dói sem tanto.

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TUAS ASAS SÃO TEU MOVIMENTO
QUERO AS MINHAS NO VENTO ASSIM.


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20 dias depois.

24 horas. Faltavam exatas 24 horas para se divorciarem, 24 horas que Irene se tornaria novamente Irene Pinheiro. Daqui 24 horas ele nunca mais a veria e aquilo martelava em seu cérebro, no decorrer dos dias, tiveram essa mesma conversa inúmeras vezes e chegaram a conclusão de que seria melhor assim, um longe do outro para que não se machucassem mais. Antônio demorou a entender isso, mas decidiu não contrariar.

Irene dormia ao seu lado pacificamente, o cobertor branco cobria boa parte do seu corpo e ela parecia dormir como um anjo. Passou os dedos pelos cabelos e costas dela, sorrindo quando o corpo se arrepiou, ele prosseguiu com o carinho.

Não queria perdê-la, havia uma linha tênue em querer que ela fosse feliz e querer que ela continuasse com ele. Irene queria ser feliz e ele era o motivo dela não ser feliz, e se ela quisesse ser livre, ele a deixaria voar. Foram 20 dias tendo recaídas e recaídas, mas ela não cederia em questão ao divórcio.

Irene queria ser livre, a vida toda estava presa em algo. Quando mais nova, presa ao pai que tentou lhe vender, quando adulta estava presa ao bar de Cândida e agora se via presa nesse casamento. Pela primeira vez na vida, ela estaria livre de absolutamente tudo.

Antônio fez um carinho no rosto dela e sorriu, quando eram jovens, Irene tinha uma leve mania de dormir agarrada com a sua mão.

Dormir com Irene era, em poucas palavras, uma desgraça. Não por dividir cama com ela, ele adorava por vários motivos, mas ela simplesmente não parava quieta. Ela precisava se mexer várias vezes, balançar o colchão e roubar sua coberta para finalmente dormir confortável.

No meio da noite ela chutava suas costelas, estava esparramada em cima dele ou estava quase caindo da cama por se mexer demais. Antônio não viu alternativa a não ser agarrar a mão dela e dormir assim, o que ele não esperava, é que ela se acostumaria a dormir assim e só dormia agarrada a sua mão.

Com o passar do tempo, ela foi desacostumando o que o deixou frustrado, porque era um dos poucos contatos que eles tinham.

Quando Petra nasceu, havia um berço ao lado da cama deles e a garotinha no meio da noite estava lá com eles. Irene tinha um instinto protetor e no meio da noite, checava de hora em hora o berço para ver se a garotinha ainda respirava.

Então, quando ela fez um ano, eles comemoravam mais o fato de conseguirem deixar uma criança viva por 365 dias sem nenhum arranhão. Irene sorria e Antônio parecia orgulhoso, porque metade do tempo Petra estava no colo do pai.

Ainda assim, Irene parecia sufocada. Ela se sentia sufocada com muitas coisas, mas nunca teve coragem de lhe dizer. Era como se carregasse um peso nas costas e ignorasse isso por não querer perder tudo.

Passou a mão pelas costas dela e sorriu quando ela se arrepiou de novo, ela o xingaria caso acordasse, mas ele ignorou e prosseguiu com o carinho.

— Você vai continuar colocando essa mão gelada nas minhas costas? – ela resmungou. — O que você quer?

— Que você fique. – ele tirou o cabelo dela da bochecha. — Que a gente não assine o divórcio.

— Já conversamos sobre isso. – ela se remexeu na cama, agarrando o cobertor um pouco mais. — Posso voltar a dormir?

— Se eu falar que não, você vai continuar acordada? – ele a olhou e ela negou. — Então boa noite.

Irene abriu os olhos, sentou-se na cama e agora encarava o marido. Havia algo no cérebro dela que precisava reforçar toda hora que iriam se separar. Era um pouco difícil lembrar disso quando estava na cama com ele fazendo carinho nas suas costas.

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