A fita foi cortada e Carolina sorriu, colocando as mãos nas costas. Finalmente havia terminado de encaixotar tudo para a mudança, girou a cabeça em direção ao ombro direito, arqueando a sobrancelha quando Amanda passou rápido em direção ao quarto e Augusto deu de ombros, os olhos analisando a sala praticamente vazia.
— Você está lindo, por acaso é tinta permanente? — Ela perguntou ao filho em tom de descontração, erguendo as mãos como barreira, enquanto o rapaz de dezessete anos se aproximava com os braços abertos.
— Só existe uma forma de descobrir, mãe.
— Eu ainda sou responsável por você, Augusto, e posso repreendê-lo.
—Fui aprovado, mãe! Agora me dê o abraço — ele disse, sem chances para que a mãe escapasse — Admiro a senhora muito e vou ser um sucesso naquela faculdade — Augusto confirmou, ainda abraçado a Carolina.
— Uma pena que sua irmã não esteja tão empolgada. Eu só queria que tudo se ajeitasse e pudéssemos sentar no sofá com harmonia.
— Amanda não quer perder os amigos, mãe, sabe o quanto foi difícil se acostumar e a baixinha está na adolescência — o rapaz falou, a testa franzida — Ela com certeza puxou ao papai.
— Oh! Finalmente concordamos, moço — Carolina retorquiu —Se importa de levar essas caixas para a garagem? Depois eu arrumo no porta-malas.
— Eu sabia que ia tirar proveito do meu resultado na academia, mãe.
—Talvez eu o acompanhe quando estivermos em Belo Horizonte.
— Desde que a senhora não resolva arrumar um namorado —Augusto disse com uma piscadela, pegando uma caixa.
— Fale menos e trabalhe mais, filho.
Sozinha na sala novamente, a mulher de quarenta acomodou-se na poltrona, as mãos descansando nos braços do móvel. Ela não havia cogitado voltar para a cidade natal, principalmente com a morte de Igor há doze anos. Jovem demais para que houvesse um ponto final no relacionamento. Carolina respirou fundo, como gostaria que sua família fosse completa novamente.
— Você não foi tão egoísta, Igor— ela murmurou, decidida a ir ao quarto de Amanda.
Quando o primogênito nasceu, Carolina e o marido não sonhavam com uma nova gravidez, motivo pelo qual adiaram um novo bebê por três anos. Ela havia iniciado o curso de Direito e Igor tinha planos para expandir a loja de informática, mas como a matriarca da família costumava dizer: o destino não era agendado.
Aos vinte e cinco anos, Carolina se tornara mãe de uma menina prematura. Foram momentos de aflição para a família até Amanda receber alta, tê-la em casa com o passar dos meses demonstrou que eles teriam que se preparar para o futuro. O diagnóstico de surdez congénita veio aos sete meses, e em menos de dois anos Carolina assistiu a filha passar pela primeira cirurgia de implante coclear e ter um acompanhamento com vários profissionais da saúde para adaptação.
O falecimento de Igor foi inesperado e se os pais não houvessem interferido, Carolina não saberia dizer o que seria de seu relacionamento com os filhos. Quando Amanda foi para a escola houve muitas frustrações, ressentimentos, como também incentivo.
— Se divertiu com seu irmão? — Carolina questionou a filha, sentando no colchão e cruzando as pernas — Em breve será a sua vez, Amanda, e....
— Não quero falar sobre isso — ela articulou, desviando o olhar para a revista teen.
— Então, você escolhe o assunto.
— Essa mudança é uma idiotice, mãe! Augusto não precisa da gente lá.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Em Uma Matemática
RomanceCom a matemática é possível descrever em equações as metas, que podem ser reduzidas ao primeiro número conforme uma convivência se prolonga. A palavra família tem um peso diferente: o casamento perfeito de décadas; os filhos em convivência amigável;...