Décimo Terceiro Capítulo - Bônus

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publicado: 28 de maio de 2020

O goiano tinha muitas qualidades, características que se destacaram ainda cedo e o impulsionaram a transformar a capital em seu novo lar. Inicialmente Rodolfo não sabia o que responder sobre o que queria ser quando se tornasse adulto. 

Vivendo em um sítio e toda a subsistência vindo da terra ele poderia ter se tornado um agrônomo como a mãe um dia sonhara, poderia ter seguido uma carreira mais simples como sua irmã. 

A verdade é que Rodolfo queria muito mais.

— Você seria um bom advogado, menino.

Rodolfo contava com dez anos e aquele elogio de um dos compradores das verduras o fez se sentir importante. Ele tinha conversado com um professor, que com tranquilidade o explicara todo processo para ser advogado. 

Mas, muito difícil passar em um vestibular em faculdade pública e muito caro o curso numa  particular.

— Vou fazer a prova, Samara — ele dissera aos dezoito anos, feliz por ter concluído o ensino médio. Ele trabalharia para pagar se fosse necessário.

E como esperado o goiano se mudou para a capital, ocupando um quarto pequeno,  que conseguia pagar com seu primeiro emprego em um supermercado. Existia o cansaço de pegar o ônibus de madrugada, as aulas noturnas, as horas na biblioteca já que não conseguia comprar todos os livros.

Ao menos uma vez na semana ele ligava para a irmã, e um ou outro final de semana voltava para o sítio. Até aquela noite quando chegou e encontrou Samara agredida.

— Você não devia ter se intrometido, Rodolfo — um dos tios disse, quando o buscou na delegacia.

O goiano estava com as mãos machucadas, talvez um costela quebrada, a parte direita do rosto inchada. Mas, ele teria feito tudo novamente para defender a mulher que o ajudara a crescer.

— Onde está Samara?

— No sítio com sua avó.

Ele encarou o tio incrédulo:

— Ela devia estar no hospital! — afirmou enquanto seguiam a trilha — Precisa fazer uma denúncia agora.

— Você está tentando piorar a situação, rapaz. Foi só uma briga entre marido e mulher.

— O que? Eu não acredito que estou ouvindo isso.

— Não pode se intrometer nos assuntos dos outros.

— Ah, claro! Eu tenho que esperar a minha irmã se transformar em um número de homicídio?

— Ele já pediu desculpas.

Rodolfo balançou a cabeça:

— É melhor que ele não esteja naquela casa.

— Amanhã cedo a gente senta todo mundo e conversa — o tio argumentou assim que chegaram ao sítio — Ninguém com o sangue quente vai conseguir resolver alguma coisa.

Assim que entrou, Rodolfo observou a irmã sentada no velho sofá, com uma expressão de dor. Ele fechou as mãos, respirando fundo, tendo ciência de que talvez aquela não fosse a primeira vez, e que Samara não tinha confiado nele para buscar ajuda.

— É bom cada um ir para sua casa, Samara tem que descansar.

— Nós vamos embora amanhã — Rodolfo disse, notando os tios e a avó interromperem os passos.

— Não é hora de decidir alguma coisa — uma das tias falou, apertando as mãos.

— Samara? — ele pediu a irmã.

Em Uma MatemáticaOnde histórias criam vida. Descubra agora