Capítulo 8:

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Já fazem dois dias desde que o rosto de Balduíno foi revelado, e que minha missão aqui terminou. Eu o evitei esse tempo como pude, não queria encontrá-lo, não até o baile. Eu tratei de assuntos não terminados na tenda médica, deixei o máximo de anotações que pude e dei a eles os últimos ensinamentos e conselhos que eu podia, sei que vai ser de grande ajuda para o povo. E agora eu estava quase pronta para partir, só faltava me despedir de todos e principalmente dele.

Eu brincava com a espuma da banheira enquanto refletia sobre o tempo em que estive aqui, foram momentos inesquecíveis que nunca jamais esquecerei, saber da vida que tive aqui me deixava feliz, mas não se comparava a tristeza e o vazio que aos poucos estava tomando conta do meu coração.

Talvez o desejo de curá-lo me trouxe aqui, ou me levou para lá para que eu pudesse aprender a cura para ele, eu realmente nunca saberei a verdade sobre isso. O que sei, é que tive uma vida em ambos os séculos, mas eu vim parar aqui, então devo retornar de onde eu vim.

Sibylla estava tão animada com o baile que fez questão de preparar tudo para que saísse perfeito. Ela deixou em meu quarto um lindo vestido vermelho vinho, com alguns pequenos adereços em rendas da mesma cor, era o vestido mais lindo que vi em toda a minha vida. Segundo ela, Balduíno havia escolhido e mandado fazer, além de pedir que ela me entregasse uma pequena caixa.

Ao notar o quão tarde já estava pela tonalidade dos raios de sol alaranjados pela janela, me levantei as pressas para me arrumar. De alguma forma, aquele vestido me trazia a doce sensação de estar próxima a ele. Por mais feliz que eu estivesse, eu não conseguia não pensar que cada momento aqui agora seria de fato o último, e que esta noite seria a última, e seria a última vez que eu o veria e estaria com ele.

Eu caminhei até a cama onde estava a pequena caixa, eu a abri notando um lindo colar prateado, tão minimalista nos detalhes que era quase que hipnotizante ficar apreciando aquela peça, eu fiquei completamente surpresa. Me aproximei do espelho de canto do quarto e cuidadosamente o coloquei, ele era lindo e combinou perfeitamente com o vestido.
Junto a caixa, também havia um pequeno papel.

──

Minha querida Sice,

Tenho guardado este presente a tempos, esperando o momento certo para lhe entregar, e hoje, finalmente este dia chegou, eu espero que goste e desejo ansiosamente vê-la usando.

                                  Com amor, Balduíno.

                                                                 ──

Eu suspirei fundo antes de sair do quarto e caminhar até o salão, podendo ouvir o som da música e das conversas cada vez mais alto ao me aproximar do lugar. A cada passo que eu dava, um sentimento de nostalgia tomava conta de mim, me pegava lembrando do primeiro dia aqui quando caminhava com Sibylla neste mesmo lugar, apreciando tudo feito uma criança em um parque cheio de brinquedos. Um pequeno sorriso se fez em meus lábios, porém, por trás deste sorriso escondia uma angustia que vinha crescendo em mim.

Eu finalmente cheguei até as portas do salão e sinalizei aos guardas que não abrissem ainda, eu precisava de um tempo para tomar coragem. Eu poderia simplesmente voltar para meu quarto e ir embora sem ter que passar por isso, mas eu precisava me despedir, jamais me perdoaria se fosse embora sem vê-lo uma última vez, mesmo que odiasse despedidas, mesmo com a incerteza da vez passada quando parti em busca de meu pai, em meu coração eu tinha o conforto de que voltaria para ele. Mas agora, essa despedida seria para sempre, nós nunca mais nos veríamos, e eu já estava tendo a plena noção dessa dura realidade.

Respirei fundo acenando para que enfim abrissem as portas, e me recompus colocando nos lábios um pequeno sorriso para que fosse mais convincente a minha " felicidade".

Ao entrar, notei o quão cheio estava, haviam pessoas as quais não conhecia, e assim que meu nome foi anunciado, as mesmas se curvaram educadamente a mim, eu retribuí a gentileza. No momento em que meu nome ecoou pelo salão, Balduíno se levantou no mesmo instante do trono e seus olhos me seguiram por todo o lugar.

