Quinto Capítulo: Grandezas Proporcionais

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Publicado: 21/01/2017


Dentre as contribuições que me fascinam da ciência abstrata está a possibilidade de medir ou contar. Por exemplo, a idade do meu relacionamento com Rodolfo. Eu não esperava durar tanto tempo ou que um dia Rodolfo realmente me propusesse casamento. 

E olha que o pedido veio após um ano de namoro.

A insegurança em muitos momentos me fez refletir sobre o tempo que gastaria em cada relacionamento, e aqui assumo que foram cinco no total, para ouvir a frase: somos incompatíveis, diferença irreconciliável ou foi bom enquanto durou. 

Naquela tarde em que optamos por caminhar no parque o tempo parecia desregulado, pois demoramos na Alameda Marginal Botafogo devido um acidente, e a temperatura daquele mês se mostrava alarmante.

Eu poderia ter desconfiado quando meu namorado permaneceu em silêncio, os olhos azuis indulgentes me encaravam com um segredo que com certeza o divertia. Mas,  me encontrava chateada e louca para respirar um ar fresco, ao contrário de permanecer no carro sem ar-condicionado. Ao menos não tínhamos que esperar minutos, para não dizer horas, no ponto de ônibus e suportar o ambiente hostil do transporte público.

— Você não me disse se ficará no escritório — eu perguntei, ao abrir a garrafa de água.

— A decisão não foi tomada, Thamara — ele respondeu com cuidado, como se estivesse medindo uma grandeza para o quarto valor ainda desconhecido.

E esse desconhecido valor me mantinha alerta, eu insistia em afirmar.

— Bom... O tempo está contrário a você.

Rodolfo apenas riu do meu comentário, finalmente seguindo pelo pavimento.

— Quem sabe eu o valorize dessa maneira, Thamara — Rodolfo admitiu, diminuindo o tom de voz, com se calculasse seu poder de persuasão.

Mas, por que haveria persuasão? Era apenas mais uma data a ser marcada por um X no calendário, diminuída ao compromisso a seguir e aumentando aquele medo ou seria expectativa sobre qual meta passaria a dominar os pensamentos do meu goiano.

— Você se preocupa demais, amor — foram as palavras de Rodolfo ao segurar minha mão, enquanto escolhíamos um lugar para sentar,  após uma facilidade para estacionar.

Eu não tive qualquer reação contrária quando me puxou para seus braços. Sua mão segurando minha nuca, os narizes se roçando e eu desejosa de sentir o beijo. Mas, Rodolfo alterava sua boca para todos os lugares de meu rosto, orelha e pescoço, enquanto a expectativa aumentava, tornando as grandezas desproporcionais.

— O que você faria, Thamara, se eu fosse para longe?

Dúvidas!

— Provavelmente desejaria boa sorte, Rodolfo — respondi, deslizando meus dedos em seus cabelos crespos.

— Nem um pedido para que mude de ideia, vida?

— Você é dono de si. Além disso, tem um olhar perspicaz para os negócios e eu não entendo nada sobre o poder judiciário e em qual região do país um advogado tem mais sucesso.

O barulho próximo, observei pouquíssimos,  ainda havia um sentimento massacrante e nauseante dirigido a nós.

— Eu quero você, Thamara.

Meu riso naquela ocasião era despretensioso e feliz. Não precisava de nenhum apelo de Rodolfo, eu me sentia pertencente a ele, de uma maneira quase incontrolável.

— Já me tem — retruquei, tocando seus lábios com os meus.

— Casa comigo.

Não foi um pedido.

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