Ainda são quatro horas da manhã e eu já estou de pé por algum motivo ainda desconhecido por mim, há algumas mensagens em meu celular, a maioria de Nicolas dizendo que quer falar comigo sobre alguma coisa.Eu estou encarando novamente a foto da garotinha feliz com seu pai enquanto continuo enrolando o dedo em meu cabelo, sempre dando leves puxões para me lembrar que ainda estou aqui, sempre torcendo para que isso possa me acordar desse pesadelo.
Gostaria de acordar em meu quarto cor de rosa e correr para o quarto de meus pais e poder pedir para me deitar com eles, pois lá eu me sinto mais segura. Isso é impossível.
Já fazem quatro anos desde a última vez que vi meu pai, isso foi minutos antes de ele terminar de fazer suas malas e sair enquanto minha mãe gritava o quão idiota ele era e o quão idiota ela foi por se casar com ele.
Aquele homem na foto já só existe nesta foto, ou talvez seja isso que eu queira acreditar, talvez eu não queira acreditar que agora ele bate fotos assim com sua nova filha enquanto sua nova esposa prepara o jantar na cozinha da sua nova casa.
Talvez ele tenha se esquecido da sua antiga filha que ainda chora sentindo falta do pai incrível que ele já foi um dia, e talvez essa filha ainda sonhe com o dia em que ele vai voltar arrependido e levá-la para ser feliz com ele de novo.
Quando me dei conta eu já havia arrancado uma mecha do meu cabelo por conta de todos os sentimentos que estavam girando como um redemoinho em minha cabeça.
- Helena, você já está acordada? - A voz de minha mãe quebra a linha de raciocínio que estava tentando me matar.
- Infelizmente - Respondo enquanto checo meu relógio - são 05:00 - eu deveria estar acordando agora.
- Comece logo a se arrumar porque eu tenho que estar mais cedo no trabalho hoje - Ela ordena enquanto abre a porta do meu quarto - Vejo que teve mais um daqueles probleminhas de insônia de novo - Ela comenta ao me ver já pronta.
Não me dou ao trabalho de responder pois eu sei que isso só vai desencadear mais uma das discussões que ela sempre se esforça para começar quando eu faço qualquer coisa minimamente fora do padrão dela.
Desço as escadas e encontro minha mãe andando de um cômodo para o outro procurando alguma coisa ou outra que ela precisa para terminar de se arrumar para o trabalho.
Eu vou à cozinha para preparar alguma coisa para tomar café e alguma coisa para comer na escola já que ultimamente o lanche de lá tem sido repulsivo.
Nicolas ainda não parou de me ligar, mas eu não posso atender com a minha mãe por perto se não ela vai começar mais um sermão sobre como eu não estou comendo porque estou mexendo no celular em vez disso.
Consigo escutar ela reclamando em ligação com algum colega de trabalho sobre como ele está a quase duas semanas de atestado e como ela suspeita de que ele forjou isso para não ter que trabalhar e deixar ela fazendo seu trabalho por ele.
Coloco um sanduíche e um resto de bolo que sobrou de ontem em um pote e coloco dentro da minha mochila enquanto ainda mastigo a fatia de pão de forma que resolvi que seria meu café.
- Você já terminou, Helena? - Sinto como se fossem marteladas em minha cabeça toda vez que ela me chama assim.
- Sim mamãe - Digo indo para o carro enquanto ela checa se está pronta também.
- Você escovou os dentes? - Não é possível que isso seja sério.
- Sim mamãe - Respondo revirando os olhos para ela.
- Acho bom você ajeitar esse seu rostinho antes que eu mesma faça isso por você.
Mais uma vez escolho manter o silêncio para assim também manter o meu dia não tão ruim quanto eu imagino que vá ser.
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O Adimiravel
Randomnarra a história de Theodoro Martinelli em uma nova escola com novos e antigos amigos. Ele se vê em um ambiente novo rodeado por pessoas das quais não fazia ideia da importância que viriam a ter. Ele encontra o amor e insegurança enquanto tenta venc...