- Sice._ Sibylla veio até mim.
O vestido ficou maravilhoso em você minha amiga._ Ela sorrio carinhosamente me abraçando em seguida.
Estava preocupada por sua demora, está tudo bem?

- Sim, está sim._ Ditei em seguida demonstrando um sorriso gentil.

- Vem, meu irmão estava impaciente perguntando por você. Não sabe como ele estava ansioso para vê-la._ Ela ditou com um sorriso um tanto travesso nos lábios segurando em minha mão e me puxando até ele.

Assim que ficamos frente a frente, me curvei cordialmente para ele, o mesmo veio em minha direção alcançado minha mão e me levantando. Seus olhos eram tão hipnotizantes que chegava a ser quase impossível não olhar para ele. Seu rosto doce e gentil era exatamente como eu imaginava, tão bonito quanto a imagem que minha imaginação criou dele depois de tanto tempo sem vê-lo, nunca me cansaria de apreciá-lo. Tudo nele era convidativo a apreciação, um homem tão bonito por fora quanto por dentro.

- Você está linda._ Ele ditou sussurrando a mim e me puxou para ficar ao seu lado.

Eu sorri o agradecendo, ele então voltou sua atenção ao povo que prostraram suas atenções a nós ao nos ver a frente do trono ao tilintar da taça de Tiberias. Balduíno ditou um breve discurso sobre eu tê-lo curado e ter "descoberto" a cura para lepra, e agora, nosso reino seria totalmente livre dessa doença, e seria cada vez mais um reino datado de saúde graças a mim. Eu fiquei um pouco envergonhada e corada por suas palavras mas sorri ao pensar que de fato agora, com os meus conhecimentos o nosso povo não iria ter que se preocupar tanto com a questão da saúde.

Ver as expressões de Guido e Renaud me deixava aliviada em saber que eles sequer teriam chance alguma de realizarem suas maldades e isso me trazia um pouco de conforto, Balduíno governaria livremente sem muitos problemas e com a paz que lhe foi tirada por anos.

Após o termino do discurso, todos voltaram a dançar e a conversarem entre si, Balduíno se aproximou um pouco mais estendendo sua mão para mim.

- Me concede esta dança?_ O mesmo ditou com um sorriso de canto.

- É claro._ Eu disse segurando em sua mão e caminhando com ele até o meio do salão.

Ficamos de frente um para o outro, e um silêncio se fez no lugar, outros casais estavam como nós e os demais em nossa volta apenas observava tudo. Assim que a música se iniciou ele deu alguns passos em minha direção e colocou sua destra em minha cintura me puxando para ele cautelosamente enquanto segurava em minha outra mão. Descansei a outra em seu ombro e então iniciamos a dança. Eu sentia como se houvesse somente eu e ele naquele lugar, me sentia atraída até mesmo pelo cheiro dele que agora estando tão perto eu conseguiria até descrevê-lo de maneira detalhada, era como o cheiro da chuva antes de cair, misturado com um pequeno toque adocicado e um leve aroma de menta.
Seus olhos buscavam os meus de maneira intensa como se quisessem me dizer algo, me atraia ainda mais querendo saber o motivo, e a incógnita daquele olhar misterioso.

Ele passou suas mãos para minha cintura me levantando e girando no ar, a fenda do vestido em minhas costas dava a ele espaço para que suas mãos tocassem em minha pele desnuda, ele às vezes deslizava a ponta de seus dedos lentamente para cima e para baixo me fazendo arrepiar, sendo respeitoso a todo momento.

Minha respiração estava tão pesada, tentar não sentir o que eu estava sentindo era quase impossível, ele estava ali, na minha frente, nada a minha volta importava para mim, eu o queria, queria sentir o seu toque em minha pele, e sobre tudo, queria sentir seus lábios sob os meus. Reprimir os desejos que mantive imersos por tanto tempo naquele momento não era o que eu queria, "eu quero você....eu quero ser sua", eu pensava e por um instante desejei que ele pudesse ler a minha mente.

- Majestade? Quanto tempo, eu acabei de chegar. Ainda não tive a oportunidade de cumprimentá-lo._ Uma mulher loira de semblante angelical se aproximou de nós.

𝔓𝑟𝑒𝑑𝑒𝑠𝑡𝑖𝑛𝑎𝑑𝑜𝑠𓂃⊹๋࣭ ⭑Onde histórias criam vida. Descubra agora