A escola

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Demorou um pouco para chegar na nova escola, já que ela se encontrava no outro lado da cidade. A escola Raimundo de Farias Brito é uma escola quase que invisível aos que não moram por perto. Eu mesmo passava muitas vezes por perto e nunca reparei até o dia da matrícula.

Ao sair do carro encontro Yasmin que estava sentada em um banco na frente da escola, como sempre com um espelho em mãos.

- Eai viada - Digo tirando o espelho de suas mãos e a assustando.

- Credo, Theo, achei que já estava sendo assaltada no primeiro dia.

- Quem iria roubar um espelho de cinco reais da shopee? Acho que o máximo que poderia acontecer é um mendigo tentar cheirar seu cabelo - ela me encara como se eu tivesse acabado de falar merda - Longa, porém verdadeira, história.

- Okay, vossa majestade príncipe gay. O sinal já vai tocar e eu não quero ser a última a entrar na escola - primeiramente eu sou o rei e não um príncipe - E você tem que aprender a esconder machucados melhor. O que ele fez dessa vez?

- Copo de vidro - respondo seco - Mas eu tô bem, sério.

O sinal toca antes que ela possa dizer mais alguma coisa a respeito. Seguimos para nossa sala cujo seu pai pagou para que ficássemos juntos.
Escolhemos lugares lado a lado no fundo da sala quase vazia. Acho estranho que nessa escola, embora haja regras, os alunos entram no horário que bem entendem.

- O que você faz no meu lugar - Diz uma voz fina e consideravelmente chata. Ao levantar a cabeça vejo uma menina loira e magra de frente para Yasmin - É surda por acaso? Eu perguntei o que você faz no meu lugar, vadia.

A expressão no rosto de Yasmin mostra que essa falsa loira vai se arrepender de ter aberto a boca para falar algo. Yasmin não é de discutir, mas essa menina está pedindo.

- Desculpe, meu amor, mas eu não vejo seu nome em lugar nenhum aqui - O tom de falsa simpatia é nítido em sua voz - E outra, sua putre, eu ia dizer que vadia é sua mãe mas acho que ela já tem vergonha suficiente por ter te dado a luz.

- O que? Você por acaso sabe quem eu sou? Sou eu quem manda nessa merda de escola - Ela se exibe como se "mandar" em uma escola de segunda fosse o mesmo que ser presidenta - Agora eu quero que você saia do meu lugar.

- E por acaso você sabe quem eu sou? Eu sou Yasmin Cesarini, filha de Reinaldo Cesarini, dono da franquia de mercados Cesarini - (Quantos Cesarini's em uma só frase) Esqueci de mencionar que sr. Reinaldo é dono de uma franquia de supermercado famosa no estado - Inclusive eu acho que te conheço. Não foi você que
Derrubou toda uma pilha de molho de tomate empilhada outro dia? Acho que "sua" escola adoraria ver você basicamente nadando em molho de tomate antes de o gerente chegar para te acudir. Caso queira eu tenho o vídeo de segurança.

- Para de mentir, sua idiota, até parece que alguém como você poderia ser algo mais que filha de um dono de boteco - Agora ela está pedindo pra apanhar - Não vou repetir de novo. Sai do meu lugar antes que eu te tire dele pelos seus cachinhos mal definidos.

- Tem certeza que vai querer duvidar de mim, meu amor? Se eu quiser você fora dessa escola o meu pai vai pagar para aquela diretora corrupta te expulsar no primeiro dia de aula - A menina ainda parece cética a respeito da veracidade das palavras de Yasmin - E a propósito amei o seu cropped de segunda mão, você conseguir tirar as manchas de molho dele?

A garota ficou boquiaberta com o que acabou de escutar, acho que ela nunca havia sido contrariada na vida. Eu já havia visto o vídeo do molho de tomate e admito que eu ri em cada segundo.

- Sou obrigada a passar por cada coisa, viu? - Ela agora está sentada novamente em seu lugar onde volta sua atenção ao espelho - "você sabe quem eu sou?" Vai se fuder, eu hein.

- Eu tenho que admitir que foi bastante divertido ver você batendo nela com palavras. Mas putre? Desde quando usa palavras assim?

- Vai se fuder, Martinelli - Ela me acerta uma borracha enquanto ri - Se ela voltar a encher meu saco eu vou partir para a agressividade.

Depois de alguns minutos um homem baixo de cabelos negros entra na sala e vai em direção a mesa do professor.

- Bom dia, meus amores. É muito bom rever seus rostos e também encontrar novos alunos - É muita alegria para uma segunda de manhã - Aos que não me conhecem, eu me chamo Marco Spazzatura - Ele diz enquanto escreve seu nome no quadro branco - Antes que os fluentes em italiano possam dizer algo, eu sei o significado do meu nome. Um conselho de vida: não faça apostas sobre sobrenomes pois seus netos irão sofrer.

Por que alguém faria uma aposta assim? Acho que nem meu pai nos seus piores dias faria isso.

O resto do dia foi desinteressante para caramba e eu sinceramente prefiro pular essa parte e talvez esquecer.
No lanche eu e Yasmin nos sentamos em uma mesa separada no canto da cantina, na esperança de não termos que interagir com humanos. Isso não dá certo, pois uma garota e um garoto se sentam junto a nós.

- Sou Helen e esse é o Nicolas - Ela diz estendendo a mão para mim enquanto Nicolas cumprimenta Yasmin - Vocês são os novatos na sala né? Foram expulsos da outra escola ou estão tentando fugir de alguém?

- Quê? - Digo tentando entender a pergunta.

- As pessoas não costumam vir para cá por vontade própria, então é difícil conhecer alguém com quem eu não tenha estudado desde o fundamental. Desculpa se pareci uma lunática, aliás. - Ela fala bastante rápido.

- Tá de boa. Sou Theodoro e essa é a Yasmin - Realmente eu não viria para cá por vontade própria - E viemos para cá para tentar fugir de tantas regras da Sommer - Até que enfim uma mentira descente, Theo. Essa foi boa.

- Fala sério que vocês saíram da Sommer? Eu sempre quis estudar lá, mas nunca fui aceita - Realmente a concorrência para entrar é grande - O que estão achando da escola até agora? Uma merda ou tolerável?

- Uma merda levemente tolerável - Diz Yasmin que eu havia esquecido que estava lá junto a nós - Sem ofensas viu.

- Tudo bem aqui é mesmo horrível.

- Não foi você que discutiu com a Lana hoje mais cedo? - Diz Nicolas voltado pra Yasmin - Sinceramente aquela garota merecia mesmo era um soco naquele nariz feio.

- Ainda bem que eu não sou a única que achou aquela batata na cara dela é horrível - Diz Yasmin rindo - Sim, fui eu, mas ela mereceu. Ninguém me chama de vadia e sai sem pelo menos um arranhão no ego.

- Gostei de vocês. Querem sair com a gente depois da aula? Vamos comer em uma lanchonete aqui perto - Eu e Yasmin nos olhamos e concordamos - Ótimo. Até mais tarde.

"Lanche de graça e novos amigos!" Foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça e "Novos amigos estranhamente legais e um pouco desesperados" foi a segunda, mas o que eu tenho a perder?

Acho que estudar aqui não vai ser tão torturante quanto eu imaginava, afinal.

O AdimiravelOnde histórias criam vida. Descubra agora