Capítulo 10

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Ethan

- É bom sermos discretos. - Sugere Ellie, ao adentrarmos o estabelecimento. - Se estiverem mesmo atrás de nós, não podemos chamar muita atenção.

Não aconteceu muita coisa em nossas últimas 24h de viagem. Viajamos por mais algumas horas e, por causa do tráfego muito lento e problemas com o ônibus, ainda estávamos na estrada quando amanheceu. Agora, nos preparamos para o café da manhã em uma das cidades-satélites de Brasília, após uma noite terrivelmente mal dormida.

Sentamo-nos na mesa mais isolada da lanchonete, com dois vasos de planta na frente.

- Ei, o que são aquelas coisas dentro do vidro? - Sean aponta para coxinhas expostas na estufa sobre o balcão.

- Você não sabe? - Indago, surpreso. - Que triste... Vem que eu te mostro.

Tão logo nos levantamos, somos catados pelas golas das camisetas por Maribel.

- Discrição, estão lembrados? - Fala ela. - Aprendam com a melhor.

Ela desfila até o balcão, debruça-se sobre ele descontraidamente enquanto desconversa com o atendente, fingindo um sotaque francês. E, então, retorna com uma porção de salgados em mãos.

Sean analisa momentaneamente sua coxinha com grande curiosidade e a morde, meio sem jeito.

- Do que essa... coxinha é feita? - Pergunta ele, admirado.

- Não queira saber - dizemos Ellie e eu ao mesmo tempo.

- Ainda prefiro a comida de Nouzay - pontua Maribel, limpando os lábios delicadamente com um guardanapo. - Essa é muito gordurosa.

- E daí? - Retruco. - Quanto mais óleo, melhor.

A tranquilidade de nossa missão só se estendeu até este exato momento, quando a porta do estabelecimento se abre, um odor de tabaco invade o ambiente.

- Oh, espíritos - suspira Maribel.

Um cara de aproximadamente dezoito anos e uns 1,95 de altura adentra a lanchonete. Usa um colete preto e corte militar bem rente, dando a impressão de sua testa ser ligeiramente grande. Um papel com um símbolo engraçado está colado em um dos ombros. O cara carrega no cinto uma clava envolta por arames.

A coisa mais notável nele é, certamente, a venda preta que cobre seus olhos.

Ele grita ao atendente no balcão, pedindo por rum. Como aqui é uma lanchonete e, obviamente, não se vende esse tipo de bebida, o homem bufa, impaciente, e fareja o ar até virar-se para nós.

- Escondam-se. - Alerta Maribel. - Se ele nos achar, saltem pela janela.

- Por quê? - Pergunto. - É uma criatura?

- Pior. - Resmunga John. - Quais são as chances?

- He-Yo! - Grita o rapaz, se aproximando. - Não pensei que toparia com mestiços aqui. - Sua voz é alta e grossa. - Posso me sentar?

Antes mesmo que alguém responda, ele se joga no banco ao meu lado.

- Acreditam que não vendem rum aqui? - Ele nos sussurra esse fato inacreditável.

- Talvez seja porque estamos numa lanchonete, e não em um bar? - Resmunga Maribel.

- Espera. Essa voz... - Ele faz como se farejasse o ar de novo. - E esse cheiro de hidratante. Vocês não são buscadores. Mabel e Sean!

Maribel finge que não foi com ela. Sean nem se mexe.

- E esse cheiro de lavanda... - Continua ele - E essa aura briguenta... Jon-Jon!

O País das Crianças Perdidas - O Príncipe de ObumbratioOnde histórias criam vida. Descubra agora