Eu e Yasmin voltamos para a nossa sala junto a Helen e Nicolas que nos contavam sobre a vez em que Nick quase morreu afogado na banheira porque dormiu.
- E você não acordou mesmo submerso? - Indaga Yasmin admirada com a história dele - Na moral garoto ou você desmaiou ou tentou se matar e não tá falando.
- Juro pela minha tia avó Shirley que é tudo verdade.
- Sua tia avó Shirley não morreu há sete anos - Pergunta Helen acabando com a piada dele que chuta seu pé a fazendo quase cair - Seu filhote de Marina Silva do capeta.
Quando entramos na sala Yasmin grita me fazendo ter o reflexo de lhe acertar um tapa na nuca.
- Quem caralhos mexeu na minha bolsa? E Theodoro Martinelli se você me bater de novo eu corto o seu pau sem utilidade fora.
Yasmin anda furiosamente até a sua bolsa para checar se nada lhe foi roubado. Que coincidência, ela grita com a "rainha da escola" e algumas horas mais tarde sua mochila ser saqueada como um caminhão da shopee que capotou.
- Não fazem nem três horas que eu cheguei aqui e já fui roubada - Ele resmunga - Eu vou matar aquela paquita do capeta.
- O que roubaram? - pergunto - Por favor me diga que não foi o espelho da shopee - Coloco as mãos sobre a boca como se realmente fosse algo importante.
- Pior, roubaram o meu gloss da Dior - Admito que ela tem toda a razão de estar neurótica. Aquela merda foi cara - Eu juro que vou fazer uma rinoplastia nela com as minhas próprias mãos.
Mais um professor entra na sala impedindo Yasmin de arrancar até o último fio de cabelo da leptospirose. Por que essa escola tem que ter professores que querem dar aula no lugar de jogar farm heroes na sala dos professores? Eu quero porrada e não aula de física.
Como a rata caquética é muito covarde para enfrentar Yasmin, ela fugiu assim que o sinal tocou. Foi literalmente isso. O sinal tocou e a nariz de nós todos saiu correndo da sala como se tivesse visto uma promoção de queijo na parte de fora da escola.
- Nós ainda vamos na lanchonete né? Eu tô morrendo de fome e quero que a Helen pague meu lanche.
- Seu pobre! - Diz Helen batendo no braço de Nicolas - Depende dos outros para se alimentar como um mendigo idoso.
- Prefiro ser um mendigo idoso comendo bem do que um adolescente morto por intoxicação alimentar por ter comido aquilo que as merendeiras gostam de chamar de comida. - Realmente. Eu agradeci aos deuses que minha mãe me fez trazer um lanche.
- Vai ficar me devendo o que eu gastar com você e vou adicionar juros a cada dia de atraso - Ela diz e vamos em direção a algum lugar cujo eu nunca vi.
Fomos para um lugar não tão longe da escola que se chamava "O pecado capital", nome bem criativo para ser sincero. Sentamos em uma mesa e logo fomos atendidos pela garçonete.
- Bem-vindos ao pecado capital, onde a gula é liberada - Diz uma moça alta com cabelos castanhos curto - O mesmo de sempre para os dois, certo? - Os dois concordam - Vocês eu não conheço, docinhos. Não vai apresentá-los, filho?
- Theo e Yasmin, essa é minha mãe. Mãe, esses são Yasmin e Theo - Nicolas diz claramente envergonhado - Por favor façam o pedido logo e me poupem dessa vergonha.
Eu peço hambúrguer com refrigerante e Yasmin batatas fritas. Sabemos que vamos acabar dividindo ambos os lanches, mas isso se tornou um costume nosso. A mãe de Nicolas anota os pedidos e vai em direção à cozinha.
- Me desculpem por isso - Ele diz abaixando a cabeça como se tentasse amenizar uma situação que não existe.
- Amei a querida - Diz Yasmin sorridente - Não precisa se desculpar, lindo. Não é como se ela tivesse batido minha cabeça no vidro da janela.
- E eu amo todos os tipos de mães - Digo em tom de brincadeira - É o que eu diria se você não tivesse mais chances que ela.
- Eu preciso ir ao banheiro - Ele diz se dirigindo logo em seguida para o banheiro masculino.
