Capítulo 5

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Ethan

Estou sentado no meu beliche, aguardando o festival.

Minha roupa de lantejoulas prateadas pinica, mas estou orgulhoso do que fiz. Não é sempre que ponho minhas habilidades de colagem em prática.

— Eu queria tanto participar do teste de resistência também – murmura Sean, cabisbaixo e também incomodado com o tecido de sua roupa. 

— E chorar quando visse a primeira criatura? – Caçoa John, arrumando seu cabelo louro para o lado com um pente.

Sean cora de raiva e John ri maldosamente. 

— John tem razão, Sean – concorda Adam, enquanto lê algo em um caderninho. – É melhor ficar com os outros e só assistir, por enquanto.

Sean me lança um olhar de derrotado e vai para fora.

Olho com raiva para John. Esse cara é simplesmente insuportável, sempre enchendo o saco dos outros. Quase me atrevo a compará-lo com os meninos do meu antigo orfanato, mas me censuro em seguida. Não, isso seria ir longe demais.

Adam fecha o livro em suas mãos, contendo vários papeizinhos de ritual, e diz para irmos.

No andar inferior estão Maribel, Ellie, Lucy, Sean, Lágrima de Jade e Srta. Camélia, todos com roupas brilhantes e enfeitadas. Caminhamos todos pela rua de pedras enquanto o sol desaparece do céu de Nouzay.

Passamos pela praça, onde uma multidão já se forma em direção às montanhas ao norte. Subimos juntos a grande escadaria de pedra rachada. Uma vez no topo, damos com seis pilastras de pedra distribuídas pelo pátio, duas em frente ao templo e as outras quatro nas extremidades do adro. Há barraquinhas de comida por todos os cantos.

Olhando para o santuário, um súbito e estranho lampejo de memória me vem à mente por um momento.

As portas do templo se abrem e a memória se vai tão rápida quanto surgiu. Várias pessoas surgem, usando roupas cheias de detalhes e presas por cintos de corda.

— Ethan – aponta Ellie –, não são aqueles caras que vimos mais cedo?

É verdade. Os três adolescentes que trabalharam conosco na Vila estão lá, vestindo as roupas que enfeitamos. 

Salve, moradores do Jade! – Grita a multidão em uníssono.

Eles acenam para a população. Da porta saem Anny Amber e Luke.

Anny usa um vestido azul cintilante sem detalhes e um arco de prata. Luke, por sua vez, enfeitou sua roupa com laços prateados. Em uma mão, ele segura uma cuia cheia de algo estranho que, julgando sua expressão facial, deduzo que seja álcool.

Por último, surge o que parece ser uma senhora cuja roupagem é composta por panos enormes cobrindo seu corpo e penas vermelhas presas aos seus cabelos cinzas, além de fitas de cetim que cobrem sua face. Está encurvada, apoiada por um enorme remo de madeira.

— Ela que é a tal "suma sacerdotisa" que vocês disseram? – Pergunto, fascinado, para Adam.

Ele faz que sim.

— É a avó da Anny. Ela quem coordena os ritos religiosos. E Maise também é... bem, incrivelmente poderosa. 

Salve, Maise Amber! – Grita a multidão. – Ipi-ye, Yuba Luna!

Parece com uma saudação. Tudo me leva a crer que aquela mulher está, de alguma forma, representando o tal "espírito da Lua." 

A lua já surgiu no céu. Maise, calmamente, anda até o meio do pátio, dançando uma sequência de passos leves, fluidos como a água. Um arrepio forte irradia da base da minha coluna, como se fosse uma presença sobrenatural.

O País das Crianças Perdidas - O Príncipe de ObumbratioOnde histórias criam vida. Descubra agora