estar ao lado dela e como amava segurar em sua mão e caminhar livremente sem a preocupação de machucá-la, mais parece que essa é a minha provação, e vivo sob dois extremos dessa provação, uma doença que tirará a minha vida em algum momento e não poder me apaixonar por causa dessa voraz doença.

Mas eu acabei me apaixonando, me apaixonei incondicionalmente por ela, e mesmo sabendo que eu nunca a teria para mim e que nunca viveria a vida que desejava viver ao lado dela, a cada dia que se passava eu a amava mais.

Eu precisava e tentei me convencer que meus desejos nunca se realizariam, mas quando eu a via, aqueles olhos, aquele olhar e aquele sorriso incomparável, me fazia esquecer de tudo que me impossibilitava de ser feliz ao lado dela, mesmo que por alguns instantes, porque eu via nela esperança, a esperança que em mim não havia mais, porém nela tinha. Eu não consegui me convencer de que não estaria ao seu lado, que nunca a tocaria e que não ficaria ao menos um bom tempo consigo apenas pela alegria de sua companhia, eu me negava a aceitar esse destino triste e um tanto cruel que me foi dado. Porém aprendi a lidar com isso, tive que aprender para que não me corroece por dentro o desespero de não poder amá-la.

Me conformava em tê-la ao meu lado, e poder ver a médica incrível que ela se tornou, e viver de ilusões que eu mesmo criava, doces ilusões em um mundo onde ela era minha, e eu podia enfim amá-la como desejo. Eu faria tudo humanamente possível por ela, tudo que eu podia eu fiz, porque sua felicidade era minha felicidade, era a maneira de eu dizer "eu amo você Sice", porque eu jamais poderei dizer isso para ela em palavras, eu morrerei guardando para mim esses sentimentos e esse amor incondicional que nutri por ela todos esses anos. Ela foi a primeira mulher que amei e será a única na minha vida.

Quando ouvi de seus lábios que ela partiria em busca de seu pai para ajudá-la com o medicamento o meu coração nublou de maneira tão escura e apreensiva, fiquei tão extasiado pela notícia que sequer conseguia raciocinar direito, minhas mãos tremiam e senti meus olhos arderem mais que o normal. Nunca passou em minha mente ficar longe dela um dia sequer, mais agora eu ficaria por semanas ou até meses. Eu estava tão apavorado com aquela notícia que não consegui olhar em seus olhos. Apesar de tudo, não poderia impedi-lá, mesmo que eu quisesse, eu não poderia. Era o desejo dela, talvez estivesse com saudades do pai e estava cansada da vida que tinha aqui, ou talvez estivesse cansada de mim, a companhia de um leproso fadado a morrer não era a melhor para uma mulher que tinha a vida toda pela frente.

Era o que pensava naquele momento, porém, mesmo se fosse essa a verdade e mesmo sentindo como se uma lança tivesse atravessado meu peito, eu jamais ficaria chateado com ela, se era esse o seu desejo eu a concederia, mesmo partindo meu coração.

Em um momento de grande alegria cheguei a pensar que viveria até os 100 anos, e que teria todo esse tempo com ela, mas hoje sei que não viverei até os 30. Meus dias estão contados, e o que me resta é esperar e finalmente me convencer de que não viverei com ela, mais meu coração ainda se nega a isso. Mesmo com a partida dela, não consigo me convencer.

Já fazem 6 meses que ela partiu e não tive nenhuma notícia, nenhuma carta e nenhuma uma mensagem, me perguntava todos os dias se ela estava bem, se havia chegado e encontrado seu pai e se voltaria para mim como tinha prometido. Não queria dar espaço a pensamentos que me diziam que ela nunca mais voltaria para mim, apesar de constantemente me ver pensando nisto, mesmo os repudiando de todas as maneiras, mas ninguém consegue fugir de pensamentos intrusivos, e estar em um medo profundo ajudava a dar espaço para eles. A doença havia avançado de maneira que não conseguia mais caminhar por muito tempo, meu corpo estava parando de sobreviver aos poucos e eu sentia isso, eu não tinha mais forças para viver apenas para sobreviver, principalmente sem tê-la comigo.

Eu estava destinado a uma vida triste e vazia de amor, e agora sem ela eu estava aos poucos me convencendo disso. Eu ao menos podia amá-la de longe, seu sorriso gentil me dava forças para sobreviver por pior que eu estivesse, mas agora eu estava sozinho.

Sempre que aguentava eu caminhava até os portões do palácio e ficava lá na esperança de que veria ela entrando por eles e vindo até mim. Por dias, semanas e meses, eu esperei pacientemente. Mais ela não voltou.
Contudo, ainda esperava paciente, porque ela era o restante de esperança que eu tinha em minha vida.

Meu corpo fraquejou após alguns minutos em pé, Tiberias me pegou antes de cair no chão e me ajudou a me sentar. Eu estava mais um dia de frente com o portão na esperança de vê-la retornar. Eu não tinha muito mais tempo, esperar ela entrar por aqueles portões estava se tornando meu último desejo, eu queria ver ela uma última vez.

Eu refletia sobre partir sem confessar a ela tudo o que eu sinto, mesmo que tivesse decidido a nunca contar, pensei algumas vezes na possibilidade de talvez conta-lá quando voltasse, mas talvez se tornaria um fardo para ela ser amada por um homem leproso, Sice é gentil demais para magoar alguém, e por isso talvez não rejeitaria o que sinto, mais guardaria para si esse fardo.

Mais e se..e se meus sentimentos forem mútuos? E se ela me amar tanto quanto eu a amo? Que felicidade eu sentiria de saber que sou amado por ela. Ter o seu amor era o meu maior e mais profundo desejo.
Mas acabaria sendo uma infelicidade ao mesmo tempo, ter meu amor retribuído e nunca poder amá-la como anseio por tempos e não poder fazer dela minha rainha.

Eu fechei os olhos em exaustão, e suspirei fundo lembrando de seu rosto no fatídico dia que ela partiu.

- Minha doce Sice._ Sussurrei a mim mesmo.
Volte para mim, por favor..

Eu adormeci ali mesmo em meio a vários pensamentos sobre ela, e despertei ao escutar alguém chamar pelo o meu nome.

- Meu rei, eu voltei, como prometi.

𝔓𝑟𝑒𝑑𝑒𝑠𝑡𝑖𝑛𝑎𝑑𝑜𝑠𓂃⊹๋࣭ ⭑Onde histórias criam vida. Descubra agora