Nono Capítulo: Geometria Plana

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Publicado: 21/07/2017


Sentei na lanchonete do aeroporto JK, com mais de uma hora para a troca de avião, eu não estava realmente atenta ao tempo. Sabe quando você faz tudo do jeito mais automático? 

 Quando Rodolfo voltou para casa aquela noite eu tinha chorado por tudo.

Até aquele instante eu havia buscado analisar tudo conforme a Geometria Espacial, confirmando um volume que na realidade não existia. Minha vida estava completamente embasada numa superfície de comprimento e largura, sem nenhuma chance de apresentar volume.

E esse volume que eu desejava era formar uma família.

Rodolfo e eu éramos meros pontos que não estavam, de fato, como uma reta.

E por um tempo, enquanto ele indagava o motivo das lágrimas, só segui minha vontade de estapeá-lo. Cada tapa, que em seguida se tornaram socos em seu peito, representavam a minha frustração.

— Você precisa se acalmar, Vida.

Eu queria que ele engolisse cada maldita palavra. Não desejava me acalmar, só entender em que momento eu realmente fiquei satisfeita de dividir a minha vida com alguém tão sem honra.

— Seu monstro! — Gritei, sentindo os músculos dos braços reclamarem do esforço.

— Tem que se acalmar para explicar tudo isso.

Franzi o cenho, minha respiração ofegante e a voz rouca:

— Você entrou com um pedido de guarda, Rodolfo?

Observei meu marido soltar minhas mãos e dar um passo para trás, seus olhos desviando-se dos meus.

— Como teve coragem? — Indaguei sem realmente esperar uma resposta, me abracei, encostando no sofá — Você destruiu a confiança da minha família, Rodolfo! Como acha que me senti defendendo você, sem realmente merecer? Meu Deus! Você não tinha o direito de fazer isso.

— Thamara, ter a guarda do Luan era natural.

Fechei os olhos com força:

— Eu nunca tiraria o filho de alguém, Rodolfo, ainda mais do meu irmão!

— José Pedro não tinha o menor interesse pelo menino — Rodolfo argumentou, gesticulando.

— Eu ofereci ajuda — bati no peito — Tínhamos um acordo, e Ana só concordou por me conhecer. Acha que aceitaria ter uma criança sob os meus cuidados senão tivesse conversado antes com os avós e a própria Ana? Jamais tomaria o lugar ou algo que não me pertence, Rodolfo.

Esfreguei o rosto.

— Ok, peço que arquivem o processo, Thamara.

— É claro que será arquivado! Você é um cínico, Rodolfo.

Respirei fundo:

— Espero que esteja satisfeito em desestabilizar a minha família, Rodolfo.

— Eu sou sua família!  — Rodolfo exclamou, cruzando as mãos e apoiando no queixo — Mas, você sempre coloca seus parentes na frente de tudo.

Mordi os lábios, negando com a cabeça:

— Não muda de assunto, Rodolfo.

— Você desde o início coloca o seu pai como um herói, a primeira droga de pessoa para contar tudo! Não temos um minuto em paz, pois todas as viagens, os passeios e eventos precisa buscar a opinião da Carolina e da Bianca — ele disse com a voz alterada — Tínhamos que ter filhos com pouca diferença de idade com os filhos de fulano. Isso cansa, Thamara!

Em Uma MatemáticaOnde histórias criam vida. Descubra agora