As palavras de Nicolas de alguma forma me trazem conforto como se sua presença eliminasse o medo que eu sentia antes de vir aqui, nada mais justo que lhe contar a verdade.
– Eu... – Começo a falar – Eu voltei para casa do meu pai ontem a noite... Ele estava bêbado e começou a gritar, eu achei que discutir poderia fazer ele se falar...
– Meu Deus – É tudo que sai da boca de Nicolas antes de eu continuar.
– Eu acabei falando o que não devia e isso irritou ele, tipo, pra caralho mesmo – Nicolas permanece imóvel – Eu tentei correr quando ele se levantou, mas ele me acertou na cabeça e começou a me bater sem parar até me fazer desmaiar. Eu acordei no chão da cozinha em uma poça do meu sangue e cerveja.
Os olhos de Nicolas estão se enchendo de lágrimas, não lágrimas normais, lágrimas de raiva pura.
– Você não pode contar isso para ninguém, muito menos para Yasmin – Lembro ele da sua promessa anterior – Ela iria acabar piorando as coisas.
– Se ela quisesse matar ele, eu seria o primeiro a se voluntariar – Ele tenta brincar mas não consegue esconder a raiva na sua voz, ele nunca sabe esconder o que sente.
– Você e mais um monte de pessoas – Tento rir – Até eu em alguns momentos.
– Totalmente compreensível – Ele diz encarando meu rosto – Mas temos que dar um jeito nesses machucados logo.
Nicolas molha um pano e começa a limpar o sangue seco do meu rosto enquanto conta alguma de suas histórias com Helen, algo sobre uma cachoeira ou coisa do tipo, não consegui me concentrar com tantas coisas passando pela minha mente.
– Isso pode causar um pouco de desconforto, tá bom? – Ele diz enquanto pega um frasco de dentro da caixa e molha o pano já lavado no conteúdo.
– Já passei por coisa pior.
– Se você tá dizendo – Ele diz e coloca o pano no machucado me fazendo gritar.
– Que porra é essa que você tá passando na minha cara?
– Eu não sei, a minha mãe me ensinou que tenho que passar isso nos machucados pra ajudar em alguma coisa.
– Isso dói mais que escutar uma playlist da pipokinha.
– Não exagera também.
Depois de colocar novos curativos no meu rosto, e devolver um soco que eu dei em seu peito por conta da dor, Nicolas e eu descemos para ver o que Raquel estava fazendo e para a nossa surpresa ela estava dormindo no sofá enquanto a televisão estava ligada.
– Acorda, mulher! – Nicolas grita e ela se espanta acordando num pulo.
– Deixa ela dormir Nick.
– Se ela dormir agora eu não vou ter o meu momento de paz durante a tarde – Ele diz e ela mostra a língua.
– Theo, vem assistir desenho comigo? – Ela vem correndo e agarra meu pulso, me puxando para o sofá.
– Gostei que você decidiu por mim – Digo ironicamente.
– Você já passou muito tempo com o Nick, é a minha vez de brincar com você – Ela cruza os braços e olha Nicolas – Ele veio para brincar comigo.
– Raquel não trate o Theo como um cachorro – Nicolas fala da cozinha – Embora ele aja como um às vezes – Ele diz e eu mostro a língua.
Depois de dois episódios de Peppa, Raquel se cansa do desenho e pega papel e giz de cera na estante da sala.
– Hora do desenho – Ela diz se deitando no chão – Se você quiser brincar com o Nicolas, agora você pode ir – Diz como se fosse minha chefe.
Vou até a cozinha onde Nicolas está fazendo o almoço para nós três.

VOCÊ ESTÁ LENDO
O Adimiravel
De Todonarra a história de Theodoro Martinelli em uma nova escola com novos e antigos amigos. Ele se vê em um ambiente novo rodeado por pessoas das quais não fazia ideia da importância que viriam a ter. Ele encontra o amor e insegurança enquanto tenta venc...