Décimo Terceiro Capítulo - Seno, Cosseno e Tangente

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Publicado: 17 de maio de 2020

"Na adoção, filhos e pais têm o mesmo DNA: O DNA do Amor! O DNA da Alma!"

Sávio Bittencourt

A trigonometria é um conteúdo denso quando considero que todas suas nuances partem de um triângulo. Conforme o ângulo tenho uma variação de seno, cosseno e tangente, preocupada em buscar a razão que existem ou entre os catetos e/ou hipotenusa.

Os catetos, é claro, continuam sendo a mim e Rodolfo!

E a hipotenusa, agora, é o nosso processo de adoção.

Eu poderia mais uma vez criar uma lista dos prós e contra, elucidar vários problemas e me concentrar em inseguranças. Mas, aqui estou eu, uma mulher de trinta e sete anos buscando meu primeiro cálculo.

Nesse cálculo em questão, eu (cateto oposto) estou em uma razão com a adoção (hipotenusa) para conseguir o seno perfeito desse ângulo.

Rodolfo não tinha mentido sobre todo o processo de preparação, tínhamos participado de três entrevistas e realizado o curso de preparação psicossocial e jurídica de adotantes do tribunal de justiça. E eu nunca fiquei tão ansiosa por conquistar um certificado.

Eu havia ligado para Jéssica, conversado por horas sobre os próximos passos, acessando blogs, sites, grupos com pessoas na mesma expectativa que a mim e Rodolfo.

Meu cálculo discreto era uma tentativa de entender e me tranquilizar a cada etapa no processo de habilitação para adoção. E me surpreendia ao sair da  zona de conforto, ao conhecer outras famílias com o mesmo propósito e dessa vez admitir que continuava refém do tempo, mas sem culpar meu corpo.

— Vocês precisam ir ao churrasco.

— Adoraríamos.

— As crianças quebraram duas janelas da última vez.

— João tem dificuldade em chutar a perna direita.

Eu não imaginava participar de um diálogo assim, mas a aproximação com a turma de adotantes estava me aproximando daquela que seria minha realidade.

— Vocês já decidiram qual o perfil do seu filho?

Com a aprovação do nosso pedido, tínhamos que especificar o  perfil. Eu poderia justificar nossa faixa etária ampliada pela dificuldade em adotar um bebê, mas precisava reconhecer que éramos dois adultos com rotinas e várias atribuições.

— Isso vai mudar — sussurrei olhando o check-list.

— O que, Thamara, vai mudar?

— Nossa vida, eu não quero ser uma mãe de final de semana — argumentei, mais para mim mesma.

— Vamos nos adaptar — Rodolfo articulou, acariciando meu rosto.

— Tudo bem, faixa etária preenchida — rabisquei — Cor da pele?

Como um casal inter-racial eu não me preocupava com esse tópico. Talvez um pouco se  fosse mais pessimista. O racismo não era uma mera palavra.

— Já pensou em um ruivinho correndo pela casa.

Ri com sua resposta, assinalando. Nós saberíamos cuidar do nosso filho.

— Grupos de irmãos e crianças com deficiência. O que acha?

Nós tínhamos ouvido e conversado sobre essas duas possibilidades. Inclusive tínhamos aproveitado uma de nossas sessões com Erick para explanar o assunto. Minha primeira consideração era que durante uma gestação tudo poderia acontecer: prematuridade, síndromes e outras intercorrências. Nenhum pai ou mãe, um responsável está preparado para essa possibilidade. A segunda consideração já feita por Rodolfo era sobre a acessibilidade, direitos, terapias e uma rotina mais intensa.

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