Décimo capítulo: Bônus

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Publicado: 26/05/2020

José Pedro estacionou a caminhonete emprestada, só não desceu imediatamente. Por várias vezes respirou fundo, tamborilou os dedos no volante e refez a conversa que teve com as irmãs ao telefone.

Com certeza teria uma recepção calorosa de Matraca quando voltasse para Ribeirão Preto. Olhou para casa principal, quase desistindo. Só que dessa vez ele precisava reconhecer os próprios erros,  tentar se desculpar corretamente.

— Uma droga de problema! — murmurou ao descer.

Um movimento próximo a bica chamou sua atenção. Franziu o cenho, observando Thamara em pé sobre o velho balanço, apressou os passos e quando percebeu estava correndo.

— Thamara, você ficou louca?

José Pedro perguntou aos gritos ao segurar os suportes, e tão preocupado não se preparou para o chute de Thamara que resultou nele jogado ao chão.

— Sim, fiquei louca por ter passado a mão na cabeça de um moleque! Eu estou furiosa com você, peão idiota!

O caçula Souza levantou-se e finalmente conseguiu retirar a irmã do balanço:

— Comigo? Foi seu marido que arrumou confusão.

A professora bufou, socando o peito do irmão, mantendo os olhos fixos aos dele.

— Oh, claro! A culpa é toda do Rodolfo porque eu fui estúpida de ajudar o meu irmão babaca, macho ridículo que não tinha como cuidar do próprio filho.

José Pedro comprimiu os lábios, notando o rosto de Thamara marcado por trilhas de lágrimas. Ele lembrava da primeira vez que a viu chorar e sentiu-se envergonhado por ser o responsável mais uma vez. É claro, que na época contava apenas oito anos e estava furioso pela irmã que se casaria também, e assim como Carolina o abandonava.

— Thamara, cuidado.

Ele pediu, enquanto sua mão deslizava por sua bochecha:

— Por que eu deveria ter cuidado, JP? Porque a verdade dói? É ruim quando você é colocado do outro lado, tendo que ouvir suas verdades que nem consegue encarar de frente para o espelho?

— Você bebeu.

Thamara deu de ombros, como se estivesse se desfazendo da justificativa fajuta do irmão:

— Sim,  quer saber? Essa sou eu falando de você quando não vê. Eu estou cansada de tentar explicar suas vontades! Você é um homem de vinte e cinco anos, mas que há dez anos insiste em querer viver o próprio caminho quando não faz ideia do que quer de verdade!

José Pedro juntou as mãos, fechando os olhos por breves segundos.

— É melhor você se calar, Thamara.

Mais uma vez Thamara o empurrou com força e raiva:

— Não! Você vai escutar e calado! Você sabe muito bem que o pai e a mãe nunca iriam te criticar por viver em rodeios, mas você queria dar um de galo de briga, fez seu circo e caiu fora. Muito ocupado para dar notícias! Moleque demais para procurar um de nós para resolver seus problemas. Você é um covarde! — Thamara explodiu.

José Pedro ergueu as mãos, balançando a cabeça positivamente:

— Bom, você também é uma covarde! Quer saber, nós três... Carolina, você e eu somos os porqueiras Souza.

Thamara bateu palmas:

— Pelo menos temos alguma coisa e você?

— Quer ter a razão, Thamara? — ele perguntou controlando o tom de voz.

Em Uma MatemáticaOnde histórias criam vida. Descubra agora