Herdar um castelo é incrível. Você está vivendo de boa quando recebe uma ligação e adivinha? O vovô que você nunca conheceu bateu as botas e deixou uma propriedade medieval no seu nome. Demais. Só que quando o castelo em questão pode estar a ponto de desabar sobre a sua cabeça e parece ser assombrado por fantasmas da época de Cristo, você começa a se perguntar se foi mesmo uma ideia inteligente deixar a vida que conhecia para trás para morar num lugar daqueles.
- Olha, pelo menos as descargas funcionam! - Vitória disse animada, deixando o banheiro de um dos quartos com um sorriso gigante. Ela estava testando todas as descargas e torneiras de cada ala do castelo. - Pelo menos os seus ancestrais se preocuparam em investir em encanamento moderno. Eu aposto que os chuveiros também têm água quente!
- Eu prefiro internet do que canos - Alonso comentou. Ele estava segurando o celular com os braços estendidos para o alto, tentando pegar sinal. Ele escalou a cama de dossel enorme do quarto onde estavam e começou a andar de um lado para o outro no colchão. - Eu disse para os meus amigos do Brasil que eu ia fazer uma live mostrando o castelo. Ô, Mari, quando você vai colocar Wi-fi?
Mariella não respondeu. Ela estava ocupada analisando as paredes, teto e olhando debaixo das camas. Queria estar ciente dos danos do castelo e saber se precisaria lidar com ratos.
O Sr. Cipolla tinha ido embora depois de um breve tour na propriedade. Ele passou o endereço do seu escritório em Bréscia e disse que mandaria por e-mail o contato de boas empresas que poderiam dar início às reformas. Mariella já podia imaginar as tardes que passaria tentando terminar o seu livro com o barulho de uma furadeira na cabeça.
- Mari, você não vai ser chutada para fora do castelo - Vitória disse, provavelmente notando a expressão preocupada no rosto dela.
A amiga não tinha ido para longe com Alonso mais cedo enquanto Mari conversava com o advogado. Ao invés disso, os dois se esconderam atrás de uma armadura medieval no fim do saguão e seu irmão traduziu toda a conversa aos sussurros.
Mari devia ter cuidado com aqueles dois. Quando decidiam se unir, eram mais perigosos que o diabo e suas legiões.
- Eu não vou, mesmo. Isso tá fora de questão. Para eu sair daqui, vão ter que me arrastar pelos cabelos! - Ela deixou o quarto e caminhou com eles por um corredor amplo e de lustres empoleirados. O Sr. Cipolla tinha contado que o castelo Cavalieri passou por amplas reformas no fim do século XIX, o que o transformou em um exemplo da arquitetura neogótica. Isso explicava os arcos enormes, os vitrais, lustres e até uma ou outra gárgula. Mari gostava do estilo, tinha que admitir. Dava a vibe vampiresca que a fazia querer pegar o notebook e continuar seu livro naquele instante. Ela só não sabia se continuaria achando a decoração tão encantadora quando quisesse fazer um lanchinho à meia-noite.
Eles ainda estavam explorando quando um barulho alto e esquisito a fez se virar para trás em um pulo. Ela quase se armou com o vaso decorativo em um pedestal do corredor.
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Um castelo de presente
RomanceMariella não esperava herdar um castelo medieval italiano da noite para o dia. Ela estava ocupada demais tentando criar o irmão mais novo depois da morte da mãe e escrever seu novo livro no tempo certo para ficar sonhando acordada com heranças, cast...