Acordo às 05:00 da manhã do dia 13 de fevereiro. Hoje será o primeiro dia de aula em uma nova escola, um mundo novo. É estranho simplesmente mudar de escola no terceiro ano do ensino médio, ainda mais quando já se tinha uma vida social completa, mas eu tenho meus motivos para não querer voltar a pisar na Sommer novamente.
Estou saindo do banho quando recebo uma mensagem de Yasmin.Yas: acho bom você já estar acordado, Martinelli.
São 05:30 da manhã de uma segunda-feira e a única coisa que eu quero é voltar para a minha cama e dormir até sentir que já posso sequer pensar em começar o dia.
Me: com certeza eu já estou, Yas, Você me conhece a muito tempo e sabe como eu amo manhãs de segundas-feiras e procuro sempre acordar às 03:41
Yas: se me responder assim de novo eu vou chorar. Você sabe muito bem que eu só estou indo para essa nova escola por sua causa. Qual o nome desse troço mesmo?
Me: Escola Raimundo de Farias Brito
Realmente a Yasmin só está indo para a Raimundo Farias por minha causa. Segundo ela eu "não conseguiria sequer atravessar uma rua sem morrer". Embora tenha achado ofensivo ela não está errada.
Yasmin é como uma irmã para mim desde que nos conhecemos na pré-escola. Minha mãe diz que desde aquela época já éramos inseparáveis e até mesmo nos uniamos para fazer nosso "planos malefícios".Após colocar o uniforme da nova escola e escovar meus dentes, eu desço as escadas e passo silenciosamente pela sala de estar onde meu pai está dormindo. Ele bebeu muito ontem a noite e despencou no sofá. Desde que minha mãe o deixou ele tem se tornado cada dia mais agressivo e tem bebido muito mais, as vezes ele não consegue nem subir as escadas para chegar ao quarto, como ocorreu ontem a noite. Ele chegou em casa bêbado o suficiente para me atirar um copo de vidro na testa por motivo algum e ainda tentar me bater mais.
Ao passar pela sala eu destranco a porta e espero pela minha mãe na varanda.São 06:00 quando minha mãe vem me buscar com seu carro junto a Camilo e Adrian. Minha mãe parecia procurar algo no porta-luvas, Camilo está dirigindo e Adrian está dormindo com a cabeça encostada no vidro do carro. Ao ver o carro eu tento esconder o curativo na testa com meu cabelo.
Abro a porta onde Adrian estava encostado fazendo-o quase cair para fora do veículo.- Ei - Ele diz irritado - Será que não podia ter entrado pela outra porta?
- Até poderia mas aí você não iria acordar, né?- Adrian tem onze anos e é a cara da minha mãe. Olhos escuros e cabelos pretos ondulados - Não vai me dar bom dia?
Ele esfrega os olhos e só me encara como quem quer cometer um crime.
- Bom dia, Theo - Ouço Camilo dizer enquanto dá a partida.
- Bom dia Cami - Camilo e minha mãe estão casados a dois anos e, com toda a sinceridade do mundo, ele é um marido bem melhor que meu pai.
Minha mãe consegue finalmente achar um clipe de papel dentro do porta-luvas e coloca em alguns papéis, provavelmente relacionados a empresa.
- O que aconteceu com a testa, Theo? - Nada foge da visão da minha mãe - Ou melhor. O que ele fez com a sua testa?
- Não é nada, mãe, eu caí ontem e bati a testa - Sério, Theodoro? Você caiu? Nunca fui bom em desculpas - Bati a cabeça na cama.
- Theodoro Martinelli, eu sei muito bem quando você está mentindo e se aquele desgraçado fez alguma coisa eu juro que eu vou...
- Calma, meu amor - Camilo interrompe - Se ele disse que está tudo bem, é porque está.
- Quando o Theo vai morar lá em casa mãe? Se ele quiser pode dormir no meu quarto - Acho que entre todos dentro desse carro, Adrian é de longe o que mais se preocupa comigo - Se você quiser eu durmo no sofá, Theo.
- Não precisa se preocupar comigo, Adrian. Eu estou bem - Adrian pode ter onze anos mas não é burro.
- Se tudo der certo, o Theo vai morar conosco até o fim do mês - Camilo diz rapidamente e minha mãe lhe dá um soco no braço - Você sabe que eu não sei guardar segredos, meu amor.
- já que o Camilo estragou a surpresa. Eu estou tentando conseguir sua guarda integral e acredito que está tudo indo bem.
Eu só consigo sorrir como resposta. Um sorriso ao mesmo tempo feliz e preocupado. Se eu for embora, o que eu quero muito, quem vai cuidar do meu pai? Eis um ponto estranho: embora meu pai não seja a pessoa mais afetuosa do mundo, eu o amo e me preocupo. Sem mim em casa ele pode até morrer em uma das noites que chegar bêbado. Odeio quando ele me xinga mas isso não faz com que ele deixe de ser meu pai.
- Espero que dê tudo certo, mãe - Finalmete respondo e ela sorri.
Pego o meu celular e envio mensagem para Yasmin que responde imediatamente.
Me: Vou tomar café com minha família e vou direto pra escola, tudo jóia?
Yas: 1) Divirta-se e cuidado pra não engasgar com uma torrada. 2) Você acabou de usar a expressão "tudo jóia" em uma frase? A gente tá nos anos 70?
Solto uma risada e percebo que já estamos em frente a casa da minha mãe e de Camilo, lembro que quando eu era menor minha mãe passava quando me levava para a escola e dizia "Olha só para essa casa, Theo, se os negócios que estou fazendo com o seu pai derem certo nós viveremos em uma casa assim", os negócios deram certo e nos mudamos para cá depois de um tempo. Fiquei feliz em saber que minha mãe realizou esse sonho.
Para a felicidade dela, ela ficou com a casa, a empresa e com a guarda integral de Adrian depois do divórcio, meu pai só teve uma exigência que foi a guarda de um dos filhos, minha mãe sabia do que ele era capaz então tentou protestar o que resultou em uma guarda compartilhada. Às vezes sinto falta de quando eu era só uma criança e meus pais não tinham o estresse de dirigir uma empresa.
- Theo, você não vai comer? - Escuto Camilo questionar. - Você mal tocou no seu café da manhã.
- É que eu não acordei com fome, talvez seja o estresse de ter que ir para uma nova escola - Em tese não era mentira, mas também não era a verdade absoluta. - Acho que só vou tomar um copo de suco mesmo.
- Theodoro Martinelli, coma alguma coisa - Minha mãe quase ordena - Você por acaso quer desmaiar no seu primeiro dia de aula, meu amor? - Minhas maiores preocupações são a respeito de como a Yasmin vai me xingar se o primeiro dia de aula dela for ruim.
- Sua mãe tem razão, Theo - É a vez de Camilo falar - Vai que você não gosta da comida da escola nova?
- Acho que está na hora de nós sairmos - Tento mudar o assunto na esperança de conseguir enfim sair para o meu primeiro dia de aula. - Falta pouco tempo e a escola é longe né mãe?
- Você vai levar um lanche e eu acho bom você comer - Minha mãe me lança um olhar mortal enquanto se levanta - Adrian vai escovar seus dentes para podermos ir.
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O Adimiravel
Acaknarra a história de Theodoro Martinelli em uma nova escola com novos e antigos amigos. Ele se vê em um ambiente novo rodeado por pessoas das quais não fazia ideia da importância que viriam a ter. Ele encontra o amor e insegurança enquanto tenta venc...