penúltimo <3
TENTA ME RECONHECER
NO TEMPORAL.✿✿✿
— Irene?
Flagras em sua maioria, são constrangedores. Agora, ser flagrada pelo quase ex-marido enquanto estava debruçada no chão prestes a espiá-lo é muito mais do que constrangedor. Espiá-lo não, observá-lo.
Irene gostava de observar, desde que chegou na fazenda o que ela mais fazia era observar. Tinha uma pessoa em específico que atraia seus olhos todas as vezes que se debruçava na sacada daquela enorme casa. Havia um senhor, já de idade, ele era cego de um olho mas sempre cuidava de todas as flores daquele enorme jardim.
Ele descobriu que Irene era apaixonada por violetas, e em uma manhã, Irene acordou com um buquê a esperando e sorriu, voltando a observar o senhor. Quando Petra nasceu, aos 3 anos, ela descobriu aquele imenso jardim e aquele senhor que ela decidiu apelidar de vovô. Descobriu que a pequena era apaixonada por margaridas, então aquele senhor reservou uma parte do jardim só para Petra cuidar das flores. E mesmo quando Petra cresceu, o buquê de margarida estava toda manhã na porta do quarto dela, era rotineiro.
Mas essa rotina acabou, ela nunca soube o paradeiro do senhor e Antônio nunca quis contar para ela e nem para Petra. Então Irene não tinha mais vontade de observar a sacada de casa, não veria aquele homem cuidando com tanto afinco das flores, não veria Petra emaranhada entre as margaridas que ela plantou.
Observar se tornou entediante, aquela fazenda se tornou sufocante e com o passar do tempo ela só aguentou a exaustão que aquela casa enorme lhe trazia. Era rotineiro, arranjava alguma coisa que a fizesse sumir daquela casa e só voltasse perto da hora do jantar. Chegava cinco minutos antes de Antônio e fingia que nunca havia saído, mesmo que Angelina a dedurasse no jantar.
Quando Ayla morreu, aquela casa se tornou mais sufocante ainda, o quarto dela foi o único lugar que Irene ficava, dormia na cadeira de balanço e magicamente acordava na sua cama, mas sempre voltava ao quarto da pequena. Abraçada à almofada e coberta com a mantinha dela. Ela se rastejava pelo cômodo e passava um tempo observando a noite, até quando uma estrela cadente passou ela não teve forças para fazer um pedido.
Depois, quando tentou naquela cachoeira e acordou no hospital, ela gostava de observar a movimentação no corredor, muitas vezes os médicos desesperados para salvar algum paciente.
E quando voltou para a mansão, observar Antônio se tornou algo divertido, algo que ela gostava de fazer e lhe distraía. Mas, ser flagrada não era algo que ela tinha planejado e muito menos esperado.
— O que você tá fazendo debruçada assim no chão? – ele cruzou os braços e ela abaixou a cabeça.
— A tarraxa do meu brinco caiu. – Irene La Selva, você já foi melhor em mentir.
— O vinho e as uvas também? – rebateu e as bochechas coraram.
Mordeu o lábio e esticou o corpo mais pro lado, tentando tapar o buraco para não ser tão óbvio o que ela estava fazendo.
— Você estava me espiando. – constatou o óbvio. — Durante esse tempo todo?
— É. – mentir não adiantaria, então ela deixou o buraco à vista. — Eu tava te espiando durante esse tempo todo, Antônio.
Antônio gargalhou, gargalhou de verdade. Ele riu de sentir dor no estômago por estar perdendo o ar, riu tanto que começou a chorar e mesmo assim não parou de rir. Porque ele fazia exatamente a mesma coisa, mas ver sua esposa debruçada no chão com uvas e um vinho espiando ele naquele pequeno buraquinho era hilário. Então ele gargalhou, gargalhou e ela mantinha a mesma expressão neutra e raivosa por ter sido pega. Iriam se divorciar e ela estava lá, debruçada no chão tentando achar resquícios do que ele estava fazendo nesse meio tempo.