- Eu falei algo errado? - Pergunta Yasmin preocupada - Sério eu não queria...
- Você não fez nada errado - Helen diz, cortando Yasmin - Nick tem certos problemas com a mãe dele trabalhando aqui. Ele diz que não é certo ela se matar de trabalhar para sustentar a casa sozinha. Ele já se ofereceu várias vezes para trabalhar e deixar ela em casa cuidando da irmãzinha, mas ela diz que é o papel dela como mãe sustentar eles como pode.
- Mas e o pai dele? - Yasmin questiona soando um pouco antiético.
- O pai dele morreu a dois anos atrás após ter um acidente vascular cerebral. Ele não era muito próximo do Nick, mas mesmo assim pagava as contas da casa. Desde então são só Nicolas, tia Inês e Raquel contra o mundo.
Olho para o lado e vejo que Nicolas agora está próximo a cozinha conversando com sua mãe, provavelmente pedindo desculpas pelo ocorrido agora pouco. Consigo ler os lábios dela dizendo "eu te amo, filho" e logo em seguida o abraçando.
- Voltei, humanos - Diz Nicolas ao voltar para a mesa - O que eu perdi?
- Eu estava contando para eles da vez em que nós colocamos um rato morto na mochila da Lana. Lembra disso?
- Sim, ela gritou que nem uma idiota quando encontrou.
Continuamos nesse assunto por alguns instantes até que Inês chega com nossos pedidos equilibrados nos braços.
- Aqui estão os pedidos, meus amores - Seu sorriso parecia cansado, embora verdadeiro - Me chamem se precisarem de algo e Nick não esqueça de buscar a Raquel na creche às 17:00.
- Tá bom mãe - Ele diz sorrindo para ela. Seja lá o que eles conversaram, funcionou.
Ela se despede dando um beijo em sua testa e logo em seguida vai em direção a outra mesa também composta por adolescentes. Deus tenha piedade dela.
Enquanto comemos Helen nos conta das várias aventuras que ela viveu junto a Nicolas. A cada história que ela conta eu fico mais surpreso com sua genialidade voltada para cada plano.
Eu e Yasmin vamos até o caixa para pagar a conta com Inês que estava ocupando o papel de caixa naquele dia além de ser a garçonete.
Enquanto esperamos ela terminar de atender uma mesa, eu tento convencer Yasmin a deixar algum dinheiro de gorjeta e fico surpreso quando ela tira cinquenta reais da carteira. Junto aos vinte que eu iria dar e entrego junto a parte de Nick e Helen.- Aqui está o troco de vocês - Percebi que ela devolveu o dinheiro da gorjeta também - Vocês deram muito dinheiro a mais - Ela dá um sorriso sem graça.
- Esse dinheiro é para a sua gorjeta - Yasmin diz e eu lhe entrego o dinheiro novamente.
- Eu não posso aceitar - Ela diz relutando - É muito dinheiro. Com isso vocês comprariam outros lanches.
- É claro que você pode - Digo novamente entregando, mas agora ela pega um pouco envergonhada.
- Vocês poderiam só me dar dois reais, cinco no máximo, sério - Embora envergonhada é visível a felicidade em seu rosto.
- Você nos atendeu muito bem e ainda por cima está trabalhando como garçonete e caixa ao mesmo tempo. Você mais do que ninguém merece muito mais do que nós estamos lhe dando - O sorriso em seu rosto agora está acompanhado de olhos marejados de lágrimas. É uma sensação incrível ter a feito sorrir em meio a tudo que vive.
- Vocês são anjos, sabiam? Nick e Helen tem sorte por serem amigos tão bons - Ela pega um lenço no balcão e enxuga os olhos - Eu realmente queria conversar mais com vocês, mas eu tenho que atender as outras mesas e vocês têm planos para criar com os dois alí. Cuidado por aí, viu?
Nós saímos e encontramos com Nicolas e Helen que estão nos esperando sentados em um banco perto da lanchonete.
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O Adimiravel
Acaknarra a história de Theodoro Martinelli em uma nova escola com novos e antigos amigos. Ele se vê em um ambiente novo rodeado por pessoas das quais não fazia ideia da importância que viriam a ter. Ele encontra o amor e insegurança enquanto tenta venc...