Capítulo 19- Parte II: Eu espero que hoje dure eternamente

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Pov Ha-Yun

"Ouço o barulho do carro se chocando contra alguém, e ouço meu coração falhar quando me dou conta do que está acontecendo. Sinto os braços do meu noivo me abraçar enquanto o homem é colocado na ambulância. Ouço o barulho das sirenes enquanto o acompanho até o hospital. Estou suando frio.

Eu me vejo entrar em desespero quando me dizem que sou a única cirurgiã disponível no hospital, e me recuso a operá-lo, mas então ouço a voz quase nula do homem na maca me pedindo para salvá-lo: "Me salva, por favor doutora", "Me salva, meu filho, ele... precisa de mim", "Meu filho, eu te amo, diga a ele que eu o amo e tenho orgulho dele"... sinto o peso dessas últimas palavras me atingirem quando o homem é colocado para receber oxigênio. A única coisa que consigo pensar é que não deveria ser eu, não poderia ser eu, mas se eu não entrar, ele morre.

Eu era apenas uma residente. Nunca, em hipótese alguma, eu deveria operar o homem que atropelei. Mas eu, que jurei salvar vidas, por um descuido, por uma simples TC de crânio não solicitada , não o salvei, descumpri com meu juramento e condenei ao sofrimento pessoas que sequer conhecia".

Acordo assustada, peito queimando por falta de ar, coração acelerado e sentindo meu cabelo grudar em minha cabeça com tanto suor. Meus olhos estão molhados pelas lágrimas que chorei enquanto dormia. Eu sempre tenho esse mesmo sonho, hoje em dia com menos frequência, mas ainda assim me apavora quando o tenho. Pego meu celular e vejo que recebi uma mensagem de Jimin.

De: Minie

Yun, mudança de planos! Iremos passar o Natal na casa do Jungkook, em Busan. E sim, você está convidada e não aceitamos um não como resposta.

Eu sinceramente não soube como reagir ao convite e por isso apenas o ignorei pelo tempo que consegui. Dez minutos. Jimin me ligou depois de dez minutos que havia enviado a mensagem.

Noites após noites eu definhei em meu quarto, remoendo aquela noite fatídica. Eu entrei em depressão. Não queria mais ser médica. Afinal, eu falhei na única coisa que jamais poderia ter falhado: salvar a vida do homem que me pediu para salvá-lo. E agora um filho está sem um pai por minha culpa. Eu me sentia despedaçada e incapaz de exercer minha profissão. Nos dias que sucederam àquela maldita noite, todas as vezes que eu fechava os olhos, eu via a imagem do homem morto na minha mesa de cirurgia. Todas as vezes que eu pegava um bisturi, minhas mãos tremiam. Eu pensei em desistir incontáveis vezes e em outros incontáveis momentos, me condenava por ter sido o anjo da morte de alguém.

Levei um ano inteiro para entender que o que aconteceu não poderia ser mudado, e que eu tinha que conviver com a culpa.

Jimin foi fundamental para esse processo, ele esteve ao meu lado todos os dias, e aguentou cada crise de choro, cada despertar no meio da madrugada pelo mesmo sonho. Eu me tornei dependente dele. Jimin era a minha droga, meu vício.

Quando senti que o estava perdendo, eu quis tentar fazê-lo ficar. Eu não agi como louca, tentando forçar a barra, mas eu fui insistente e foi preciso uma conversa franca, daquelas que não tínhamos há anos, porque ele sempre sentia necessidade de pisar em ovos comigo depois do acidente, para me fazer entender que o Jimin noivo não existia há muito tempo. Quando eu pensava que o estava perdendo, nunca pensava que estava perdendo o meu noivo, e sim o meu amigo, e isso me apavorava. Eu não poderia perder a única pessoa que me entendia nesse mundo.

Por isso que nossa conversa foi importante para eu entender que meu amigo jamais sairia do meu lado. Nosso relacionamento de fato já tinha acabado há um bom tempo, eu só tinha medo de admitir isso e acabar perdendo ele por completo. Não poderia perder a amizade de Jimin, nunca. Ele sabia disso e fez questão de mostrar que nada em nossa amizade mudaria, mas que nós não poderíamos continuar forçando uma relação que já não existia mais.

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